A Mostra Internacional de Cinema deste ano acabou servindo como uma espécie de pré-estreia para o filme ''500 dias com ela'', agora finalmente em cartaz no circuito comercial. Não espere mais uma destas comédias de amor, de início interessante e final convencional. Este é um filme inteligente. Seus personagens transcendem estereótipos, visões tradicionalistas sobre o que um homem e uma mulher ''devem'' dizer/fazer...Desde o início é ela quem dá as cartas. Ela- se comportando neste momento como um ''cara'' costuma fazer- diz logo que não está interessada em se envolver romanticamente com ninguém. Que acha este papo de ''amor''/''almas gêmeas'', uma bobagem. Que gostaria de manter uma ''amizade'' com seu colega de serviço. Nesta hora ela se parece bastante com a personagem de Gwyneth Paltrow em ''Amantes'', outro filme norte-americano de estilo ''europeu''( o qual apreciamos bastante também, aliás...). Embora sob a roupagem de uma estória de amor, ''500 Dias com Ela'' é mais um debate sobre visões diferentes de mundo: a atitude ''blasé'', despreocupada, imediatista, alegre, ''carpe diem'' dela e a visão trágica, fatalista, séria dele...Jovens podem se comportar perfeitamente como ''velhos'' ,e vice-versa. Assim como nem todos os homens são ''fortes'' e ''dominantes'' no melhor estilo ''macho alfa'', e nem todas as mulheres são patetas e submissas, limitando-se estreitamente ao que a sociedade espera delas...Em um determinado momento ele pergunta, perplexo: ''Meu Deus! Você só faz mesmo o que quer, não é?''. A despreocupação dela, sua atitude distanciada de rótulos e compromissos, o choca. Para ele, ela é o ''ápice'', o ''ponto mais alto que ele pode atingir''. Ele, diante disto, só quer parar, degustar este raro instante de felicidade em uma vida que lhe parece cruel...Mas a vida é movimento. A vida é dinâmica como a cara de um filme que alterna os melhores e os piores momentos desta instável relação. Os papéis sexuais tradicionais estão invertidos e, ainda melhor, no decorrer do filme as atitudes dos dois também mudam. Ela assume a visão dele de mundo, e diz que ele ''estava certo'', enquanto ele tenta- sem êxito- assumir uma posição mais cínica...O filme mostra ainda um interessante, mas normalmente pouco visível, lado de Los Angeles. Tal como os cineastas brasileiros, que adoram mostrar o pior da nossa realidade, L.A. é tradicionalmente palco de tiroteios em filmes e programas de TV gravados em seus subúrbios. Uma L.A. bela, sofisticada, com ''cara de New York'', é mais uma das surpresas que temos neste filme...Referências musicais excelentes, literatura( o livro ''Arquitetura da Felicidade'', de Alain Botton), arquitetura, arte moderna, é difícil acreditar que estamos diante de um filme ''norte-americano'' típico, sabem? Daquele país em que as pessoas mal disfarçam a sua antipatia com ''intelectuais'', um país que acaba de sair dos longos 8 anos de trevas da ''Dinastia Bush''. Talvez esta nova safra de bons filmes norte-americanos, da qual os dois que citamos neste post são bons exemplos, seja um bom augúrio de uma verdadeira ''Renascença'' no plano das artes, consequência dos novos tempos sob a Presidência de Barack Obama...Ao menos no plano artístico as mudanças parecem ser mais claras...Alcnol.
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