Eu estava até pensando em fazer um texto sobre a ''irrelevância'' do eleitor de classe média, ignorado pelos principais candidatos em sua busca frenética pelos votos da periferia...Há quantos anos não se ouve falar de uma eleição decidida pelos eleitores da classe média? Vejam só as eleições deste ano. Acabaram os comícios. Os candidatos, agora, apostam os seus principais recursos na campanha pela televisão, e na contratação de cabos eleitorais para ''fazer a cabeça'' dos eleitores nos bairros periféricos. Eu moro na região da Avenida Paulista, em São Paulo. Salvo um ou outro carro de som isolado, não houve sequer uma carreata que passasse por aqui. Fomos abandonados...Mas, voltando ao tema do post, houve uma época em que os eleitores de maior escolaridade e poder aquisitivo eram capazes- graças à sua indignação e poder de mobilização e convencimento- de decidir um pleito. Isto foi antes da grande nuvem de desencantamento e desilusão que atingiu as pessoas destes setores. Candidatos populistas ignoraram a classe média, em busca dos numerosos votos dos subúrbios inchados das grandes cidades. Vivemos, há pelo menos uns 5 anos, um longo período de despolitização e esvaziamento das eleições... No entanto, e logo na capital fluminense, a segunda maior cidade do país, um candidato tem sido capaz de galvanizar todo o idealismo e o ânimo da velha classe média, tendo chances de ir para o segundo turno. Falamos do candidato ''gente boa''- ecologista, vegetariano, pacifista, que usa motocicletas ou bicicletas para deslocar-se no seu cotidiano, enfim o retrato dos ''baby boomers'' brasileiros- Fernando Gabeira. De acordo com a última pesquisa do ''Datafolha'', Gabeira subiu para 15%- em empate técnico com o bispo, digo, senador Marcello Crivella...Na faixa dos eleitores com nível superior, Gabeira tem 32% dos votos, contra meros 6% do senador. E na camada da população com renda de mais de 10 salários mínimos, Gabeira tem surpreendentes 38% dos votos, contra meros 4% de Crivella...Gabeira tem algo em comum com Obama: ambos são os preferidos dos artistas...Caetano Veloso gravou inclusive um comercial de televisão para a campanha do candidato do PV...Digo tudo isto não com ironia, mas até com um pingo de inveja: o voto mais ''quente'', mais indubitável, mais ''revolucionário''( no sentido cultural...), mais inovador, mais consciente destas eleições só poderá ser dado na cidade do Rio de Janeiro, e em Fernando Gabeira...''Torço'' discretamente pelo seu sucesso à distância, com a certeza de que- caso chegue ao segundo turno- ele pode galvanizar e unir as várias legendas chamadas ''progressistas'' que se pulvenizaram neste pleito. O Rio tem jeito, parece se manifestar um setor expressivo dos eleitores da ''Cidade Maravilhosa''. E resgatar o orgulho de ser carioca, de ser alegre, de ser polêmico mas respeitando todas as diferenças, de resgatar também uma parte do espírito nacional, que se perdeu com a longa e penosa queda da ex-capital da República...Nem só de ''bandas podres''- na polícia ou na política- vive a Capital Fluminense...Bogotá, na Colômbia, está aí como exemplo de uma ''virada'' conduzida por políticos que amam a sua cidade. Quem sabe- e quem diria Bogotá ser hoje um exemplo para toda a América Latina- o Rio desta vez não pegue novamente o ''rumo da história''? Alcnol.
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