terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Ações Calculadas

No dia de meu aniversário, estava passeando pelo Conjunto Nacional de Brasília com uma tia. Propus que entrássemos em uma loja Riachuelo. Subitamente, quando entramos na loja, e ao ver que eu me interessara por uma camisa, ela propôs comprar a mesma como presente de aniversário. E aí, um passeio desinteressado passou a ter uma ''finalidade''. A proposta me assustou, e eu não escolhi a camisa que chamou a minha atenção. Propus que olhássemos mais lojas, á procura do presente ''ideal''. Claro que, a partir do momento da proposta, a idéia perdera a sua graça. E eu acabei não escolhendo nada, para a sua decepção. Do mesmo modo, a menor alusão a uma possível publicação dos textos deste blog em um livro me apavora. É gostoso pensar no blog quando tenho alguma idéia. E´gostoso acessar o blog, e escrever dois ou três textos, tendo em mente pessoas conhecidas que possam se interessar por alguma coisa. Mas é de APAVORAR a idéia de começar a medir e calcular o que digo, em razão de uma virtual ''platéia''. O que seria espontâneo vira calculado, e perde a graça, o tom, a leveza. É terrível a função daqueles que vivem de escrever, e dependem do gosto instável da patuléia. É horrível a intenção impossível de que tudo aquilo que escrevamos faça sentido, e agrade sequer a uma pessoa. Pensar que possa haver alguém além de 2 ou 3 amigos lendo isto aqui, é espantoso. Será que sequer este texto faz sentido? O que dirá um monte deles? E porque faria sentido a alguém que não conheço: que misterioso ser faria a conexão entre realidades tão díspares? Tudo que é obrigatório é chato, até o sexo. Ações calculadas tiram o charme dos flertes e, infelizmente, no amor de hoje tudo é precisamente calculado. Enquanto isto, o prazer de digitar algumas letras na tecla de um computador dificilmente se comparará ao prazer que tenho ao ler algum texto escrito por outrem. Sequer imaginei que chegaria até aqui, ou que passaria de 10 pequenas mensagens escritas em um blog. O excesso atribua-se à minha evidente prolixidade e megalomania...

Inferno Astral

Para completar a angústia que antecedeu o aniversário, vários resultados negativos no plano futebolístico: torci para o Fluminense contra o Botafogo, e deu Botafogo. Torci para o Vasco, embora sem muita ênfase, contra o Flamengo. E deu Flamengo. E, de quebra, o São Paulo ainda perdeu para o Marília(?!!!). Do ponto de vista futebolístico, como podem ver, este aniversário foi um desastre. Felizmente a vida é um pouco mais do que o futebol, embora, como todos podem constatar, o futebol sirva perfeitamente para explicar a vida e o mundo...

Aniversário

Por incrível que pareça, ao completar 40 anos não me dei conta da importância do fato- que, na minha infância, era uma data ''decisiva'', na qual eu já teria feito ''n'' coisas, do tipo que as pessoas em geral já realizaram quando chegam a esta idade( casar, ter filhos, ter uma profissão definida, uma cidade definida e escolhida ). Em suma, ''a ficha não caiu''. Só agora, com inacreditáveis 43 anos, parece que todo o peso do acontecimento caiu de vez sobre os meus enfraquecidos ombros: ESTOU VELHO! Não que alguns sinais tenham aparecido somente agora. Na verdade, eles foram se acumulando ao longo dos anos, e um bom observador teria registrado rapidamente o óbvio: a memória cada vez mais falha- recentemente levei longos 5 minutos para lembrar o nome da bela atriz Carolina Dickman- os quilos extras acumulados nos bons restaurantes de São Paulo e cada vez mais difíceis de eliminar, cada vez mais cabelos brancos, uma barriguinha cada vez mais visível, cansaço na hora de subir escadas e ladeiras, um cansaço geral pela existência e pensamentos cada vez mais freqüentes sobre a estupidez e a irreverência dos ''jovens''. É, eu estou definitivamente do ''lado de lá''. Bons os tempos em que eu via com esperança o título de um livro de Artur José Poerner chamado ''O Poder Jovem''. O dia em que os rebeldes do mundo inteiro, a geração pós-68, a minha geração, tomaria o poder para realizar as mudanças nesta ''Era de Aquário''. ''É proibido proibir'', um lema que calou bem fundo naquela época. Hoje estamos todos dispersos, desiludidos, o ''nosso governo''- o governo em que depositávamos todas as esperanças, um governo constituído por diversos membros desta geração de transformadores- enfim, a ''última esperança'' dos 68 da vida pereceu, e já foi tarde. Alguém já disse que ''o Brasil é um túmulo de esperanças''. De fato, mais do que lutar e sonhar por utópicas e sempre adiadas transformações, o cenário atual mais se assemelha ao de uma guerra. E, como sabemos, o mais importante durante uma guerra é sobreviver. A melhor estratégia é a defesa. Defesa, em primeiro lugar, da nossa integridade física e intelectual, ameaçada por todos os lados. O Brasil de hoje não é mais para amadores e ''pollyanas'' e viver, como sabemos os paulistanos, é saber cada vez mais tolerar um universo de pessoas igualmente na defensiva, mal-humoradas, mal-educadas. Viver com o outro, e aparentar ignorar o outro, é este modo de vida típico dos grandes centros que predomina cada vez mais nos nossos tempos hiper-modernos. E neste aniversário, por incrível que pareça, é isto o que mais desejo, e é neste cenário- embora cada vez mais alquebrado fisicamente- que me sinto cada vez mais inserido, ''como um pato na lagoa''. Bom dia a todos!