O projeto político do PT, ao bombardear candidaturas alternativas como a de Ciro Gomes, era fazer destas eleições um plebiscito- obtendo uma vitória consagradora para sua candidata Dilma Rousseff.
Serra- ''paulista demais'', pouco carismático- era o nome ideal para perder, ainda mais diante do desgaste de sua escolha em detrimento do Governador Aécio Neves( sem primárias).
No meio do caminho apareceu a candidatura da Ex-Ministra e Senadora Marina Silva. À frente de uma legenda fraca, sem muitos ''quadros'' políticos, e sem coligações( com um tempo de TV de pouco mais de um minuto), parecia fadada a se tornar mais uma candidata ''nanica''( pouco votada)...
Em uma campanha política marcada pela despolitização e pela onipresença dos Institutos de Pesquisa, Marina chegou a setembro estagnada na faixa de 9%/10% das intenções de voto.
Mesmo assim Marina Silva não esmoreceu...
Continuou sua pregação moderada- reconhecendo os avanços dos Governos Fernando Henrique e Lula, defendendo a discussão de propostas no lugar de uma polarização cega, colocando na arena política temas tradicionalmente relegados a segundo plano pelos políticos tradicionais( o desenvolvimento Sustentável, a proteção do Meio Ambiente- temas do Século XXI).
Diante do ''plebiscito'' que se desenhava entre os candidatos que estavam à frente nas pesquisas, Marina Silva mais parecia uma ''professorinha'' tentanto apartar uma briga entre alunos em plena sala de aula...Confesso que esta postura me incomodou a princípio, em função da origem da Senadora( ex-PT). Parecia que ela não havia assumido seu lado oposicionista.
Neste momento, começaram a ''pipocar'' as várias denúncias: violação do sigilo fiscal dos tucanos e, por fim, o ''caso Erenice''.
Discutia-se se era ou não uma ''armação da imprensa'' para favorecer o PSDB( cheguei a ouvir uma asneira semelhante em uma banca de jornal daqui de São Paulo...).
Nesta hora Marina não pestanejou: exigiu uma ampla investigação sobre estes assuntos. Fortaleceu-se politicamente.
Contra a eleição de ''cartas marcadas'', começava a se esboçar uma nova alternativa.
Muitos decidiram votar em Marina, para romper o ''cercadinho'' em que os dois maiores partidos nos colocaram nestes últimos 16 anos pós-Plano Real. Queriam mudanças, mas sem colocar em risco as conquistas- econômicas e sociais- obtidas neste período.
Naquele momento Marina Silva parecia a muitos, inclusive a mim, uma espécie de ''voto de protesto'': a vitória de Dilma era apregoada como ''certa'' por quase todos os Institutos de Pesquisa, e Serra fora abandonado pela maioria de seus apoiadores...
Com os debates, a candidatura do PV acabou assumindo uma espécie de ''efeito viral''. Na lista dos 10 ''trending topics'' do Twitter, ouvia-se agora inúmeras pessoas( famosas ou não)declarando voto em Marina...
Falamos no post anterior sobre a dificuldade de escolher candidatos do Partido de Marina Silva( o PV), uma agremiação com poucos ''quadros políticos''( apoiadores de renome). Tudo isto só ressalta a importância destes quase 20 milhões de votos da candidata: que vão de tradicionais ecologistas a membros de denominações evangélicas, sem contar os que- indignados diante dos escândalos- queriam dar uma ''lição'' no Governo do PT...
Que se reconheça o papel involuntário do Presidente Lula neste processo: depois de um operário, muitos brasileiros agora reconheciam ser possível a eleição de uma mulher negra para a Presidência do Brasil...
Por outro lado, o Partido que está no Governo começa a sofrer o processo de desgaste que varreu outras legendas: inicialmente fortes nos grandes centros, elas vão progressivamente se tornando os partidos dos ''grotões'' e das regiões em que há o domínio de uma só força política( como o Nordeste). Desgastado, o PT deixou há muito de ser a ''novidade''...Ao contrário: parece ser a continuidade do ''antigo'', das conhecidas práticas de corrupção e cooptação de outros partidos políticos...
Seja qual for o resultado final destas eleições, Marina Silva e sua candidatura mostraram que se esboça no país uma ''Terceira Via'' entre PT e PSDB- que governaram o Brasil nestes últimos 16 anos.
O crescimento meteórico de Marina, já analisado antes por aqui, deu aos brasileiros um inesperado Segundo Turno: a chance de analisar melhor as propostas dos dois candidatos mais votados e, principalmente, as consequências da eleição de cada um deles...
Sobre isto nós nos manifestaremos mais à frente...
Alcnol.
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