Este escriba(?!!!)costuma dizer que ''não quer agradar ninguém'', ''que escreve unicamente pela satisfação de seu próprio umbigo'' - estes são os seus lugares-comuns, os seus mantras. Porém, neste ''post'', iremos analisar justamente o lado oposto disto. Chamaremos isto de ''explosão de egos'' ( calma aos mais afoitos: sei que no título eu falo de ''implosão'' de egos...chegaremos lá...). Começo pelo título de uma coluna de Ethevaldo Siqueira no ''Estadão'' de hoje, domingo, 20/4/2008: ''Grande tendência é desmassificar, diz Alvin Toffler''. Alvin Toffler, para quem não sabe, é um veterano ''guru'' do mundo dos negócios, que antecipou fenômenos que ocorreram posteriormente em obras-primas como ''A Terceira Onda'' ( ele fez a previsão do fim da Sociedade Industrial, que acabou se concretizando...)e ''O Choque do Futuro''. Podemos vislumbrar neste processo de ''desmassificação'' apontado por Toffler, possível de ser qualificado igualmente de ''hiper-especialização'', uma era em que, virtualmente, cada cidadão deste planeta, desde que ligado por qualquer modo à grande rede mundial de computadores, estará produzindo algo. O mundo literário é um pouco o exemplo disto. Sabemos que o número de leitores está em declínio, por diversos motivos. Mas nunca se publicou tanto. Salvo alguns fenômenos literários, os ''best sellers'', boa parte dos autores publica mesmo para alguns conhecidos e para raríssimos leitores. É a renda obtida com os mais vendidos que permite que haja, por parte das editoras, uma espécie de ''subsídio'' que permite a publicação daqueles que encalharão nas lojas. A internet permite, graças ao custo zero, ainda mais: que todos sejamos autores- quer o que produzamos tenha alguma qualidade ou não. Vivemos
( desculpe a apropriação do termo, Debord! ) em uma ''Sociedade do Espetáculo'', a materialização da frase do artista Andy Warhol nos anos 60 segundo o qual, no futuro, ''todos fariam sucesso por 15 minutos''. Talvez até por menos tempo...Nos grandes centros há um crescente número de pessoas que, mesmo sem qualquer pendor artístico ou cultural, trabalham exclusivamente e cuidadosamente na produção da própria imagem. Estas pessoas são alvo das atenções dos chamados ''caçadores de tendências'', que buscam usar estas informações comercialmente, na produção de futuros fenômenos de vendas. A produção da imagem está ligada a um jeito ''espetacular'' de ser, que se originou dos meios de comunicação audio-visuais. Resultado: temos menos atenção para ouvir os outros, prestar atenção neles. Mas todos temos fome de atenção, queremos todos uma ''platéia'' cada vez menos provável, uma vez que todos estão igualmente buscando atrair o olhar- dos outros...Isto é o que qualificamos, inicialmente, de ''explosão de egos''. Os egos, multiplicados, estão em campo, á ''caça''. Mas como este processo surgiu? As rebeliões dos jovens, nos anos 60, originaram tudo isto. Eles se voltaram contra estruturas rígidas, massificadas, petrificadas. A palavra-de-ordem no maio de 68, que completa 40 anos mês que vem, era ''é proibido proibir''. As religiões e terapias alternativas, que surgiram ou se fortaleceram naquela época, pregavam o ''fortalecimento do eu''. Com o tempo, estas pregações acabaram se tornando a tônica dominante, reapropriadas pelo próprio sistema. ''Eu'', ''satisfação pessoal'', ''buscar o que é melhor para mim'', tudo isto foi ficando bastante familiar. Passou mesmo a ser defendido por quase todos. Noções de coletivo, socialização, ficaram em segundo plano. Hoje, vivemos o ÁPICE deste processo e, aqui, se coloca o título deste ''post'': estamos à beira de uma virtual e gigantesca ''implosão de egos''. O que seria isto? A indústria musical encontra-se em declínio, e não apenas por causa da pirataria. Apenas na área da chamada ''música eletrônica'', temos centenas de gêneros e sub-gêneros musicais, todos disputando a atenção dos clientes. Os ''blockbusters'' cinematográficos e musicais são cada vez mais raros. Vendendo menos, as gravadoras tem cada vez mais receio de investir no novo. ''Sucessos'' da Internet tem milhões de downloads a custo zero para os ouvintes, e lucro zero para os artistas...Voltando à internet, a busca de um bom ''site'' no meio de milhões de sites irrelevantes é muito custosa. Como em uma loja, quando deparamos com muitos produtos, o resultado do excesso de oferta muitas vezes gerará, por isto falamos em ''implosão de egos'', uma acomodação, o retorno ao conhecido. Todos temos direito de falar o que quisermos nesta grande galáxia que é a internet. Mas a facilidade de acessar o que é conhecido- os ''sites'' de jornalistas e demais personalidades da mídia- pode gerar, ao final deste processo, e por linhas tortas, a mesma massificação que nos gabamos de ter enterrado...''Quem lê tanta notícia?", perguntava Caetano Veloso em uma música. ''Quem lê todos estes sites, todos voltados para o próprio umbigo de seus criadores?", poderíamos nos perguntar. O que é fugaz, e o que durará, não podemos prever. A resposta será dada, como sempre, pelo próprio leitor/consumidor/cidadão. Com todos os excessos que isto causa, ainda é melhor um ego super-fortalecido do que um enfraquecido e manipulável por ditaduras...Mesmo que voltados exclusivamente para os próprios umbigos, lembremo-nos de limpá-los antes de expô-los ao sol e aos olhares alheios...
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