segunda-feira, 28 de abril de 2008

''Os caras'',''o cara'', ''cadê o cara?''

Eu peguei resquícios do tempo dos ''caras''. Naquela época, bastava ao treinador reunir a equipe e dar breves instruções. Como artesões da bola, o papel principal cabia aos ''caras''. Pelé era O ''cara'', o maior entre os grandes. Mas que orientação precisava ser dada a Tostão, Paulo César, Rivelino, Gérson? ''Os caras'' sabiam o que estavam fazendo. Debatiam de igual para igual com os treinadores. Davam sugestões, ou aplicavam diretamente as melhores táticas para desnortear os adversários. Foi este futebol que encantou o mundo, dando-nos 3 títulos mundiais. Romário foi ''o cara''. ''O cara'' não tinha papas na língua. Sabia que era o melhor, e chamava a responsabilidade para si. Comprava muitas polêmicas. Chamamos o baixinho de ''o cara'', pois a era ''dos caras'' já havia terminado com a eliminação do time de Telê Santana, uma das melhores seleções brasileiras de todos os tempos, pela Itália, na Copa de 1982...''O cara'' foi convocado a contragosto pelos ''professores'' ( sim, aqui já havia a figura nefasta do ''professor''- melhor até mesmo chamar de ''Professor Pardal'', pelas trapalhadas cometidas por estas figuras ). O ''professor'', ou melhor, ''os professores'' ( Zagallo e Parreira )não queriam convocar ''o cara''. Achavam-no muito independente e desbocado. A nação pediu, exigiu. E ''o cara'' foi chamado para um jogo nas eliminatórias contra o Uruguai, no Maracanã, em 1993. ''O cara'' arrebentou. Deu a vitória para o Brasil, marcando dois gols. Convocado novamente para a Copa de 94, nos deu aquele título com o seu brilhante futebol. Ronaldo Fenômeno começou também como ''o cara''. Mas atenção: não há ''meio cara''. Ou o ''cara'' é ''o cara'', ou não é o cara. Ronaldo deixou de ser ''o cara'' há muito tempo...Hoje, com a ascensão dos ''professores'', não temos sequer ''o cara''. Não temos mais ''caras''. Todos são bons moços, e se escondem atrás da autoridade do ''professor''. Se o ''professor'' enxerga o que está acontecendo, mérito do ''professor''. Se não vê, estes caras ( sem aspas mesmo) que estão jogando atualmente no Brasil e no exterior também não vêem nada. Eles são anulados, ou se anulam voluntariamente. Resultado: o ''professor'' é uma figura em ascensão, ganha tanto quanto os caras. ''Os caras'' sumiram há muito tempo. ''O cara'' é uma figura em extinção. Quem seria candidato a ser ''o cara'' hoje? Quem foi ''o cara'' na última Copa, para enfrentar o último ''cara'' francês- Zidane- que decidiu sózinho aquele jogo? Cacá? Ronaldinho Gaúcho? Com o fim ''dos caras'', e ''do cara'', os jogos comandados pelos ''professores'' estão cada vez mais tediosos. Os times estão nivelados por baixo. Este ano, qual é o time que está arrebentando? Parece que o futebol do Atlético Paranaense acabou ao superar a série invicta do ''Furacão'' de 49. O São Paulo não soube repor jogadores, e agora conta com a eventual inspiração de Adriano- que, por não decidir as partidas mais importantes não pode ser chamado de ''cara''. Valdívia é instável demais para ser ''o cara''. E é chileno, não pode ser convocado para a nossa seleção...Os times do Rio se alternam de tal modo que não pode ser feita sequer uma previsão para o segundo semestre deste ano. Não há grandes equipes, Romário- o último ''cara''- se aposentou, de modo que os torcedores brasileiros se perguntam neste momento: ''cadê o cara?''. Lamento informar que ''os caras'', digo, ''o cara'' acabou...Ficamos, lamentavelmente, com ''o professor''...