quinta-feira, 24 de maio de 2012

A importância desta Feira do Livro de Buenos Aires

Esta Feira do Livro de Buenos Aires tem História, e que História...
São 38 anos sucessivos de realização.
Por estes corredores, já passaram nomes como Cortázar e Jorge Luís Borges.
Nos anos da última ditadura argentina, os militares davam uma ''passadinha'' no dia anterior ao da abertura da Feira para tirar as obras ''indesejáveis''...
Significativo isto: nem os militares argentinos, que mataram mais de 20 mil pessoas durante a ditadura( 1976/1982), tiveram coragem de acabar com esta Feira do Livro de Buenos Aires...
A Cultura tem este efeito: ela sobrevive aos desastres provocados no terreno político/econômico...
Só a Cultura é eterna, sobrevivendo aos Césares e Napoleões...
Não tenhamos uma visão meramente utilitária da mesma: ela não nos impede de cometer erros, até mesmo os maiores equívocos.
Trataremos da situação  argentina em outros posts.
Um apressado há de perguntar: ''OK. Eles adoram ler. Isto não os impede de ter os dirigentes políticos que conduziram, e ainda conduzem, o país à difícil situação de hoje. De que serve esta  Cultura toda?''.
Lamentavelmente, os destinos de uma nação- e isto inclui a nossa- são decididos em lugares bem distantes das dependências destes eventos culturais...
Mesmo que se pudesse ouvir os dentes rangendo, e os palavrões que são proferidos nos cafés e nas livrarias da Recoleta e de Palermo quando se fala no atual Governo Argentino, além dos artigos mais críticos que preenchem as folhas dos jornais e revistas, as pessoas que verdadeiramente decidem os destinos de um país latino-americano hoje em dia- as ''massas'' tão aduladas por Governos Totalitários de ''direita'' ou de ''esquerda''- permanecem intocadas e indiferentes a toda esta Maratona Cultural...
Sim, no país que apresenta proporcionalmente o maior número de leitores, o número de não-leitores ainda é bem maior...
Não digo isto para desanimar, e sim para enfatizar o quanto ainda pode ser feito neste terreno...
No nosso mundo tão complexo, Cultura e Barbárie sempre conviveram aos trancos e barrancos.
Barbárie simbolizada não por aqueles que não tem acesso à Cultura, entendendo-se isto como uma limitação passageira/transitória, e sim por aqueles que, muitas vezes oriundos de uma condição social mais privilegiada, nutrem uma desconfiança permanente por todos aqueles sinais de Cultura( jornalistas, escritores, artistas)que, exatamente por isto, mostram-se incapazes de aceitar quaisquer tentativas de implantar um Pensamento Único.
A Cultura tem memória.
Exatamente por isto é tão incômoda para aqueles que, buscando (re)implantar modelos viciados e fracassados no passado, desejam eliminar quaisquer focos de lembrança ou resistência...
Alcnol.

A ''verdadeira'' Feira do Livro de Buenos Aires, enfim...

''Mesmo quando parece que não resta coisa alguma, sempre resta a Cultura''.
Esta frase, em termos aproximados, eu a li nos últimos tempos. Infelizmente, não anotei quem a proferiu...
De qualquer forma, ela se aplica à perfeição no caso desta Feira do Livro de Buenos Aires- realizada em um ano de crise e muitas dificuldades no mundo inteiro, e também no país vizinho...
O que sobraria da Argentina sem a Cultura? Talvez só a lembrança dos intermináveis ''massacres'' que ocorreram na história daquele país, ou as brigas entre gangues rivais de ''barra-bravas'' nos arredores dos estádios de futebol...
Felizmente, há a Cultura...
Assim como o Amor, a Cultura faz com que queiramos ser melhores do que somos. Afinal, o amor à cultura, aos livros, não passa de um derivado do Amor maior( como gênero)...
Nesta Feira do Livro de Buenos Aires- um pavilhão repleto de estandes de editoras e, sobretudo, muitas estórias- não falta o que amar...
Um grande abismo separa-nos dos ''hermanos'' no que diz respeito à Cultura: a Feira do Livro de Buenos Aires é muito mais do que um simples evento anual. Diríamos que ela é um Acontecimento...
Além da ampla cobertura nos jornais, ela é acompanhada de debates e referências nos canais de televisão e nas rádios...
Esta é a Feira ideal: a Feira de um país que, ainda hoje, é apaixonado por livros, pela leitura...
Exatamente por isto, ela não pode ser comparada a todas as outras que havia visto até hoje...
Todas as dúvidas que eu tive antes desta viagem, quando era necessário escolher entre as Feiras do Livro de Buenos Aires e a de Bogotá- realizadas na mesma época(confesso que, pela situação político/econômica dos dois países, eu optaria pela Colômbia...)- se dissiparam quando entrei, finalmente, no pavilhão ''correto'' da Feira do Livro...
Não havia, neste momento, nenhum outro lugar no Planeta Terra onde eu quisesse estar agora...
Como um peixe quando volta á água, este gigantesco Evento Literário deu a este humilde leitor a sensação de estar ''voltando para casa''. Uma ''casa'', digamos, a duas horas e meia de voo da ''casa real''( em Curitiba)...
Este é um efeito real da Cultura: ela nos transporta a lugares distantes e outras épocas onde nunca estivemos presentes ''fisicamente''...
No decorrer desta  série de posts sobre Buenos Aires mostraremos outros lugares. Ruas, praças, restaurantes. Mentalmente, porém, nunca deixarei as dependências desta inesquecível Feira do Livro...
Alcnol.