segunda-feira, 22 de setembro de 2008

À pé ou de automóvel''?

Hoje é o ''Dia Mundial sem Automóvel''. No mundo inteiro, ativistas partidários dos meios de transporte alternativos farão manifestações. Só não espere grandes adesões na Capital Paulista...As imagens que ilustram este texto, Paulista no cruzamento com a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, foram tiradas em um domingo à tarde...Bom, para marcar o evento a ''Revista da Folha''( que circula com o jornal exclusivamente na Grande São Paulo aos domingos)teve como tema esta semana a reportagem ''Um a menos: as razões que levam cada vez mais moradores de São Paulo a trocar o carro por outro meio de transporte''. Na capa, um morador que, feitas as contas, decidiu optar pela bicicleta. A matéria mostra 4 pessoas que decidiram desfazer-se de seus automóveis, pelos mais variados motivos: alto custo, ''selvageria'' do trânsito, ''menos poluição e mais cidadania''. Por enquanto estas ainda são atitudes isoladas em uma cidade que possui cerca de 6 milhões de automóveis, uma frota descomunal engrossada a cada dia por 800 novos licenciamentos de veículos...Mas o importante é que estão crescendo. Eu tive meu próprio motivo para desfazer-me de meu carro aqui. Quando ia para um destes shopping centers, por exemplo, era comum ficar no mínimo meia-hora procurando uma vaga qualquer. Com isto, fica praticamente inviável programar quaisquer atividades. O filme começa às 4 da tarde. Você chega ''com antecedência'' ao estacionamento 30 minutos antes. Só não sabe quando irá vagar algum lugar por ali. Se tiver ''sorte'', levará ''apenas'' cerca de 20 a 30 minutos de procura. Depois, é correr para as bilheterias- provavelmente também cheias, com uma longa fila de espera- e ver que o filme ''das 4'' já era...Ficar para a sessão seguinte também significa desembolsar mais alguns trocados por todo este tempo na garagem...A outra opção, ir de táxi, é muito mais conveniente e econômica. Dependendo da região e da distância, leva-se de 10 a 15 minutos no final-de-semana. Entramos ''direto'' no shopping, e nos encaminhamos para as bilheterias do cinema, podendo adquirir nossos ingressos ''na frente'' de todas aquelas pessoas que se engalfinham na garagem em busca por uma vaga. Não nos estressamos e, graças ao tempo que sobra, dá até para tomar um cafézinho com toda a tranqüilidade...O que você prefere? A garagem pode sair pelo ''mesmo preço'' que uma corrida de táxi, com uma diferença: você está pagando, ''sem saber'', também pelo IPVA, pelos inúmeros consertos do veículo ou pela simples manutenção, pelo seguro, e pelo combustível que utiliza...Feitas as contas, decidi viver ''sem carro'' na metrópole que mais parece um templo da civilização do automóvel. Ando para cima e para baixo, sem ter de preocupar-me com a segurança de meu ''patrimônio''. Para ir para um local mais distante, sobram o metrô ou os táxis( melhor usá-los no sábado ou no domingo...). Viver sem carro, aqui, é possível. E, para concluir, as belas palavras de uma das pessoas entrevistadas pela Folha de São Paulo: ''Sinto que exerço melhor minha cidadania assim'', resume a atriz e professora Luciana Canton, 36, quando questionada sobre sua decisão de vender o carro, há quase um ano. ''Mas, antes disto, eu era uma patricinha que andava pela cidade com os vidros sempre fechados, com medo'', completa. A decisão foi tomada depois de três anos vivendo em Nova York, uma cidade em que, para estacionar, é preciso desembolsar, em média, US$40 diários( cerca de RS$75). ''Nova York é uma cidade para se andar a pé. Foi lá que 'desbitolei', brinca. ''Hoje estou acostumada a pegar ônibus, metrô ou trem''( detalhe: sua foto foi tirada dentro de um ônibus...). Segundo Luciana, vários amigos alertaram para as possibilidades de violência nas ruas. Para esses, a atriz tem um bom argumento: ''A única vez em que fui assaltada eu estava de carro. E não é o medo que vai me fazer parar de andar pela rua''. A matéria da Folha finaliza informando que na cidade de São Paulo, 80% das fontes poluidoras são compostas por veículos automotores''( ''Revista da Folha'', domingo, 21 de setembro de 2008). Por estes, e muitos outros, motivos, viva o Dia Mundial Sem Automóvel...

''A Era da Conectividade'' é também a era da comunicação deficiente...

Onde quer que estejamos, é possível ver inúmeras pessoas se comunicando. Postando textos em seus blogs, usando seus laptops, ouvindo música em seus Ipod's. Isto é um exemplo da ''Era da Comunicação'' em que vivemos, e é bom. O detalhe( porque é sempre tem de haver um detalhe...!), é que, ao mesmo em que fazem tudo isto, elas também demonstram não estar nem um pouco interessadas no que ocorre ao seu redor, e isto é ruim...Estes lugares públicos como padarias, cafés, etc. foram criados com o propósito de integrar pessoas, possibilitar que elas se comunicassem umas com as outras. É por isto que, em Paris, como podemos ver pelos filmes, os cafés tem todos mesinhas extremamente próximas umas das outras, possibilitando a qualquer um de seus freqüentadores- desde que, pelo menos, não demonstre isto abertamente- escutar as conversas de seus vizinhos e vice-versa...Estes lugares ''apertadinhos'' compensam o seu aparente ''desconforto'' com a virtude maior de propiciarem calor humano...Em suma, ia-se a restaurantes ou cafés para flertar com outras pessoas, e apreciar a paisagem- física ou humana- ao redor. É em função disto que os cafés e restaurantes franceses, quase todos, contam com diversas mesinhas espalhadas nas calçadas possibilitando que, além de ver e sermos vistos pelos demais, possamos também desfrutar dos belos raios de um dia de sol( bom, estou falando isto mais por vocês que, imagino, sejam apreciadores ferrenhos do calor do sol...). A ''era dos gadgets eletrônicos'' está acabando pouco a pouco com tudo isto. Enquanto estamos entretidos com todos os nossos ''aparelhinhos último tipo'', vamos nos desligando do que está ao redor. Nos comunicamos com enorme facilidade com o que está ''longe'', enquanto as relações com os que estão ''perto'' se tornam cada vez mais problemáticas. Toda esta coisa da ''interatividade'', da ''rapidez'', da ''eficiência'', tudo isto está fazendo com que nos tornemos também mais intolerantes uns com os outros, já que, por natureza, somos mais ''lentos'' do que todas estas máquinas...Ontem, ao desembarcar do metrô, vi um garotinho que estava acenando para um ''hippie'' do lado de fora do vagão. Quando passei por ele, olhando-o, ele também acenou alegremente para mim, dando um ''tchauzinho''. Eu retribuí, lembrando que fazia isto do mesmo modo quando tinha a idade dele...O que é que se perdeu neste caminho? Como é que este pequeno gesto de carinho e consideração pelos outros acabou se tornando uma EXCEÇÃO em plena era da ''comunicação'' e da ''interatividade''? Talvez por isto Jesus Cristo tenha dito que, para entrar no ''Reino dos Céus'', teremos de nos tornar puros como as crianças...

Como seria o Brasil se tivesse seguido o caminho europeu?

No início do século XX o Brasil, claramente, queria copiar os europeus em tudo. O centro da cidade era ''chique'', pois as pessoas se esmeravam para andar o mais bem vestidas possível. Tínhamos bondes, cinemas grandiosos com balcões e música ao vivo. As metrópoles, inclusive a nossa Avenida Paulista, eram mais arborizadas e tranqüilas, um convite para longos passeios a pé. O Brasil que sonhava em ser ''europeu'' mandava seus filhos para estudar no Velho Continente, e o francês era a linguagem dominante...Após a Primeira Guerra Mundial este quadro começou a mudar. A participação norte-americana foi decisiva para resolver o conflito em favor do eixo formado por Grã- Bretanha e França. A invenção do automóvel tornou nossos grandes centros um pouco mais agitados. A divisão de poder, no nosso imaginário, entre europeus e norte-americanos durou até bem depois da Segunda Guerra. Até lá, poucas modificações se deram neste idílico quadro descrito no início deste post. Foi então que o Presidente JK teve a ''brilhante'' idéia de incentivar as montadoras de automóvel a se instalar no país. Ganhamos um dos maiores parques industriais de nossa história, com o surgimento desta região que hoje conhecemos como o ABC( Santo André, São Bernardo e São Caetano)Paulista. Ganhamos rodovias, viadutos, e uma série de ítens construídos para viabilizar a ''modernidade''. Mas, em contrapartida, perdemos muito mais: perdemos praticamente toda a vibrante malha ferroviária, então em franca ascensão, assim como os bondes que percorriam todos aqueles grandes centros. Perdemos ao não investir no sistema público de transporte, sobretudo nos metrôs...Ao melhor modelo norte-americano( nada contra este importante país, e sim contra um tipo específico de padrão de vida criado ali e exportado para o mundo inteiro- amparado nos automóveis...), os carros permitiam agora que as pessoas se instalassem longe dos centros das cidades. Surgiu o grande processo de separação dos indivíduos, com os mais abastados indo morar em condomínios privados na periferia das grandes metrópoles. Os centros, próximos de tudo e inclusive dos locais de trabalho dos que foram morar nos arredores das cidades, entraram em decadência. Hoje o modelo de civilização amparado nos automóveis- assim como, diga-se de passagem, o modelo de capitalismo baseado na ''não intervenção do Estado na economia''...- está a mostrar a sua falência. São Paulo é um exemplo disto, que materializa um de seus piores defeitos: leva-se horas para ir de um lado para outro da cidade, muito mais do que levamos nas estradas ou nos aviões, indo para outros lugares...Mas o Brasil ''modernizado'', com sua violência, seus condomínios de luxo e seus engarrafamentos, tem como contraponto ''ilhas de civilização'' que ainda mantém o ''velho'' estilo europeu. São exemplos disto locais como a região de Ipanema/Leblon( no Rio de Janeiro), dos Jardins( em São Paulo), do Batel( em Curitiba), da Savassi( em Belo Horizonte), para citar apenas alguns exemplos que conheço bem e aprecio...E qual é o ''segredo'' destes lugares ''boêmios''? O segredo é que eles não se renderam á verticalização, restringindo a construção de prédios mais altos. Nestes lugares é possível fazer tudo, ou quase tudo, á pé. Nos vários caminhos que percorremos nestas regiões, é possível tomar um ótimo suco em uma casa especializada( tal como em Ipanema), descobrir um novo café interessante recém-inaugurado ou mesmo ''tomar o café da manhã de sábado ou domingo fora de casa'' em uma padaria ou cafeteria, em confortáveis mesinhas instaladas nas calçadas( como no Leblon), assistir um filme em um de seus diversos cinemas de rua de alta qualidade( como em São Paulo, na região da Avenida Paulista) e, sobretudo, desfrutar alguma de suas inúmeras livrarias( como em São Paulo e no Rio de Janeiro), instaladas tanto nas ruas como nos shoppings dos arredores. Sexta passada, voltando do shopping Iguatemi onde estava sendo realizada a Mostra de Cinema Italiano, quando nos aproximávamos da esquina da Alameda Santos com a rua Haddock Lobo foi possível ver um grupo animado de pessoas bem arrumadas andando pela calçada em animada conversação. Detalhe da hora: era quase meia-noite...Pessoas circulando pelas ruas altas horas da noite, com transporte público de qualidade, este é o maior antídoto contra a violência. Bandidos, como se sabe, preferem lugares e ruas vazias para atacar...Meu Brasil preferido( nada contra os Estados Unidos, ressalte-se, que espero conhecer um dia...)é simbolizado por todos estes ''cantinhos europeus'' preservados em meio à crescente polarização de favelas X mansões. No mundinho ''europeizado'' podemos exercitar a nossa liberdade de ir e vir, longe dos muros( fictícios ou reais)que dividem as cidades cada vez mais. Viva o ''Brasil Europeu''! PS: Este modo de vida não é exclusivo da Europa, claro. Li na ''Revista da Folha'' que uma mulher decidiu vender seu carro e passar a andar de ônibus após viver por cerca de 3 anos em...Nova Iorque...

O que é isto???!

Quase no início da Avenida Paulista, nas proximidades do Hospital Santa Catarina, podemos deparar com um prédio em reformas. Embaixo, ao nível da calçada, foram pintadas cerca de 40 imagens, representando os mais variados tipos de pessoas. Pessoas em cadeiras de rodas, casais apaixonados, executivos, executivas, mães com seus bebês, crianças, idosos, Elvis Presley(!), jovens com seus patins.À frente de cada uma destas pinturas, no lugar do rosto, um espelho. Possibilitando a todos nós que ''troquemos de personagem'' conforme queiramos. Podemos assumir uma ''nova personalidade'', eis o convite, mas também há outra interpretação das fascinantes imagens pintadas em plena Avenida Paulista: somos todos um só ser...Quando você olha para o ''outro'' com atenção, podendo colocar-se em seu lugar, percebe toda a artificialidade das ''separações'' que vivemos a criar cotidianamente. O ''outro'', o ''alien''( além de ET, em inglês também tem o sentido de ''estrangeiro''...)é ''apenas'' um outro ser humano, igualzinho a nós nas suas incertezas e medos...Somos todos humanos, com pleno direito à vida e à felicidade, eis o sentido oculto de todas aquelas belas imagens. Quando percebemos isto, quando ''cai a ficha'' deste possível significado certamente previsto pelo autor destes desenhos, não dá para não ficar um pouco emocionado com a visão de mais este ''tesouro da Paulista''...