Quando menino, eu era viciado em mar. A ponto de passar horas dentro d'água, sem entender porque todos aqueles adultos se contentavam em apenas ficar na areia- tomando sol/conversando/lendo, etc. Eu nasci longe do mar, no Planalto Central, e por este motivo contava os dias e as horas para, enfim, poder voltar a ''pular'' as ondas, ''pegar jacaré'', construir os meus castelos na areia, caminhar por quilômetros à beira-mar, sem sequer pensar em cansaço. Hoje eu moro não à beira-mar, mas muito mais próximo do mesmo do que jamais em minha vida. Basta um pequeno ''pulo'' de cerca de uma hora- aumentada para pelo menos 5 horas nos feriados- para poder botar os meus pés na areia. No último fim-de-semana o convite apareceu e eu, para minha própria surpresa, rejeitei a idéia com veemência. Mesmo morando em São Paulo, o que para qualquer ser humano ''normal'' já seria pretexto para sonhar com uma mudança de ares, a idéia de passar um fim-de-semana inteiro à beira-mar me pareceu um ''desperdício''. Aqui eu tinha muito mais coisas ''interessantes'' a fazer.Um almoço gostoso aqui, outro filme legal ali, uma passadinha em uma livraria, lanche em um café, jantar em uma boa lanchonete... É, adulto eu estou ''dando as costas'' para o mar. Como todos aqueles adultos que, para meu horror, faziam isto quando eu era menino...Mesmo quando chega o final do ano, e eu faço meus programas à beira-mar, ou quando consigo dar uma ''escapadinha'' para visitar a Cidade Maravilhosa, mesmo lá o mar parece distante, ''inconquistável''. Lá, podendo me esbaldar, mergulhar, passar horas dentro d'água como fazia quando era menino, eu me junto a todos aqueles adultos que passeiam pelo calçadão das praias da Zona Sul. Até mesmo entro por aquelas ruas todas de Ipanema e do Leblon, em busca de outras atrações como Casas de Suco, Livrarias e Restaurantes, e acabo me contentando com a proximidade do mar, com aquele ventinho gostoso que compensa o fato de estarmos em uma cidade onde a temperatura média se aproxima dos 40 graus...No Rio, para surpresa dos meus conhecidos, eu não me queixo de calor...Mas o que estávamos falando é como alguém, que era ''viciado'' em entrar no mar, em tomar banho de mar, acaba virando mais um adulto para o qual o mar é mais uma ''vista'' qualquer- e que vista!- do que uma necessidade visceral. No que se refere ao mar isto é inegável: minha relação hoje em dia é muito mais de ''voyer'' do que de participante ativo...Nestas horas é de se indagar mesmo se toda a nossa ''grandeza''- todos os nossos aparelhos tecnológicos, automóveis, televisores, shopping centers, celulares- se tudo isto não está mesmo nos levando a uma loucura coletiva, a um estado de alucinação generalizado em que pensamos que somos maiores do que as ''pequenas'' coisas da natureza( como o sol, o mar, os pássaros cantando, os rios, etc.). Não somos...Neste último final-de-semana eu pude ir ao mar e não fui. Isto é mais do que uma ''pequena decisão''. Há muito mais implícito neste gesto do que eu possa imaginar. Melhor parar este ''post'' por aqui, porque tudo o mais que eu tentar explicar poderá ser utilizado contra mim mesmo...
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