Mesmo passados vários dias após assistir o filme ''Inquilinos'', do diretor paranaense Sérgio Bianchi, ainda estou sob o (forte)impacto desta obra.
Muitos críticos se prenderam ao fato de o filme se passar em um bairro da periferia de São Paulo, fato tão comum a outros filmes brasileiros. Mas seria redutor classificar ''Inquilinos'' como um ''Favela- film''.
Vivemos, na verdade, em um mundo repleto de transtornos. Motoristas bêbados, que provocam acidentes o tempo todo ( segundo dados do jornal ''Gazeta do Povo'', de Curitiba, em sua edição de ontem, são cerca de 2 mortos a cada dia...), vizinhos chatos que ora possuem cachorros ou caminham com sapatos de salto alto tarde da noite( fatos tão comuns em condomínios de apartamentos), violência, corrupção, não há um dia em que não sejamos submetidos a este festival de inconveniências. E falo de todos nós, não apenas dos moradores da periferia...
Qual é, então, o diferencial da estória mostrada por Sérgio Bianchi? O diferencial- por tratar do ''mal puro'', da inconveniência praticada por bandidos que se instalam na casa ao lado da de uma família- é o medo...
O protagonista do filme, o ator Marat Descartes( mistura dos nomes de um revolucionário francês e de um filósofo)encarna bem a tensão entre o ódio que sente e o medo de tomar qualquer medida mais dura. Com família para criar, e um emprego na Ceagesp sem carteira assinada, ''Válter'' oscila entre seus sonhos( em que espanca os bandidos sem dó)e o medo de tomar uma medida mais drástica, que o colocaria na linha de frente dos bandidos da casa ao lado...
A inconveniência de viver ao lado de vizinhos arruaceiros- que, lembremos, não é exclusiva de moradores da periferia( que o digam os vizinhos de bares, casas noturnas, aeroportos, entre outros)- acaba transformando a vida da família de ''Válter''. Insones, eles vivem sob tensão.
Mas, ao contrário de certos filmes nacionais em que litros de sangue parecem sair da tela em nossa direção, ''Os Inquilinos'' não mostra cenas de violência explícita. Por isto, paradoxalmente, sentimos ainda mais medo...A música de filmes de terror contribui bastante para isto...
Destaco uma coisa nesta obra magnífica: os bandidos não tem qualquer receio, andam com toda a desenvoltura na tela. Enquanto nós, todos nós que estamos insatisfeitos com alguns dos inconvenientes apontados acima, vivemos como o personagem ''Válter''( sob o comando de sentimentos tão diversos quanto o receio de fazer ou dizer qualquer coisa que revele todo o nosso descontentamento, e o ódio pelo que estão fazendo com este país). ''Inquilinos'', na verdade, somos todos nós...Infelizmente, os fatos apontados nesta obra não se esgotam nas duas horas de apresentação, ao contrário do que ocorre em tantos outros filmes...
Alcnol.
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