terça-feira, 8 de julho de 2008

Remédio neles...

Primeiramente, o ''Estadão'' do dia fala sobre uma pesquisa que apontou que cerca de 8% da população mundial sofreria de uma síndrome batizada de ''fracassomania''. A psiquiatra responsável pela pesquisa apontou, para nosso alívio, que há tratamento para a dita ''síndrome''. Felizmente...Mas seriam só estes 8% os portadores da tal síndrome? Que tal incluir a torcida do Fluminense neste rol? E as do Botafogo e do Vasco, eternos vices? Acrescentemos os milhões de candidatos que são reprovados a cada concurso. Os sem-teto que já ocuparam profissões ''respeitáveis'' no nosso meio. A população inteira da África, boa parte da América Latina( a Argentina e a Venezuela, com certeza na frente...). Ah, não esqueçamos dos americanos que tiveram seus bens leiloados por conta da atual crise econômica, e daqueles que perderam seus empregos...E os europeus, eternamente apontados como ''reticentes'' em relação às regras de ''livre mercado''? Sobrariam, nesta macabra lista de ''fracassados crônicos''( da qual não escapa sequer o autor destas linhas), apenas os chineses. Mas nem todos os chineses. Os camponeses também sofrem desta síndrome. Assim como os operários que recebem uma mixaria para fabricar( alguns não recebem nada, pois estão no ''Gulag'' chinês...)os caros tênis e roupas de grife que nós usamos alegremente no Ocidente...Então, só escapariam de verdade os chineses capazes de adquirir as versões originais destes produtos. Não sobra muita gente...Além de remédios para a ''fracassomania'', leio outra nossa alvissareira. Os médicos estão preocupados com o elevadíssimo número de crianças que estão com os níveis de colesterol cada vez maiores. A solução? Remédio neles! Nenhuma palavra sobre as porcarias que estão consumindo, sob o rótulo de ''alimentos''. A bela mamãe oferece um gole de ''água'' para a criancinha em um lugar público. ''Toma mais um pouquinho de água, meu filho'', ela pede. A tal ''água'' leva o singelo nome de H2O, produto com nome de água que possui- pasmem!- adoçantes e conservantes. ..Diante de tudo isto, é de admirar que ainda se fale de remédios como soluções para quaisquer problemas. Os produtos que ingerimos, e cujas complicadas fórmulas dos rótulos não conseguimos entender, mais se assemelham a remédios. Com uma diferença: ao invés de curar, eles matam...Que o digam as CRIANÇAS com elevados níveis de COLESTEROL...

Desagradável...

Não é fácil falar das maiores mazelas do país utilizando a primeira pessoa, sem auto-excluir-nos: ''nós''. Normalmente, e é muito mais cômodo, usamos a terceira pessoa ao fazermos afirmações semelhantes. ''Os outros'' são mal-educados. ''Ninguém'' respeita as leis de trânsito. ''O brasileiro'' é irresponsável. ''As pessoas'' não sabem tratar umas ás outras. Versões na primeira pessoa do plural das mesmas frases sairiam como ''nós somos mal educados'', ''nós não respeitamos as leis de trânsito'', ''nós somos irresponsáveis'', ''nós não sabemos tratar uns aos outros'', ''nós somos lenientes com a corrupção'', e por aí afora, em um rosário infinito de auto-recriminações. Embora mais doloroso, o processo descrito acima é mais efetivo. Ensina-nos que as coisas começam e terminam em nós, e qualquer processo de mudança também parte da nossa pessoa. Nós nos compromissamos, porque somos responsáveis pelas coisas...Cite-me uma grande personalidade da história que não se julgava capaz de transformar as coisas iniciando por sua conduta...Claro que nós nascemos em um meio complexo, ''sui generis''. Pense em um meio de pessoas honestas, incorruptíveis. Qualquer proposta suspeita seria rechaçada ás claras, sem hesitação. Condutas desonestas, caso houvesse aceitação por parte de mais de uma pessoa, teriam de ser feitas por trás dos panos, às escuras, de modo que ninguém tomasse conhecimento. O honesto não tolera o corrupto, e vice-versa. Os dois não se misturam. Como água e azeite...Nós, infelizmente, não vivemos neste mundo de pessoas ''certinhas''. Não temos, ainda, noção do que é interesse público, e, aqui, a noção de uma conduta ''republicana''- impessoal, em prol única e exclusivamente da sociedade- não passa de um sonho...Cometemos, aqui e ali, cotidianamente, pequenos ''pecadilhos'', na ignorância de que todos os nossos gestos acabam se somando nisto- neste grande mar( de quê?)- que é o Brasil de hoje. ''Ah, a corrupção. Que absurdo! Alguém tem de combatê-la, não é verdade?'', brada a nossa metade pública. Enquanto isto, no plano particular, não julgamos que estacionar o nosso carro em fila dupla vai afetar o trânsito, e ainda reclamamos e tentamos dar um ''cafezinho'' para o guarda que, justamente, ameaça multar-nos...Ficar na fila é para os ''trouxas''. ''Bebida e direção não combinam'', repete-se o tempo todo, ''mas eu vou tomar só uma''...O nosso meio não é corrupto. Os corruptos, os grandes corruptos, estes são facilmente identificáveis. Infelizmente, alguns ocupam posições públicas graças ao nosso voto. Ou do voto dos outros, aquelas ''bestas que não sabem votar''. Em quem foi que o senhor/senhora votou mesmo nas últimas eleições? ''Ah, eu não me lembro. Políticos são todos iguais mesmo...''. O que seria INSUPORTÁVEL em um meio de pessoas ''certinhas'', bem-educadas, honestas, torna-se suportável, tem aceitação neste meio frouxo em que vivemos. Não somos corruptos, em nossa grande maioria, repito. Mas não sabemos exigir os nossos direitos. Já que a mania agora é se espelhar nos outros, no que as chamadas ''personalidades'' fazem, maus exemplos é que não faltam. Suportamos, alguém nos suporta, ''é insuportável'', bradamos enquanto tomamos a nossa oitava dose de uísque de uma noite- metafórica- que parece estar só começando. Depois, pegaremos o nosso ''possante'' para voltar para casa. ''Lei Seca''? Isto é para os ''outros''...Aviso: o autor desta crônica, embora falando na primeira pessoa, costuma caminhar pela cidade em que felizmente mora, ou utilizar o transporte público. Os exemplos dados foram meramente ficticios...

O melhor da chamada ''Lei Seca''

O mais importante não é a possibilidade de prisão dos infratores. Mesmo porque é quase consenso que o sistema prisional brasileiro está falido. De nada serviria inchar as nossas cadeias e presídios com milhares de novos infratores da Lei. Sem contar o fato de que os processos são lentos, e o réu conta com tantas regalias que logo está de volta ao convívio social...O melhor é ser esta nova medida baseada, em boa parte, em instrumentos de punição civil. Suspensão da carteira de motorista por 1 ano( achamos que há casos em que a suspensão deveria ser maior...), pagamento de multa de quase mil reais. Veja quanto susto a possibilidade de aplicação destas medidas ''draconianas'' causou...Muito mais do que milhões de apelos publicitários e campanhas educativas...Podemos vislumbrar, idealmente, um sistema de punições semelhantes. Ao contrário do sistema penal- lento, repleto de garantias em contrapartida à possível hipótese de encarceramento, sem possibilidade de transação entre autor da infração e vítima- as punições pecuniárias deveriam ser céleres, com poucos recursos e limitados às estritas hipóteses legais, incidindo em especial sobre os bens dos infratores. Imaginem alguém privado de seu automóvel( ó, quanta maldade!)para pagar honorários advocatícios e os danos causados às vítimas de sua imprudência no trânsito... Imaginemos penas semelhantes aplicadas às inúmeras pequenas infrações cometidas pelos brasileiros no dia-a-dia, tendo um efeito educativo disciplinador muito maior do que milhões de encarceramentos...A grande diferença que temos em relação aos povos do Primeiro Mundo é a parte educacional. Lá, as pessoas sabem que tem uma responsabilidade para com o coletivo. E que, se cometerem desvios, serão duramente punidas por isto. Por enquanto, aqui, se discute se a nova Lei ''vai pegar ou não vai pegar''. A hesitação que temos em relação a uma simples Lei não é uma mera diferença. Representa um Universo de distância do que é minimamente aceitável como comportamento...Leis não curam DESVIOS DE CARÁTER, sabemos. Já possuímos todas as Leis necessárias para transformar este país em um paraíso terrestre. O que não temos são as pessoas habilitadas para fazê-las respeitar, aplicar, e os que se submetam a elas voluntariamente, sem reclamar...