Desde o almoço da última sexta o plano era finalizar o dia na Praça Roosevelt, assistindo a peça ''O Efeito Urtigão''( do diretor e ator paranaense Mário Bortolotto). Antes de falar especificamente da peça, um parêntese: a Praça Roosevelt é um interessante exemplo de recuperação de área pública sem nenhuma intervenção do Poder Público. O local estava abandonado completamente, entregue à prostituição e ao tráfico de drogas, quando foi ''adotado'' por um grupo de diretores e atores de teatro. Hoje visitar e falar da Roosevelt é ''in'', é estar ''antenado''. Matérias recentes foram publicadas na revista cultural ''Bravo'' e no jornal ''O Estado de São Paulo''. Para quem conhece a capital paulista, e os teatros dos ''Sátyros'', este pequeno post pode soar redundante. Porém, esta foi a minha ''primeira vez'' na Praça Roosevelt. E pretendo falar um pouco do que vi com estes olhos de ''iniciante''...Graças à instalação de vários pequenos bares em frente aos teatros( 5 ou 6, contando com o ''mini teatro'' recém-inaugurado), o local virou uma espécie de ''corredor cultural''. Tem até um pequeno supermercado( coisa impensável tempos atrás...). Outro estabelecimento ''vibrante'' é uma pequena livraria semi-especializada em quadrinhos, onde o dono batia animado papo com os clientes na hora em que passei por ali. Comprei, enquanto esperava pelo início da peça, até um livro de bolso de Balzac( Editora LPM). Polemiza-se em torno de tudo na Praça Roosevelt: se os bares não atrairiam mais público que as peças, se o teatro feito ali não seria ''excessivamente auto-referente''- atraindo mais as pessoas do próprio meio do que público novo, etc. Mesmo ''novato'' neste meio, ouso manifestar minhas próprias opiniões: se os bares são necessários para sustentar o teatro de qualidade que é feito ali, por que não? Na volta para casa, pela Augusta, deparei com inúmeros bares- todos lotados. Por que atores e teatrólogos não podem ter os seus, para financiar suas boas causas? Bares, assim como livrarias, são uma boa forma de passar o tempo enquanto se passa de uma peça para outra( como a estrutura da Praça bem possibilita fazer...). O fato é que, enquanto há anos promete-se a tão aguardada ''revitalização'' da Praça- que continua, como sempre, escura, suja, abandonada às moscas e aos skatistas que faziam suas manobras que ouvíamos à distância quando passamos por ali- pode-se considerar este o primeiro exemplo de uma área pública recuperada( parcialmente mas recuperada- este é o termo mais apropriado)pela cultura, sem um centavo dos diversos níveis de Poder( municipal, estadual, federal, etc.). Afinal, se fôssemos esperar por iniciativas dos governantes, talvez estivéssemos todos mortos a esta hora...A Praça Roosevelt ''fez-se'' por iniciativa da gente do teatro, a Augusta ''bomba'' por iniciativa de empresários que investem em bares e casas noturnas, São Paulo mostra- nestes e em outros lugares- sua incrível capacidade de reconstruir-se. Apesar de tudo...Alcnol. PS: No próximo post falarei especificamente da peça...
2 comentários:
Muito bem comentado. A feudal prefeitura deveria terceirizar a administração do prédio da Praça Roosevelt para um grupo local. Não só a revitalização seria completa, como também seria uma boa fonte de renda (vide os estacionamentos). O espaço sob a praça pentagonal poderia ser ocupado com feiras e barracas, além de espetáculos itinerantes. Em vez disso, a prefeitura fica se perdendo em discussões inuteis e se omite de sua verdadeira finalidade, que é administrar o bem publico. A falada demolição é só mais um esquema de faturamento, sem nenhuma outra intenção a não ser gerar benesses aos agentes.
Ainda bem que os teatrólogos não ficaram esperando as prometidas ações do Poder Público, senão...Também não ficaram esperando patrocinadores. Mário Bortolotto até afirmou em entrevista que ''dá para fazer teatro sem dinheiro''...Ou melhor, com pouquíssimo dinheiro. Isto é verdade, a julgar pela qualidade de ''O Efeito Urtigão''...Quanto à Prefeitura, é possível fazer más administrações mesmo com dinheiro( em caixa)...
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