Escrever ou fotografar? Já me manifestei aqui, algum tempo atrás, em sentido inteiramente contrário ao daqueles blogs que mais parecem álbuns de fotografias. Continuo pensando do mesmo modo. No entanto, em meu próprio blog, empolgado que fiquei com a possibilidade de registrar fotograficamente as minhas múltiplas andanças, acabei ''recheando'' o mesmo com inúmeras imagens- o que valeu o ''fogo amigo'': vai escrever ou fotografar? No fundo o dilema( falso, diga-se de passagem)estaria entre a ''subjetividade'' da escrita e a suposta ''objetividade'' das imagens( conceito simplista que só aqueles que desconhecem o papel das imagens podem compartilhar...). ''Objetividade'', de fato, existiria apenas se fosse possível registrar ''tudo''( todos os lugares, todos os fatos, tudo o que acontece a todos no mundo inteiro, uma verdadeira ''missão impossível''...). Assim como a escrita parte da escolha de um tema, também a fotografia só registra o que nós determinarmos previamente. Ao invés da suposta imagem de ''objetividade'' de que desfrutam, fotografias são extremamente subjetivas. Só retratam o que é importante para seus ''donos''...Fotografar não é, ao contrário do que supõem os radicais defensores da ''pureza'' da escrita, a mesma coisa, feita do mesmo modo por todos os seus crescentes adeptos. Um programa sobre Buenos Aires, da série ''Getaway'' do canal Discovery Travel&Living, dedicou-se a mostrar passeios pela Casa Rosada, por shows de tango, culminando por um dia inteiro em uma estância rural nos arredores da capital argentina( com direito a muito churrasco...). Já estive em Buenos Aires, e não fiz nada disto...Turistas engalfinham-se por espaços em lugares tipicamente ''turísticos'', como a Torre Eiffel, à busca de fotos que eternizem estes momentos. Multidões frenéticas de turistas são vistas em catedrais, feiras de venda de ''lembrancinhas'', e lugares semelhantes. Tem gente que gosta disto? Sim, muita gente. Mas eles não representam todas as pessoas...Há pessoas que visitam São Paulo, ou mesmo residem em São Paulo, que jamais estiveram em alguns dos lugares mostrados aqui neste blog...Como falar em ''objetividade'' se há uma escolha implícita aqui em mostrar aspectos inusitados da cidade, escolha esta que é fruto da iniciativa de quem decidiu mostrar estes aspectos neste blog? Embora nunca tenha declarado isto, admiro bastante a figura do ''flaneur'', este personagem surgido no século XIX. Que divertia-se fazendo passeios ''a esmo''( sem destino)por cidades como Paris, na França. O ''flaneur'' amava as metrópoles, alimentava-se de seu ritmo frenético ímpar. Blogar, para mim, é ''flanar''. Ao contrário de vários blogs profissionais, em que tudo é planejado, calculado, tendo em vista o lucro e o aumento do número de acessos, divirto-me com a exibição de coisas que, vistas em conjunto, acabam revelando- a mim mesmo e aos que quiserem ver- um pouco do que sou...Fotografar quebrou um pouco o abismo entre mim e o mundo, haja vista que agora estou mais atento ao que se passa neste e nos meus arredores mais imediatos- em busca de pequenos registros. Mas, em suma, fotografar não é- como eu disse erroneamente aqui em outro post- uma atividade ''menor'' em relação à grandeza das palavras, da escrita. Fotografar é apenas uma extensão da atividade primária que é enxergar. E enxergar, salvo no que diz respeito à frenética movimentação de nossos olhos em busca dos atributos femininos mais desejáveis durante o nosso caminhar cotidiano, é escolher...Escolhemos o que se passa em nossos mundos, escolhemos o que lembrar, escolhemos o que registrar. Extremamente pessoal e subjetiva esta atividade de fotografar, não é? Alcnol. PS: Claro que escolhemos o que olhar nas mulheres também, mas às vezes somos meio que ''enfeitiçados'' pelo nosso próprio objeto de desejo- e aí não há mais qualquer possibilidade de escolha...
2 comentários:
Daqui a alguns dias você estará largando esses registros com fotografias e fazendo filmetes - essas máquinas fotográficas são terríveis, só faltam falar - e postando filmes de dez, vinte, trinta segundos... E a discussão prosseguirá, com você mesmo, de que a escrita é importante, a fotografia também, mas os filmetes sao registros factuais com o predomínio do movimento, da cor, do som... Em síntese: adeus fotografias e muito mais a escrita!
Por que não? Ou, como diz Jim Carrey em seu último filme, ''Sim Senhor''...Para a idéia dos filmetes, claro, não para as suas conclusões finais. Você parece ser adepto daquelas previsões segundo as quais a TV ''acabaria'' com o rádio, e o cinema com os livros...Não é uma coisa OU outra, e sim uma coisa E outra...
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