quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A Física dos Anjos

O livro interessante, recém-editado pela Aleph, mostra um diálogo entre Matthew Fox- teólogo e ministro da Igreja Episcopal dos Estados Unidos(Comunhão Anglicana)- e Rupert Sheldrake- biólogo, mundialmente famoso por suas teorias dos Campos Mórficos e da Ressonância Mórfica, autor do livro ''A sensação de estar sendo observado''( no qual analisa cientificamente inclusive a telepatia, e a ''comunicação'' entre animais e seus donos...). Os dois debatem, neste livro que analisamos, os textos de 3 religiosos ocidentais que trataram da questão dos anjos: Dionísio, o Areopagita, um monge sírio cujo clássico As Hierarquias Celestiais foi escrito no século VI, Hildegarda de Bingen, madre superiora alemã do século XII, e São Tomás de Aquino, teólogo-filósofo do século XIII. Selecionamos alguns trechos deste inusitado diálogo entre um religioso e um cientista sobre os anjos. SOBRE A INTUIÇÃO: ''São especialistas em intuição, e podem auxiliar nossa intuição. Esse é um dos motivos pelos quais anjos e artistas são tão amigos. Quando olhamos para as maravilhosas imagens de anjos criadas pelos artistas, estamos lidando não apenas com quadros, mas com um relacionamento entre estes dois seres. A intuição é a estrada pela qual os anjos vagam''( Matthew- página 16). PAPEL DO UNIVERSO: ''Isso é muito interessante porque, no século XX, perguntaram a Einstein: 'Qual a pergunta mais importante na vida?' E ele respondeu: 'O universo é um lugar amistoso ou não?' É a mesma pergunta. Eu digo a meus alunos que sempre que nos deparamos com os anjos ao ler a Bíblia devemos pensar em Einstein, porque estamos lidando com a mesma questão. É a maior questão cosmológica. Podemos confiar no cosmo? O cosmo é afável ou não?''( Matthew). A pergunta assume uma importância ainda maior quando pensamos que o Universo não se materializa do mesmo modo para todas as pessoas. Logo, a nossa forma de vê-lo influenciará de modo decisivo nos acontecimentos que atraímos ao longo de nossas existências...POLARIZAÇÃO ''EM CIMA/EM BAIXO''(Rupert): ''Acredito que sim. Mas também acho que existe valor nas imagens ''em cima/abaixo''. Quando olhamos para cima, vemos o céu. Olhar para os céus é muito importante. Acredito que a maioria de nós, no mundo moderno, não olha para cima tanto quanto deveria(nosso grifo). Nosso olhar é fixo na terra e nas coisas da Terra. Quase tudo o que compramos e vendemos vem da terra, assim como o dinheiro com que as compramos ou vendemos. O Céu, o ambiente celestial, a potencialidade sem limites do espaço, a grande variedade de seres celestiais, simplesmente não faz parte do nosso olhar. (Matthew): Efetivamente, estamos olhando para cima ou para fora? Por exemplo, se formos para um lugar alto o suficiente, digamos sobre uma montanha ou desde um avião ou satélite, sabemos que estamos olhando para fora, e é justamente quando o universo se torna vasto. Em outras palavras, só olhamos para fora desta maneira limitada porque nossos olhos não estão no topo da cabeça. É uma restrição anatômica termos de erguer a cabeça para vermos as estrelas. Mas nem sempre é assim. Quando há horizontes- gosto desta palavra, horizontes- olhamos para fora, além da terra. E estou pensando agora sobre aquilo que chamam de grande céu, em Montana, onde realmente sentimos o horizonte lá fora, onde podemos ver o céu apenas olhando para a frente. E me lembro uma vez, em Dakota do Sul, saindo de uma ''tenda do suor''( ritual indígena de purificação), e a Via Láctea estava realmente em chamas: era possível ver todas as estrelas, mas elas passavam como um arco-íris desde a Terra, em um espaço curvo, voltando para a Terra de novo. Mas, como você diz, nas cidades as pessoas são forçadas a olhar para cima mais vezes, porque destruímos o horizonte. De qualquer forma, não deixo de concordar com sua idéia principal , porque é a vastidão do cosmo que estamos perdendo por causa da maneira como olhamos o mundo. (Rupert): Concordo que olhar para fora é uma boa maneira de colocar a questão. E a melhor maneira de olhar para as estrelas é deitando-se no chão( nosso grifo). Assim, podemos olhar sem ter de virar o pescoço, e podemos realmente apreciar o céu. Imagino que os primeiros observadores das estrelas eram pessoas como os pastores, que dormiam a céu aberto''( páginas 40/41). SOBRE A NOSSA VERDADEIRA DIMENSÃO: ''Deixando de lado a idéia de que a alma está no corpo, vamos simplesmente dizer que o corpo está na alma(nosso grifo). A que distância, quão próximos do horizonte nossos campos de alma podem vagar? Em outras palavras, nossos pensamentos, nossas esperanças, nossos sonhos, nossas paixões, nosso conhecimento? De alguma maneira, tudo o que estamos falando está encapsulado em nosso campo de alma. Só podemos falar sobre o que sabemos, ou sobre o que imaginamos que sabemos, e assim nossos campos, ou seja, nossas almas, estão crescendo de várias maneiras, conforme alcançamos os perímetros do universo. Então, podemos dizer que há um despertar do campo humano(nosso grifo). Estamos renunciando á pequenez da alma circunscrita à glândula pineal ou ao córtex cerebral que a Era Moderna dispensou a ela enquanto dinâmica ''encapsuladora'', a consciência de tudo o que podemos saber''( Matthew- página 45). SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS PADRÕES: ''Por que estamos em uma busca por padrões? Talvez seja isto que a mente faz. Ou ela cria padrões ou os descobre. Por qualquer razão, a mente procura padrões(nosso grifo). É interessante a afirmação de Erich Jantsch de que ''Deus é a mente do universo'', e que a mente evolui. Seria o mesmo que dizer que Deus é o padrão do universo, a mente por trás do padrão? Nossa busca por comunhão com o Divino é uma busca por comunhão com o padrão das coisas. Por isto, há uma grande alegria e um grande êxtase em encontrar padrões. Quer os encontremos por meio da ciência, quer por meio da contemplação, os padrões nos encantam. O que é uma peça musical, o que é uma dança? Toda arte não é, de alguma forma, um padrão? Talvez toda a criatividade. O próprio caos, como estamos aprendendo, se diferencia da ordem porque tem um padrão mais sutil( Matthew- página 62). Buscamos padrões, o tempo inteiro. Criamos os nossos próprios padrões. E, como eles são inúmeros e distintos, cada ser neste planeta vai moldando a sua própria existência por meio dos padrões que vai desenhando ou encontrando nas areias do cosmo...PAPEL DA ESCURIDÃO: (trecho da obra de Hildegarda de Bingen- Deus disse...)''É ali onde reinam as trevas, mas essas trevas estão, simultaneamente, a serviço de todas as luzes de minha reputação. Como a luz poderia ser reconhecida senão pela escuridão? E como alguém reconheceria a escuridão senão pela escuridão? E como alguém conheceria a escuridão senão por meio do esplendor radiante de meus servos de luz? Se não fosse assim, então meu poder não seria perfeito; pois nem todos os meus feitos maravilhosos poderiam ser descritos''. ( Rupert): ''(...)A luz é formada por ondas. Um lado é luz; o outro escuridão. E, como Hildegarda diz, a escuridão é necessária para que a luz seja reconhecida. Toda percepção depende do contraste(nosso grifo)''. ( Matthew): ''E fica claro que o Criador fez os quatro pontos, incluindo a escuridão. Mas a escuridão, segundo ela, está a serviço de todas as luzes. Portanto, a escuridão serve à luz, e a luz serve á escuridão(nosso grifo). (...)Na verdade, a escuridão também é um de nossos professores. Os místicos se referem a esse mergulho na escuridão como a via negativa. (...)( Rupert): Presume-se que corresponda à escuridão, à vastidão do espaço. (Matthew): E também à vastidão da região escura da alma, onde você sente que não há chão quando mergulha na dor, no sofrimento e no pesar verdadeiros. O pesar não tem chão nem teto. Ele toca o infinito, como se nunca fosse acabar''(nosso grifo- páginas 145/146/147, trechos selecionados). Percebo, a esta altura, que não selecionei nenhum trecho sobre os inúmeros que falam sobre os anjos. Diante da magnitude e beleza deste profundo diálogo, pouco importa- ao final- se acreditamos ou não na existência dos mesmos...Cada leitor faz a sua leitura particular sobre o que foi dito, e aqui selecionado única e exlusivamente para servir como ''aperitivo'', um convite a lermos esta obra tão original...Selecionei muitos trechos mais, mas é bom ficar por aqui. Meu estômago ronca, os dedos doem, sinto uma imensa vontade de tocar o solo com os meus pés, voltando meus olhos para cima em mais este dia ensolarado na grande metrópole que se gaba de ''nunca parar''...