sexta-feira, 11 de abril de 2008

Eterna caçada aos ''culpados''

Diante de qualquer evento da realidade- sejam crimes, acidentes, mesmo separação de marido e mulher- a reação dos brasileiros é sempre a mesma: ''onde está o culpado?''. Despendemos tanta energia e tempo em uma eterna busca dos chamados ''culpados'', a tal ponto que é necessário indagar: o que é mesmo a tal da ''culpa''? A chamada ''culpa'' é uma noção de origem religiosa. A culpa pressupõe uma ''natureza'' instintiva e reiteradamente dedicada ao ''mal''. Os ''culpados'', na visão religiosa, são os ''discípulos de Satanás'', os ''perversos'', o contrário do ''bem''. Em função disto, o tratamento jurídico dado aos ''maléficos'' não era nada suave: castigos corporais, suplícios, desmembramento de corpos e até mesmo a pena capital. As leis mudaram, o mundo evoluiu, mas persiste no interior de todos nós a visão de um ''mal'', que deve ser erradicado. O interessante é que o ''mal'' é sempre o ''outro''. Não é uma qualificação que possa ser aplicada a nós mesmos, sequer parcialmente. A vã busca aos ''culpados'' significa, no fundo, que nós não somos responsáveis pelo que está acontecendo. Esta é uma visão enfraquecedora. Em cada brasileiro- seja doméstica, taxista, porteiro, juiz, jogador de futebol- há um crítico, com propostas para mudar o que está ''errado''. Caçamos os ''culpados'', e estes tem diversos nomes: ''os políticos'', ''empresários gananciosos'', ''o sistema'', até mesmo ''o imperialismo norte-americano''. E nós, o que temos a ver com isto? Acaso as coisas se dão em um terreno idílico, distante da nossa realidade? No fundo, os que caçam os ''culpados'' se reconhecem impotentes, fracos. ''O que nós podemos fazer?", eles se perguntam atônitos ao final do diálogo. Mas o que poderíamos fazer, de fato, já foi feito. Os políticos não foram colocados lá por uma força alienígena, e sim com os nossos votos. E não mudaremos um milímetro toda uma estrutura que parece ''errada'' enquanto não assumirmos o nosso papel na construção do que está aí. Autoridades também parecem gostar da tal ''caça aos culpados''. Afinal, identificado UM culpado, elas podem perfeitamente EXIMIR-SE de responsabilidade pelos fatos ocorridos...Somos um país à busca de ''culpados'', em que todos somos coitadinhos e irresponsáveis pelo que ocorre. Ou, como é perfeitamente possível concluir, SOMOS TODOS CULPADOS...Alguém tem uma idéia melhor???

Onde se situam as limitações humanas

Se pudéssemos ver, de verdade, um ser humano- como ele é, de fato- poderíamos vê-lo debatendo-se entre fios invisíveis. Para ele, tais fios são ''reais''. São, em realidade, constituídos da matéria de seus pensamentos. Não há limites para o que um ser humano possa fazer. Mas, onde quer que estejamos, até mesmo em uma roda de bar, sempre uns se colocam como os ''líderes'' e os demais como ''comandados''. Nas salas de aula, não há lugares marcados. Mas os alunos sempre se situam nos mesmos lugares, e ai de quem ousar ''invadir'' um lugar ''alheio''...Mas, voltando às energias que pairam sobre as mentes humanas, a pessoa em tese- que poderia ser eu ou você/s- gasta boa parte da existência debatendo-se com os tais ''fios'' que a estariam prendendo. De fora, externamente, não podemos ver fio algum. Mas ELA os enxerga, e tenta freneticamente desprender-se deles pela força, com reza, promessas, etc. Na cabeça dela, e de muitos de nós, a Divindade poderia ser ''comprada'' com agrados, promessas, oferendas. Isto não é muito diferente da visão dos chamados povos ''primitivos'', não? Mas que ''fios'' são estes que só a pessoa pode ver? Por que nós não os vemos? Não os vemos porque não há limite algum. Não há fio algum. Nada a impede de conseguir o que quiser, EXCETO os seus próprios pensamentos ( que não são apenas dela, mas os de seus amigos, antepassados, as idéias predominantes na sociedade ). O irônico é que, no caso em exame, nós conseguimos ver que não há fio algum. Porque estamos vendo de fora. O mais complicado é que alguém que NOS veja de fora constatará facilmente que estamos lutando á tôa. Não há fio algum nos prendendo. Mas, para nós, aqueles fios são como cordas, ou algemas de metal...E a coisa se prolonga infinitamente. Veremos a pessoa que nos enxerga e analisa, e veremos que não há fio algum prendendo-a. Mas, PARA ELA...