Como vocês puderam perceber, o tema ''Realidade X Fantasia'' nos interessa. Já foi objeto de diversos posts aqui. Caminhamos a passos largos para a abolição das fronteiras entre as duas coisas, se é que já não chegamos lá...No mundo dos filmes, é cada vez mais difícil distinguir o que é uma coisa ou outra. Vejamos este muito bem produzido, e belo, filme- ''Speed Racer'' - que tivemos o prazer de assistir ontem em meio a uma platéia repleta de crianças. Apesar de contar com atores de carne e osso, alguns de primeira qualidade, temos a clara sensação de que boa parte daquilo foi resultado de trucagens de estúdio. É tudo muito belo, colorido, os carros voam, fazem acrobacias, duelam entre si, parecemos transcender- por instantes- a divisa entre a vida e a morte. Tudo não passa, de fato, de um desenho. Um desenho com personagens de carne e osso. Nos desenhos não há dor. Não há morte- esta fica subentendida. Não se pode sequer acusar o filme de ''abusar dos efeitos especiais''. Há uma estória. Há uma denúncia- por incrível que pareça comum nos filmes de Hollywood- do papel nefasto das corporações. Hollywood criou ''Matrix''( pelas mãos dos mesmos produtores de ''Speed Racer''), criou ''V de Vingança'' ( um inusitado terrorista ''pela liberdade'' que chega mesmo a explodir o Parlamento Britânico). Enfim, o filme/desenho tem idéias, não desagrada os adultos. São as crianças que, nos momentos de diálogos que esclarecem pontos da estória, demonstram um certo aborrecimento( talvez porque eu tenha assistido o mesmo em cópia legendada)e começam a conversar entre si ou com os pais. Isto não dura muito. O filme é repleto de corridas, e muita ação. O que queremos enfatizar aqui é que na cabeça das crianças, e de muitos adultos, a distinção entre ''mundo material'' e ''mundo/fantasia'' é cada vez mais tênue. Não veremos muitos protestos diante desta nova tendência: os atores ''reais'' serão cada vez mais COADJUVANTES nos novos filmes. Não veremos estes protestos, porque poucos estão se dando conta de que a fronteira está sendo transposta...E nem há muito porque protestar mesmo. Estamos todos aprendendo coletivamente, por meio da Internet e dos filmes, que somos muito mais do que os nossos corpos. O MUNDO É MENTAL, É FANTASIA. Fosse ''real'', e haveria uma só forma de lê-lo, compreendê-lo. Perdemos muito tempo em busca disto. Na verdade, a consciência de que os nossos pensamentos são NOSSOS- e não um ''retrato fiel e acabado da realidade''- é o ponto de partida para superarmos todos os dogmatismos e fanatismos. Voltando os nossos olhares para as armadilhas que estão dentro de nós, e que nós mesmos criamos, talvez, enfim, possamos nos dar conta que- COMO SE FAZ COM AS FANTASIAS DE CARNAVAL- somos capazes de trocar as nossas fantasias mentais. Substituí-las ao nosso bel prazer. O processo será mais dolorido quanto mais pensarmos nos acontecimentos como ''reais''. A internet, os meios de comunicação, tudo isto exerce no momento o papel de uma gigantesca caixa de repercussão das ''mazelas'', das ''dores'' globais. Muitos lastimam, choram, reclamam, e há uma gigantesca platéia disposta a escutá-los. Muitos apreciam esta exposição de feridas e horrores ''em praça pública''( hoje esta ''praça'' é a internet...). Prefiro compreender este processo todo. Às vezes uma bela ''fantasia'' como o filme ''Speed Racer'' é capaz de desencadear toda uma reflexão sobre o mundo ''real''. Afinal, tal como o herói da estória- que tenta compreender qual o sentido de correr- nós todos estamos tentando entender o sentido de viver...''Go, Speedy, go!"
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