sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Leituras

Não é o propósito deste Blog fazer citações muito extensas, mesmo porque é muito trabalhoso ficar segurando livros no colo enquanto digito. E também porque o propósito do Blog é ser um canal de expressão da minha escrita, e não da dos outros. Mas há leituras que fazemos que são especiais, significativas a ponto de, como neste caso, abrirmos mão da nossa própria voz para dar lugar á voz de outrem, porque esta é muito relevante. As citações abaixo, que falam por si só, são do livro ''À maneira de Sócrates'', de Ronald Gross: - Do discurso final de Sócrates: ''Eu sou a mosca enviada pelos deuses para picar vocês, atenienses. Nosso Estado, meus amigos, é como um imenso corcel- forte e impressionante, mas preguiçoso e obtuso. Sem a constante provocação das moscas, haveria de tornar-se ainda mais inconsciente e inapto. Ao longo dos últimos trinta anos, não tenho poupado ninguém nem coisa alguma, inclusive a mim próprio. Dediquei toda a minha vida a prestar este serviço a minha cidade. Deixei de lado as coisas que a maioria dos homens considera importantes, como a riqueza, o poder militar, os cargos políticos. Enquanto viver, nunca deixarei de mostrar como são realmente as coisas em Atenas. Meu princípio tem sido invariavelmente o de que revelar a verdade não pode ser prejudicial. Acredito que falar a verdade só pode prejudicar o que é falso entre os trabalhadores, os empresários, os sofistas, os estadistas e os deuses. O ar que se respira em uma democracia só é saudável quando toda proposta e todo projeto está constantemente sendo submetido á investigação, mesmo nas próprias bases de nossa maneira de viver". A necessidade que todo grupo, toda sociedade tem de ter as suas ''moscas'' foi bem exemplificada pela escritora Marian Wright Edelman, em seu livro ''A medida de nosso sucesso'': - ''Não fique imaginando que você precisa fazer muito barulho para contribuir de alguma maneira. Meu modelo pessoal, Sojourney Truth( verdade, em inglês), uma mulher escrava, não sabia ler nem escrever, mas tampouco era capaz de tolerar a escravidão e o tratamento das mulheres como cidadãs de segunda classe. Certa vez, quando fazia um discurso contra a escravidão, ela foi interpelada por um velho. ''Minha senhora. Está pensando que a sua conversa sobre escravidão serve para alguma coisa? Seu discurso é tão importante para mim quanto a mordida de uma pulga''. ''Pode ser, devolveu Sojourney Truth, mas se Deus quiser vou fazer com que o senhor não pare de se coçar''. A citação seguinte é do filósofo Alain de Botton, que conta como teve sua revelação em um dia muito frio de inverno, quando percorria uma galeria deserta do Museu Metropolitano de Arte, de Nova York. Estava em frente do quadro ''A morte de Sócrates'', de Jacques-Louis David: ''Se a pintura me causou tão forte efeito, foi talvez porque o comportamento de que dava conta contrastava tanto com o meu. Em qualquer conversa, minha prioridade era sempre ser apreciado, e não dizer a verdade. O desejo de agradar me fazia rir de piadas nem tão engraçadas, como um pai de aluno na noite de estréia de uma peça da escola. Com estranhos, eu assumia a atitude servil de um porteiro diante de clientes ricos de um hotel- um entusiasmo daqueles de fazer salivar, provocado por um desejo mórbido e indiscriminado de afeto. Eu não duvidava em público de idéias abraçadas pela maioria(...)Mas Sócrates não se dobrara diante da impopularidade(...)Ele não renegara suas idéias porque os outros estavam insatisfeitos(...)Semelhante independência de espírito foi para mim uma revelação e um estímulo. Era algo que podia servir de contrapeso à tendência indolente para seguir práticas e idéias socialmente aceitas''.Em seguida, o autor do livro sobre Sócrates que estamos mencionando cita um chamado ''Projeto Girafa'', cujo lema é ''Estique o pescoço para fora''. E dá dois bons exemplos de pessoas que seguiram este conselho, custasse o que custasse: ''O veterano inspetor William Lehman, da USDA, que já chegou a impedir a entrada de 80% da carne canadense que chega a seu posto de inspeção alfandegária na fronteira, por cheirar mal e conter fragmentos de ossos, fragmentos metálicos, coágulos sangüíneos, pus e abscessos. Pressionado pela USDA a deixar passar mais carregamentos canadenses, ele fez pé firme em nome da verdade. Mesmo ameaçado fisicamente, caluniado por funcionários canadenses e punido em seu departamento, ele não só persistiu como ''dobrou a aposta'', pressionando por uma auditoria por parte da GAO e falando aos meios de comunicação''. Buscar a verdade, custe o que custar. Investigar a fundo sobre esta verdade, questionar-se, questionar verdades estabelecidas. O método socrático ainda hoje cala fundo em todas as pessoas que procuram pensar e agir com qualidade. O livro de Ronald Gross é excelente, e pode ser lido de uma só vez- bem como devorado aos poucos, como se faz com as melhores iguarias...

Obama, uma ressalva

O que mais nos incomoda na chamada ''Onda Obama'' é que as pessoas não conhecem as suas propostas. Simpatizam com ele PELO QUE ELE É- descendente de negros. E já manifestei meu desconforto por esta espécie de racismo às avessas ( imaginem se alguém manifestasse apoio a outro candidato por ele ser branco???!). Agora, a candidatura Obama tem atraído muita gente que normalmente permanece afastada do sistema eleitoral, e este é um fato positivo. Tem sido apoiada por ativistas e jovens progressistas, e este também é um fato muito bom. E agora, descubro que- de todas as propostas em relação ao meio ambiente- a de Obama é uma das mais radicais: ele propõe um corte de 80% nas emissões de carbono, até 2050. Isto é muito bom para o planeta, sem contar a possibilidade de, enfim, os norte-americanos se engajarem nesta luta planetária pela sobrevivência. Um livro recente que li sobre o Aquecimento Global, diz que, apenas para conservarmos o equilíbrio do planeta nos níveis atuais, teremos de cortar as emissões de carbono em 70% até 2050 e que, na melhor das hipóteses, isto possibilitaria que, por volta de 2150, o sistema voltasse ao seu estado normal. O que nos dá uma dimensão da IMPORTÂNCIA deste assunto, uma vez que é a VIDA das futuras gerações que está em jogo. Agora, paradoxalmente, é o aquecimento que bagunça todas as estações, fazendo com que o nosso verão paulistano tenha cara de inverno( para o meu deleite, diga-se de passagem...).

Almoço na Tailândia durante o Carnaval

Esta também é uma mensagem comemorativa, por se tratar do texto número 50. Estamos rompendo uma barreira psicológica. Escrever já se tornou uma necessidade, não importando que seja- aparentemente- para as paredes...O tempo passa rápido, uma nova Mônica está nas páginas da Playboy- Mônica Carvalho- e nós ainda não fechamos as crônicas de Carnaval. Na última terça-feira, último dia de Carnaval na maior parte do Brasil, exceto na Bahia, tínhamos dois restaurantes em mira. Mas, por um destes eventos do acaso, e logo na cidade que não para, os dois estavam fechados. Motivo suficiente para experimentarmos uma opção que estava há um bom tempo na manga do casaco: um restaurante tailandês...O restaurante tem dois andares, e é semelhante a um templo budista. No térreo um bar, e uma fonte jorrando água com um som semelhante ao da chuva ( BEM forte! ). Fomos recebidos por um sujeito vestido à moda tailandesa, com sotaque estrangeiro. Ele até cumprimenta à moda oriental, baixando a cabeça.Subindo as escadas, chegamos ao salão principal. Junto á comida- a la carte ou bufê- um pequeno lago. Dentro dos banheiros, água jorrando nas paredes, portas de madeira, luz baixa. A sensação é que estamos em outro país. A clientela, quando chegamos, era constituída apenas por orientais, não se sabe se estrangeiros ou nisseis. Depois chegaram mais ocidentais...Já em relação á comida, eles tem uma salada convencional, junto com pequenos bolos e pastéis. No prato principal, versões de todas as carnes- de porco, de vaca, etc.- e peixe. Coloquei um pouco de cada coisa, e o resultado é muito bom.Na sobremesa também se mistura um pouco de cada coisa. Lá dentro o ambiente é tão diferente e exótico que temos impressão de estar chovendo fora, pelo som da fonte do térreo, e de que o dia já morreu. Isto me lembra de que aqui em São Paulo- no Bistrô Charlô- já estão realizando almoços no estilo de um restaurante estrangeiro, em que as pessoas são VENDADAS para que se concentrem apenas nas sensações, e não na parte visual. Também é cada vez mais ver pessoas que se concentram exclusivamente nas entradas- bem diversificadas em diversos locais- e acabam não pedindo o prato principal, indo diretamente para a sobremesa. Preocupação com a silhueta? Gosto pelo exótico? Ou porque as entradas, em si, podem substituir perfeitamente a refeição principal? O fato é que a culinária mundial já não é a mesma, e São Paulo segue de perto todas estas tendências...