domingo, 20 de abril de 2008

Maçãs suculentas!!!

Aqui em São Paulo há um mercado antigo ( fundado em 1926 )que costuma, ao estilo de outros semelhantes mundo afora, vender o que há de melhor em diversas categorias. Chama-se ''Casa Santa Luzia''. Ele tem no alto um grande vitral, ao estilo dos das igrejas. Com uma imagem, e colorido...Quando o conheci, ficava encantado com a quantidade de doces- nacionais e importados- queijos( idem), pães incríveis de fabricação própria. Eles tem geléia de caqui, para dar um exemplo. Com o tempo, e após levar alguns sustos no próprio bolso graças a algumas empolgações precipitadas, minha própria alimentação foi se modificando, e eu passei a me ater ao essencial: frutas e sucos pela manhã e á noite. Foi neste momento que as peregrinações a este templo da boa gastronomia paulistana- freqüentado inclusive por diversos ''chefs'' de bons restaurantes á procura do que há de melhor- acabaram se restringindo à compra de suco de uva e maçãs provenientes de Santa Catarina. É destas que pretendo falar daqui em diante. São maçãs fuji, com as marcas ''Coopervale'' ( de São Joaquim, na gelada Serra Catarinense ) ou ''Dádiva''. Antes um esclarecimento: nunca fui fã ou apreciador de maçãs. Já provei algumas, inclusive aquelas importadas e cheias de hormônios chamadas ''red'', sem grande empolgação. Um dia, compraram uma destas maçãs e colocaram na geladeira aqui de casa. A curiosidade deu lugar a uma secreta excursão noturna e, após uma dentada, cheguei próximo ao paraíso- ao contrário do que ocorreu com outros ''devoradores de maçãs'' não-autorizados: Adão e Eva...Não sei o preço do quilo de maçãs comuns. Estas especiais, custam a média de R$ 2,00 CADA... Mas, como tudo o que há de melhor, valem cada centavo. As maçãs são tenras, suculentas, úmidas. Como uma pela manhã, ao acordar, junto com o consumo de laranjas e suco de uva. À noite, como outra- que substitui plenamente o jantar. Elas são MAIORES que as maçãs comuns. Tem muito suco. Mas, em um mundo em que achamos uma farmácia por esquina, o preço por comer algo saudável e suculento acaba sendo muito menor do que o de ''remédios'' e sucedâneos consumidos em massa a cada pequeno desconforto...Esta é uma ode a estas maçãs que, por acaso, nunca encontrei sequer nos super-mercados de Florianópolis...Viva São Paulo, um lugar que não ''faz parte'' da nação brasileira: é uma porta aberta ao mundo...Deu vontade de comer uma maçãzinha???

Implosão de egos

Este escriba(?!!!)costuma dizer que ''não quer agradar ninguém'', ''que escreve unicamente pela satisfação de seu próprio umbigo'' - estes são os seus lugares-comuns, os seus mantras. Porém, neste ''post'', iremos analisar justamente o lado oposto disto. Chamaremos isto de ''explosão de egos'' ( calma aos mais afoitos: sei que no título eu falo de ''implosão'' de egos...chegaremos lá...). Começo pelo título de uma coluna de Ethevaldo Siqueira no ''Estadão'' de hoje, domingo, 20/4/2008: ''Grande tendência é desmassificar, diz Alvin Toffler''. Alvin Toffler, para quem não sabe, é um veterano ''guru'' do mundo dos negócios, que antecipou fenômenos que ocorreram posteriormente em obras-primas como ''A Terceira Onda'' ( ele fez a previsão do fim da Sociedade Industrial, que acabou se concretizando...)e ''O Choque do Futuro''. Podemos vislumbrar neste processo de ''desmassificação'' apontado por Toffler, possível de ser qualificado igualmente de ''hiper-especialização'', uma era em que, virtualmente, cada cidadão deste planeta, desde que ligado por qualquer modo à grande rede mundial de computadores, estará produzindo algo. O mundo literário é um pouco o exemplo disto. Sabemos que o número de leitores está em declínio, por diversos motivos. Mas nunca se publicou tanto. Salvo alguns fenômenos literários, os ''best sellers'', boa parte dos autores publica mesmo para alguns conhecidos e para raríssimos leitores. É a renda obtida com os mais vendidos que permite que haja, por parte das editoras, uma espécie de ''subsídio'' que permite a publicação daqueles que encalharão nas lojas. A internet permite, graças ao custo zero, ainda mais: que todos sejamos autores- quer o que produzamos tenha alguma qualidade ou não. Vivemos ( desculpe a apropriação do termo, Debord! ) em uma ''Sociedade do Espetáculo'', a materialização da frase do artista Andy Warhol nos anos 60 segundo o qual, no futuro, ''todos fariam sucesso por 15 minutos''. Talvez até por menos tempo...Nos grandes centros há um crescente número de pessoas que, mesmo sem qualquer pendor artístico ou cultural, trabalham exclusivamente e cuidadosamente na produção da própria imagem. Estas pessoas são alvo das atenções dos chamados ''caçadores de tendências'', que buscam usar estas informações comercialmente, na produção de futuros fenômenos de vendas. A produção da imagem está ligada a um jeito ''espetacular'' de ser, que se originou dos meios de comunicação audio-visuais. Resultado: temos menos atenção para ouvir os outros, prestar atenção neles. Mas todos temos fome de atenção, queremos todos uma ''platéia'' cada vez menos provável, uma vez que todos estão igualmente buscando atrair o olhar- dos outros...Isto é o que qualificamos, inicialmente, de ''explosão de egos''. Os egos, multiplicados, estão em campo, á ''caça''. Mas como este processo surgiu? As rebeliões dos jovens, nos anos 60, originaram tudo isto. Eles se voltaram contra estruturas rígidas, massificadas, petrificadas. A palavra-de-ordem no maio de 68, que completa 40 anos mês que vem, era ''é proibido proibir''. As religiões e terapias alternativas, que surgiram ou se fortaleceram naquela época, pregavam o ''fortalecimento do eu''. Com o tempo, estas pregações acabaram se tornando a tônica dominante, reapropriadas pelo próprio sistema. ''Eu'', ''satisfação pessoal'', ''buscar o que é melhor para mim'', tudo isto foi ficando bastante familiar. Passou mesmo a ser defendido por quase todos. Noções de coletivo, socialização, ficaram em segundo plano. Hoje, vivemos o ÁPICE deste processo e, aqui, se coloca o título deste ''post'': estamos à beira de uma virtual e gigantesca ''implosão de egos''. O que seria isto? A indústria musical encontra-se em declínio, e não apenas por causa da pirataria. Apenas na área da chamada ''música eletrônica'', temos centenas de gêneros e sub-gêneros musicais, todos disputando a atenção dos clientes. Os ''blockbusters'' cinematográficos e musicais são cada vez mais raros. Vendendo menos, as gravadoras tem cada vez mais receio de investir no novo. ''Sucessos'' da Internet tem milhões de downloads a custo zero para os ouvintes, e lucro zero para os artistas...Voltando à internet, a busca de um bom ''site'' no meio de milhões de sites irrelevantes é muito custosa. Como em uma loja, quando deparamos com muitos produtos, o resultado do excesso de oferta muitas vezes gerará, por isto falamos em ''implosão de egos'', uma acomodação, o retorno ao conhecido. Todos temos direito de falar o que quisermos nesta grande galáxia que é a internet. Mas a facilidade de acessar o que é conhecido- os ''sites'' de jornalistas e demais personalidades da mídia- pode gerar, ao final deste processo, e por linhas tortas, a mesma massificação que nos gabamos de ter enterrado...''Quem lê tanta notícia?", perguntava Caetano Veloso em uma música. ''Quem lê todos estes sites, todos voltados para o próprio umbigo de seus criadores?", poderíamos nos perguntar. O que é fugaz, e o que durará, não podemos prever. A resposta será dada, como sempre, pelo próprio leitor/consumidor/cidadão. Com todos os excessos que isto causa, ainda é melhor um ego super-fortalecido do que um enfraquecido e manipulável por ditaduras...Mesmo que voltados exclusivamente para os próprios umbigos, lembremo-nos de limpá-los antes de expô-los ao sol e aos olhares alheios...