quarta-feira, 18 de junho de 2008

Encontro com D...

Vocês bem queriam que eu dissesse ''Encontro com Deus'', né? Vão ter de esperar mais um pouquinho para ver que encontro foi este... Na verdade, esta crônica é a junção de 3 possíveis crônicas. Em um primeiro momento- por sinal o tempo está ''ruim'', na minha modesta opinião, faz sol...- eu fui deixar roupas em uma lavanderia próxima. Enquanto estava sendo atendido, uma música de Rita Lee tocava ao fundo, ''Meu Doce Vampiro'': ''(...)sempre reclamando da vida, me ferindo e me curando as feridas(...)''. No mesmo instante entrava na loja uma senhora de idade e, por incrível que pareça, ao invés de reclamar de alguma coisa ela comentou: ''que bom que o inverno está chegando, com o fim daquele calor insuportável''...Eu achei graça do contraste entre o comentário OPORTUNO e SAGAZ desta senhora, referendado pela funcionária da lavanderia que nos atendera, e a letra da música. Mas outras emoções me aguardavam, suficientes para outras duas crônicas independentes. Acho que a letra da música de Rita Lee foi PREMONITÓRIA, e vocês vão ver porque...Decidi almoçar, como faço pelo menos uma vez por semana, em um restaurante de Higienópolis que tem um bufê formidável. Mas é mais que um simples bufê. Tem uma mesa de massas fantástica, no meio do restaurante, onde escolhemos diretamente as massas que queremos comer. Tem combinações como ''pizza com salada'', ou ''salada com grelhados''( frango, peixe, picanha, cordeiro, etc.). Faz parte de uma rede de restaurantes- Ráscal- espalhada por toda a cidade. Pertence ao mesmo grupo do ''Viena''. Enfim, é um senhor restaurante, de muita qualidade e preço mais ou menos acessível( fica entre os mais baratos e os mais caros, em um nível intermediário). Ele fica situado bem na entrada do shopping Higienópolis, com um lado externo que tem uma bela vista de todos que estão passando. Já tirei até uma foto da fachada do shopping, que vocês verão...qualquer dia destes! Faltavam 20 minutos para 1 da tarde. O restaurante ainda estava vazio. Eu fui o primeiro a ocupar uma das mesas da área externa. Comi um prato de saladas e, por incrível que pareça, em meio ao burburinho das pessoas que passavam e daquelas que conversavam em alta voz em um café próximo- Cristallo- eu pude identificar o som de um passarinho. Eu juro! Em meio ao eterno e onipresente ruído paulistano, que cotidianamente deixa a mim e aos demais meio surdos, eu ouvi um passarinho cantando, e ele fazia ''piu, piu, piu'' espaçadamente, e de uma forma que eu jamais havia escutado. Parecia sozinho. O som era baixo, mas suficiente para qualquer um que quisesse ouvir. Então foram se acomodando outras pessoas na área externa. Primeiro um casal de idosos em uma mesa distante. Depois uma senhora em uma mesa mais próxima. De repente, eu começo a ouvir um diálogo mais alto que o normal em uma mesa bem próxima também: ''porque eu disse para o Gushiken isto'', ''porque o Ministério da Pesca aquilo'', ''porque há um grande interesse no exterior pela pesca no Brasil'', ''porque a montadora tal copiou o slogan do meu programa 'No coração do Brasil' ''. Nesta hora a conversa, que eu buscava evitar pensando tratar-se de mais um destes sindicalistas pelegos que circulam como peixes dentro d'água em Brasília e no governo Lula, começou a tomar outro signicado. Juntos os termos ''Band'' e ''No Coração do Brasil'' deram um ''click'' dentro de minha cabeça e eu voltei a cabeça para o lado onde estava sendo emitida a conversa. Lá estava o jornalista José Luís Datena, do programa ''Brasil Urgente'', e equipe. Ainda dei outras duas olhadas para a mesa, a esta altura o centro de minhas preocupações, e não mais as comuns e belas ''mortais'' que passavam pela minha frente na mesa estrategicamente localizada em frente à entrada do shopping ...Pedi um café e a conta e, na hora de assinar a nota, solicitei ao garçom que trouxesse um pedaço de papel. Subitamente, os demais membros da equipe se levantaram em conjunto, deixando o ''Datenão'' só por um minuto. Peguei a caneta com que assinara a nota, o pedaço de papel, e me aproximei em um pulo da mesa vizinha. ''Datenão, eu e meu pai somos seus fãs. Você poderia me dar um autógrafo?''. Muito simpático ele atendeu o meu pedido. Eu ainda comentei: ''Que pena que eu não trouxe o meu celular para documentar este encontro especial''. Ele perguntou qual era o número do meu pai. Sacou um Iphone último tipo, digitou o código de Brasília- 61- e o número que eu havia dado. ''Como vai, seu Alcindo?'', ele saudou quando meu pai atendeu. ''Eu estava aqui, almoçando, quando encontrei o seu filho''. Nesta hora a música de Rita Lee meio que deu o ''fecho'' da coisa toda: ''sempre reclamando da vida, me ferindo e me curando as feridas''. A quem mais se aplicaria a letra de ''Meu doce vampiro''? Duro com quem merece- políticos e bandidos- e extremamente doce com seus fãs e com os desprotegidos da vida. Com um linguajar rude, meio ''peão'', abusando de expressões rudes como ''porra'' e ''cara...'' misturado com o assemelhado ''caramba''. Um homem bem sucedido, competente no que faz, comendo em um lugar bacana, alguém que eu imaginava cercado de seguranças por todos os lados, mas cercado apenas por um pequeno grupo de assessores, e que também tem um pé na chamada ''realidade'', mostrando diariamente as mazelas que este país tanto produz. Que se indigna com aqueles que lucram com a violência, a miséria, e torcem para que as coisas continuem assim. Este cara- o ''Datenão''- é a síntese do Brasil. Eu, como todo mundo, gosto destes caras que ''descem a lenha'' em políticos e autoridades incompetentes. Admiro Diogo Mainardi, que já vi outrora em uma casa de sucos de Ipanema, no Rio. Alguém tem mesmo que ''meter o pau'' nesta corja toda. Mas isto tem um preço, e você deve estar amparado em alguma instituição forte para poder pagá-lo. O preço maior é passar uma existência inteira revirando esta m...toda, sem ver coisa alguma mudar. Já estou cansado disto tudo, ainda que supostamente ''apenas'' no meio de uma vida. Deixo o palco para os bravos ''combatentes'', e volto a prestar atenção em dias frios, passarinhos cantando em meio ao barulho da metrópole e outras ''alienações'' do tipo. A vida continua...PS: Um encontro especial destes, e eu nem para sair com o meu celular para fotografar a coisa toda...Que ''jornalista'' é este??? O dia, na ''pequena'' metrópole onde tudo parece possível, está apenas começando...