O principal fator de sucesso está na mente, na nossa forma de pensar/reagir a cada circunstância que é posta em nosso caminho. Este é o grande mérito do livro ''Por que algumas pessoas fazem sucesso e outras não, de Carol S.Dweck, recém-publicado no Brasil pela Editora Fontanar. Com base em inúmeras pesquisas, e no trabalho com jovens, a autora demonstra que os indivíduos acabam se dividindo em duas grandes formas de pensar: o ''pensamento fixo''- segundo o qual as coisas ''são'' ou ''não são'': ''somos'' talentosos ou não, ''nascemos com o dom'' de fazer uma coisa ou não- e o ''pensamento construtivo'', segundo o qual- através de nossos esforços e contínuo auto-aperfeiçoamento- podemos ''adquirir a capacidade'' de fazer alguma coisa. E como se comportam as pessoas que pensam de cada uma destas formas diante dos desafios da vida? Os de ''pensamento fixo'', que muitas vezes em suas infâncias foram rotulados como ''inteligentes'' ou ''talentosos'', sentem pânico diante da possibilidade de perderem tais ''títulos''. A conseqüência é que, diante de situações problemáticas, eles tendem a colocar a ''culpa'' nos outros( fugindo da responsabilidade)e até mesmo a ''desistir'' de lutar contra os fatos ''inevitáveis''. Em suma, eles não lutam contra tais situações...Como lidam com o fracasso? Segundo Carol S. Dweck, ''não farei nada'', ''ficarei na cama'', ''vou encher a cara'', ''vou comer'', ''vou dar uma bronca em alguém se tiver oportunidade'', ''vou comer chocolate'', ''vou ouvir música e ficar de cara feia'', ''vou entrar no armário e ficar lá dentro'', ''vou arranjar uma briga com alguém'', ''vou chorar'', ''vou quebrar alguma coisa''. Que mais posso fazer?(...)Quando propus a mesma situação a pessoas de código mental construtivo, eis o que responderam: ''Preciso esforçar-me mais na aula e ser mais cuidadoso quando estacionar o carro. E imagino que meu amigo teve um dia difícil'', ''A nota cinco mostra que devo dedicar-me muito mais às aulas, mas ainda tenho o resto do semestre para melhorar a média''. Houve muitas outras respostas como estas, mas acho que você já entendeu. Agora, como estas pessoas enfrentariam o fracasso? Claro que de frente''( páginas 14/15). São raros livros como este, em que o autor coloca a síntese da obra nas primeiras páginas e vai exemplificando a sua tese no decorrer da mesma. Escritores raramente mostram o ''pulo do gato'' em um livro só, ou porque não o descobriram ou porque seria ''pouco lucrativo'' revelar tudo o que sabem de uma só vez... Não é o caso deste livro. Aliás, é um pouco difícil rotular esta obra: a autora é psicóloga, o título parece com o de livros de ''auto-ajuda'', mas ela também faz o estudo de diversos casos ocorridos no mundo dos negócios( como quando compara os executivos Lee Iacocca e Jack Welch, respectivamente exemplos de pensamento fixo e pensamento construtivo...). Indubitavelmente, podemos afirmar que tal leitura- dolorosa mas reveladora- ajudou a revelar um pouco mais sobre nós mesmos. Sobre nossos pontos fracos, em inúmeras áreas da vida...Valeu como uma( ou melhor, várias)sessões de análise. Além de minha própria tendência a pensar de modo ''fixo'', acabei percebendo- nestas Olimpíadas- o quanto as pessoas deste país tendem a pensar de modo semelhante. E com resultados semelhantes...Enquanto Maurren Maggi soube dar a volta por cima, após uma acusação de dopping que poderia ter acabado com sua carreira, inúmeras vezes seguidas vários dos melhores competidores brasileiros- no momento em que disputavam medalhas de ouro- simplesmente curvaram-se diante das dificuldades. Literalmente, ''entregaram o ouro''...Foi o caso das meninas do futebol, de Diego Hipólyto, da seleção de vôlei masculino, etc. etc. etc...Vivemos em um país de pessoas que pensam pela cartilha do código fixo: como as coisas não melhoram automaticamente, nós simplesmente nos omitimos. Entregamos, por desgosto, o destino de nosso país nas mãos daqueles que são os menos motivados e gabaritados para promover qualquer mudança: os políticos. Inúmeras vezes, nós brasileiros fazemos comentários ou agimos movidos por esta estúpida mas influente lógica de ''tudo ou nada''. Divulgamos com todas as letras as nossas imensas mazelas, enquanto os índices de queda na criminalidade em determinados lugares( inclusive neste nosso Estado de São Paulo)são objeto de pequenas notas de rodapé, escondidas e envergonhadas no meio de tantas desgraças...Nosso linguajar ajuda a explicar um pouco mais as coisas: abusamos da voz passiva e de expressões indiretas- ''eles'' não querem, ''somos vítimas'', ''ninguém merece isto''- mostramos o tempo inteiro nas conversas o quanto estamos insatisfeitos, mas não fazemos nada para mudar todo este quadro...Preferimos pensar que o êxito de outras nações é devido ao seu ''dom'', à sua ''habilidade em lidar com situações complicadas'', à ''bondade e educação de seus habitantes'', como se não fosse decorrente de um longo e árduo processo que envolveu até mesmo guerras pelo caminho...O ''código da mente'', o ''código do sucesso''- ou do fracasso- como resultado de uma forma de pensar muito mais em soluções do que nos problemas, este livro promove uma ''revolução'' no nosso modo de ver a vida. Nunca é tarde para abandonar os nossos mal-sucedidos conceitos de ''pensamento fixo'' , e abraçar sem restrições a grande idéia que sintetiza o melhor do pensamento construtivo: ''quanto mais difícil o problema, melhor''...Alguém duvida que vários dos nossos maiores ''gênios'' pensavam deste modo ''construtivo''???
Nenhum comentário:
Postar um comentário