terça-feira, 22 de julho de 2008

Perdas e Ganhos...

Tudo na vida tem um preço. Diz o ditado que ''não se pode fazer uma omelete sem quebrar os ovos''. Os números se contrapõem: de um lado 63% a menos de mortes em acidentes de trânsito; do outro, 30% a menos de consumo de bebidas alcoólicas em bares e restaurantes. ''A bebidinha ou a vida'', parece ser esta a dolorosa escolha. E é...Um documentário sobre a ''indústria da falsificação'' na China, mostrado no canal GNT da Net, informa que cerca de 85%(...)do crescimento daquele país é devido à prática comum( e ILEGAL, CRIMINOSA, diga-se de passagem...)da falsificação, da cópia de produtos legítimos. Uma estória macabra recheia o programa recheado de informações: um sujeito foi visitar uma fábrica chinesa. Viu diversas crianças em um ambiente, e ficou encantado porque o estabelecimento tinha uma ''creche''. Então descobriu, para seu e nosso horror, que não havia creche. AS CRIANÇAS ERAM OS OPERÁRIOS...Se este é o preço a pagar para termos produtos ''baratinhos'', este preço eu não quero pagar...Ah, mas isto vai prejudicar a indústria chinesa, alguém diria. Do mesmo modo como as práticas daquele país estão destruindo diversas indústrias ocidentais legítimas, que não empregam crianças de 9 anos...Tudo tem um preço, parece ser a conclusão. Vejamos a proposta dos democratas de retirar as tropas norte-americanas do Iraque( diga-se que no longinqüo prazo de 16 meses...). Menos conflitos armados prejudicarão a indústria de armamentos norte-americana, certo? Toda ação, nos dias de hoje mais do que nunca, implica em uma escolha. Toda escolha é, no fundo, estimular uma coisa em detrimento de outra. Como diz a música, ''TODA ESCOLHA É UMA RENÚNCIA''...Será que não conseguiremos sobreviver fabricando outras coisas ao invés de armamentos? Combater a indústria de cigarros, como assistimos nos últimos tempos, significa ''prejudicar'', indiretamente, os trabalhadores que fabricam cigarros. Não tem outro jeito. E os nossos bifes? Estamos conscientes de que a Amazônia, patrimônio da humanidade, é a ''última fronteira'' para pecuaristas e plantadores de soja. Aliás, a atividade ''lícita'' destes dois grupos está profundamente conectada: produtores de soja plantam um produto que é pouco consumido pelos brasileiros e que, quase certamente, servirá para a alimentação dos animais que são consumidos mundo afora. Boa parte do desmatamento da Amazônia está ligada à necessidade, lucrativa mas suicida, que estes dois grupos tem de novas terras. Há MUNICÍPIOS INTEIROS da Amazônia ligados ao desmatamento ilegal. Uma intervenção da Polícia foi alvo de protestos por parte da população de um destes municípios. Com quem ficaremos: do lado da vida, não muito popular entre aqueles trabalhadores, ou da indústria da morte? Hoje em dia somos forçados a fazer cotidianamente esta espécie de escolha. Algo muito mais difícil do que a agradável opção entre as marcas que enchem as prateleiras dos shoppings...

''Neo-Batman'' ou o ''Batman do século XXI''...

O ''meu'' Batman, o Batman que marcou a minha infância, era aquele da série que mais parecia uma comédia. Com todos aqueles sons na hora das lutas: ''Pow'', ''Pah'', ''Pum''! Naquela época o homem morcego dirigia um veículo semelhante a uma versão adaptada dos carros da época. Muitas vezes ele andava no Batmóvel com os VIDROS ABERTOS, vejam só quanta audácia! O milionário ''Bruce Wayne'' tinha uma ''Batcaverna'' distante, ao lado de sua mansão. Na hora da ação descia por uma barra semelhante àquela dos bombeiros, e corria para o Batmóvel...''Bárbara Gordon'' não era a mulher do comissário Gordon, como no novo Batman- O Cavaleiro das Trevas. A personagem era a FILHA do comissário, uma tímida e meiga bibliotecária de óculos que, nas horas vagas, também combatia o crime na versão sexy da mascarada ''Batgirl''. Do lado do crime, nossas mentes eram colonizadas pela inesquecível ''Mulher Gato''( ah, Mulher Gato dos sonhos da nossa infância...!), ainda mais sexy e, melhor, sem escrúpulos! A fêmea fatal que deixava até mesmo o ambíguo Batman perturbado...Outros vilões legais eram o ''Charada'', o ''Homem Gelo''...Naqueles tempos o Curinga não tinha facas embutidas na sola do sapato, e as lutas- ao invés das de hoje- eram travadas nas mãos. Com bons e belos socos. Mesmo ''perdendo'', Batman e Robin eram- ''inexplicavelmente''- sempre deixados sozinhos em um lugar onde haveria uma maneira ''cruel'' de matá-los( com ácido, tubarões, etc.). Assim como cruel nos soava aquele aviso final de que ''na próxima semana tem mais''...Na hora H, após uma semana de interminável espera para nós, eles sempre escapavam por um recurso qualquer( muitas vezes do inesgotável ''cinto de utilidades'' do nosso herói...). Claro: o ''show'' tinha de continuar. Infelizmente, do Batman de nossa infância só sobrou um filme adquirido nas Lojas Americanas. No Brasil a série andou passando na TV a Cabo, mas dela não se tem mais notícia...Por ter uma visão de Batman ''ideal'' na cabeça, era de se imaginar que eu ficasse decepcionado com o novo filme sobre o Homem Morcego. Muito pelo contrário...Antes um adendo. A revista ''Guia da Folha'', que vem encartada no jornal às sextas-feiras com toda a programação do fim-de-semana trouxe não o Batman, mas o Curinga na capa...E, vejam só quanto atrevimento, a exigente Folha de São Paulo, cujos críticos não perdoam quase ninguém em seus comentários, deu 4 ESTRELAS de cotação tanto para o último filme do francês Claude Chabrol, que já comentamos neste blog, quanto para Batman- o Cavaleiro das Trevas...Estariam os críticos da Folha enlouquecidos? Teriam ''viajado na maionese''? COMO seria possível dar a mesma cotação para um ''filme de arte'' e um ''blockbuster''? Fomos ao cinema conferir. O novo Batman, versão ''século XXI'', é sombrio como o personagem dos quadrinhos. O Batmóvel- ''macacos me mordam!'', diria o ''menino-prodígio'' Robin da série antiga- agora parece um veículo militar. Blindado, inatingível. O homem morcego agora- com tantos fuzis, bazucas e revólveres nas mãos dos bandidos- anda com uma espécie de armadura. Chega mesmo a VOAR(com o uso de instrumentos, claro), algo inimaginável para o Batman ''original''. Uma coisa só não muda, e nem poderia. O Batman, este ''Cavaleiro das Trevas'', simboliza o Bem, a Lei. Enquanto o Curinga, símbolo do mal, não tem limites, Batman distribui pancadas a torto e a direito- chega a ''torturar'' o Curinga em uma cena- mas, quando poderia liquidar de uma vez o inimigo atropelando-o com o que sobrou do Batmóvel ( não direi o que é para não tirar a surpresa...), ele desvia...O nosso ''Cavaleiro das Trevas''- como todo herói digno do nome- não quer exercer este incômodo papel. Vê com simpatia o papel de combatente do crime ser assumido por um intrépido Promotor de Justiça( Harvey Dent). A ''face clara'' do combate ao crime. O diretor criou uma personagem que causa uma tensão extra entre os dois ''mocinhos''- a bela ''Rachel''. Um é o ex, tentando voltar. O outro, quer desesperadamente ''fisgar'' a linda Rachel, assistente do Promotor, através do casamento. Mas um ''final feliz'', para quem quer que seja, é tudo o que não se espera de um verdadeiro filme de Batman...Toda esta mega-produção só é fortalecida pela presença dos veteranos e competentíssimos Michael Caine e Morgan Freeman( cujo personagem reage ao uso, por Batman, de uma espécie de ''Echelon'', um super-espião capaz de captar todas as conversas de celular em Gotham...o combate ao crime tem de ter limites...). ''Batman- o Cavaleiro das Trevas'', como toda mega-produção atual, é um filme de muitas tramas e sub-tramas. Há uma Máfia local, e um desdobramento chinês( o que nos garante belíssimas cenas em Hong Kong...). O Curinga, última participação no cinema do competente e recém-falecido ator Heath Ledger, é a grande estrela da obra. Os discursos são raros, em meio a tanta ação, mas concisos e muito eficientes. Palmas para os roteiristas. Em poucas palavras, o personagem do Curinga afirma que é o ''elemento de caos'' em meio a tantos ''planos''( planos do Prefeito, do comissário Gordon, de Batman). A maldade pura, sem limites, fascina. Enche a tela. Horroriza mas impede-nos, simultaneamente, de fechar os olhos. Rouba para si todas as atenções. ''Rouba'' um filme que foi feito para projetar o seu rival, o herói...A maldade do século XXI, um pouco diverso do filme, não tem cara( salvo um possivelmente morto Bin Laden...). Os meios cruéis agora abundam: venenos, armas quimicas, bombas nucleares, bazucas, fuzis, minas...A realidade é ainda mais assustadora do que a mostrada pelo Curinga na obra cinematográfica. O medo de algo que não sabemos direito o que é, que pode vir de qualquer lugar, a qualquer momento. A realidade extra-filme parece tudo, menos um cenário de ''ordem'' que necessitaria ser ''balançado'' por um pouquinho de caos...Parece mais que vivemos em meio ao caos, com elementos de ordem...A dura realidade requer heróis ''casca grossa'', parecem nos dizer todos estes filmes e seriados. Batman é o herói das nuances: defende o bem, mas com dureza. Seu símbolo é um morcego. Ele vive nas ''trevas'', como aliás parecemos fazer todos nós. O fundo deste filme, e da atualidade, é descobrir quais são os limites de uma luta contra o chamado ''mal''. Quais são os limites- esperemos intransponíveis- que nos separam, na luta contra o ''mal'', da barbárie total que seria igualar-nos aos nossos ''inimigos''? Um dos heróis do filme sucumbe à própria natureza ambivalente. O outro defende-se amparado na própria ambivalência, que é indistingüível do seu ser. Batman nos fascina, e continuará fascinando ainda mais após este filme, por ser tudo menos ''puro''...''Puro'' era o outro, aquele da nossa infância...PS: E não é que os cri-críticos da Folha estavam certos? Os dois filmes- o francês e este Batman- são duas obras-primas. Merecem ambos, cada qual por diferentes motivos, QUATRO estrelas...