quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

O risco exterior, e o risco interior

Nos últimos anos, em todo o planeta, foi intenso o movimento em procura de maior segurança para morar. Houve, sem dúvida, seguindo o modelo norte-americano, uma ''condominização da vida''. Este processo foi favorecido pela conduta dos meios de comunicação de massa, todos pródigos em divulgar catástrofes, crimes escabrosos, etc. Pode-se dizer que, atualmente, há uma ''indústria da segurança'', que se alimenta de todo este clima de terror criado pela mídia. Porém, enquanto as pessoas estão mais preocupadas com traficantes pé-de-chinelo dos morros ou com a ''assustadora'' figura de mendigos e menores de rua- o perigo mais óbvio- elas se descuidam de um perigo muito mais insidioso, sorrateiro, eficiente. O perigo interior da submissão aos próprios meios de comunicação de massa. Pais se preocupam em garantir ''segurança'' para os seus filhos, em condomínios que buscam recriar- ao menos na aparência- a vida das antigas comunidades, onde todos se conheciam. Enquanto isto, os seus mesmos filhos estão submetidos a um ataque implacável da publicidade, dos programas violentos e sexistas. A ''condominização do planeta'' também leva a crimes violentos cometidos pelos jovens que são segregados nestes ambientes de falsa segurança. Numa completa inversão de valores, são estes jovens criados nestas granjas artificiais, sem contato com pessoas diferentes, que saem no mundo buscando purificar tudo que lhes parece ''errado'': empregadas são espancadas por serem confundidas com prostitutas, mendigos são queimados por estes ''filhinhos de papai'' desocupados. O mundo obcecado por segurança é, cada vez mais e paradoxalmente, um mundo inseguro e violento. Como a cidade de São Paulo, onde câmeras e vigias em número crescente não conseguem impedir crimes que, em número crescente, são cometidos por estes mesmos agentes de ''segurança''. O ideal da modernidade, de Baudelaire e dos ''flaneurs'' que passeavam sem rumo pelas nascentes metrópoles foi substituído por uma medievalização do mundo, onde cada um busca o seu castelo, e a visão livre das praias e ruas foi substituída pela visão dos guardas e dos muros. Mas garantir a cada habitante do planeta o seu ''lugar ao sol'', a sua casa ou apartamento na praia e o seu carro próprio é um caminho certo para o caos e para uma cada vez mais próxima aniquilação da espécie humana. Espero estar errado desta vez, a discussão está no ar...