Que fique bem claro, antes de emitirmos os nossos comentários sobre um artigo publicado pelo colunista Marcelo Coelho na Folha de São Paulo desta última quarta-feira, que discordamos das ideias manifestadas pelo mesmo nesta coluna específica. Tão somente. Marcelo Coelho, brilhante articulista, é uma daquelas figuras que nos fazem comprar um jornal inteiro no dia em que seus artigos são publicados( assim como o Jabor, no Estadão ou no Globo de terça-feira, a Cora Rónai no Globo de quinta, o Marcelo Rubens Paiva no Estadão de sábado, Cristovão Tezza na Gazeta do Povo de terça-feira, etc.). Porém, nesta última quarta-feira, publicou uma coluna sob o título ''O bandido é você''( ''Leis repressivas servem como nova forma de legitimação a políticos desmoralizados''), e são justamente as opiniões manifestadas neste artigo que nos levam, a contragosto, a emitir algumas críticas em relação a alguém que , intimamente, admiramos...Vejam que, salvo alguns políticos incuráveis, a preocupação de todos nós- em um momento da mais alta gravidade como o que atravessa o Brasil e suas instituições- é com a melhor forma de salvar o nosso país...Eis o que diz Marcelo Coelho, em seu artigo: ''Encarnando a repressão legítima, cada governante inverte os termos da equação trivial nos dias de hoje. A saber, a de que os políticos são bandidos e os cidadãos são inocentes. Eis que descobrimos, com a Lei Seca e a investida contra os fumantes, que os cidadãos não são inocentes de modo nenhum. São, na verdade, criminosos e assassinos''. E conclui: ''A vontade de legislação- e de fiscais- preenche, desse modo, a falta de ética de todo o sistema político brasileiro. Esperto é o governante que, antes de ser acusado, aponta a acusação de ilegalidade contra os cidadãos- por senso de culpa, os eleitores terminam votando nele''. Nestes comentários de Marcelo Coelho, há todo um modo de raciocinar sobre iniciativas recentes, como a ''Lei Seca'' e a Lei contra o fumo em locais públicos( vigente em São Paulo). Segundo o colunista apontado, regras que ''invertem os termos da equação trivial segundo a qual os políticos são bandidos e os cidadãos inocentes''. O raciocínio de Marcelo Coelho, na verdade, é compartilhado por uma multidão país afora. Parte-se do pressuposto de que, como somos muitas vezes governados por ''bandidos'', estaríamos isentos de qualquer responsabilidade pelo quadro geral de caos imperante neste país...O raciocínio, embora fraco, é simpático, sedutor. ''Primeiro, arrumemos as coisas lá em cima, para depois cobrar algo dos cidadãos honestos que arcam com uma pesada carga tributária...''. Embora sedutor, isto nos conduz verdadeiramente a um impasse: não há nada que indique, agora ou nos próximos anos, uma ''regeneração''/ ''limpeza'' de nossas instituições políticas. O que faremos enquanto isto? As Leis apontadas acima, embora falhas e imperfeitas, indicam um outro caminho. Somos responsáveis sim( ''co-responsáveis'')por todas as mazelas, não só no plano político como no nosso próprio dia-a-dia. Assim como alguém que circula pela capital paulista com um carro desregulado- aspirando em seus próprios pulmões a fumaça negra que emite- ''atiramos em nossos próprios pés'' quando fazemos ''vista grossa'' a inúmeros comportamentos selvagens ao redor, nossos ou de outras pessoas...É intolerável que milhares de pessoas continuem a ser mortas todos os anos graças a uns ''poucos goles a mais'' ingeridos por motoristas nos vários bares que infestam as nossas cidades. O cidadão brasileiro, assim como ''indignado'' com as falcatruas e sujeiras no plano político, também está ''órfão'', ávido por ver as nossas Leis sendo cumpridas. Certamente este não foi o propósito do inteligente colunista em seu artigo, mas simplesmente não dá para- mesmo antevendo inúmeros propósitos obscuros ou mesquinhos por trás disto- criticar os nossos políticos quando eles propõem leis para melhorar este assustador quadro geral de irregularidades e violações à legalidade...A falsa polarização ''nós x eles'' não conduziu, até agora, a nada. Melhoremos ou tentemos melhorar as coisas aqui ''em baixo'', e certamente teremos condições ainda mais fortes de ''cobrar'' algo de quem quer que seja...A ''bandalha'', a ''bagunça'', só favorece aquelas mesmas práticas viciadas que dizemos ''combater''...Ao invés de enxergarmos ''manipulações'' obscuras no cumprimento das Leis, vejamos isto como um educativo passo inicial que, bem-sucedido, pode levar- a médio, longo prazo- a uma virtual melhora de tudo. Cidadãos impecáveis não combinam com políticos corruptos. ''Água e azeite não se misturam''...Alcnol.
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