domingo, 26 de abril de 2009

Melhor matéria do fim-de-semana...

Sem dúvida nenhuma outra matéria publicada nos jornais do último fim-de-semana é capaz de superar a ''Tempo, tempo, tempo, tempo''( de autoria de Karla Monteiro), publicada na revista do jornal ''O Globo'' de domingo, 26 de abril. O tema é a Aceleração dos tempos modernos. Entrevistou-se tanto a monja Cohen( budista)quanto o sociólogo polonês Zygmunt Bauman( autor, entre outros, dos livros ''Modernidade Líquida'' e ''Amor Líquido). Reproduzimos aqui, com todo o respeito à autoria da matéria, alguns trechos desta excelente entrevista com Bauman. SOBRE OS JOVENS: ''(...)Esse ritmo é o ritmo do tempo em que habitam, um tempo que abortou o que eu chamaria de tempo livre, o tempo não preenchido com o consumo de imagens, sons, gostos e sensações táteis(...)Nós somos seres que se escoram no que vem de fora. Perdemos a capacidade de nos auto-estimular. Estar sozinho- a liberdade de gastar o tempo com nossos próprios pensamentos, perseguida e sonhada por nossos ancestrais- é identificado hoje com solidão, com abandono, com a sensação de não pertencer. No MySpace, no Facebook ou no Twitter, o ser humano enfim conseguiu abolir a solidão, o olho no olho consigo mesmo''( nosso grifo, página 36). NOVA FASE DE ORGANIZAÇÃO DO TEMPO, NEM CÍCLICA NEM LINEAR: ''(...)uma forma de vivenciar a passagem do tempo que não é nem cíclica nem linear, um tempo sem seta, sem direção, dissipado numa infinidade de momentos, cada um deles episódico, fechado e curto, apenas frouxamente conectado com o momento anterior ou o seguinte, numa sucessão caótica. As oportunidades são imprevisíveis e incontrolájveis. Então a vigilância sem trégua parece imprescindível. Esse tempo da modernidade líquida gera ansiedade e a sensação de ter perdido algo. Não importa o quanto tentamos, nunca estaremos em dia com o que aparentemente nos é oferecido. Vivemos um tempo em que estamos constantemente correndo atrás. O que ninguém sabe é correndo atrás de quê( nosso grifo)''.- O que o senhor apontaria como o epicentro da aceleração que tornou o mundo tão rápido e tão raso ao mesmo tempo? ''- A sociedade pegou a estrada de uma vida orientada somente pelo consumo. O ser humano autossuficiente e satisfeito nas suas necessidades materiais ou espirituais perdeu o jogo para o mercado. Qualquer caminho que satisfaça os desejos e que não esteja ligado a compras e lucros é amaldiçoado. Vivemos o tempo do conecta e desconecta''( página 36 da revista de ''O Globo''). Concluímos com o interessante depoimento do matemático Marcos Cavalcanti, pesquisador da Coppe/UFRJ e integrante do Novo Clube de Paris: ''- Não adianta ter só informação. Um computador manipula melhor do que qualquer ser humano o conhecimento explícito. O que o computador não sabe é se está faltando uma pitada de sal para realçar o doce do bolo. E esse tipo de conhecimento só é gerado com reflexão, concentração, investimento pessoal( nosso grifo), diz Cavalcanti. - Aí entra a questão do tempo. Em vez de correr para não perder nada, o ideal nesse momento é consumir pouca informação e parar para pensar. As pessoas que desenvolverem a capacidade de gerar conhecimento tácito estarão bem no futuro, valorizadas e insubstituíveis. A sociedade da informação está migrando para a sociedade do conhecimento''( nosso grifo, página 32). Sabedoras disto, inúmeras empresas- como o Google- se preocupam menos com o tempo de trabalho de seus funcionários do que com sua produtividade. E não é verdade que temos as melhores idéias quanto estamos relaxados, fazendo alguma outra atividade- como caminhar, correr, fazer amor, cochilar- não relacionada com o ''trabalho'' propriamente dito? Alcnol.

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