quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Notas sobre o nada

Uma série de TV norte-americana, Seinfeld, se definia como uma série ''sobre o nada''. -Qual o tema de vocês? - Olha, nós falamos sobre coisa alguma. Trata-se de uma boa tirada. Já tivemos chance de discutir aqui sobre o ''valor'' da literatura/escrita. Na verdade, em meio a um mundo de coisas ''reais'', ''concretas'', ''relevantes'', ''importantes'', escritores preferem- sempre preferiram- escrever sobre coisa alguma. Ao menos coisa alguma que parecesse estar dotada de algum dos adjetivos antes elencados. Em meio a um mundo de pessoas ''práticas'', ''ocupadas'', os escritores sempre pareceram estar fazendo nada. Claro que há uma tolerância quanto a este nada, porque a muitos a escrita parece ''misteriosa'', ''inteligente''. Na verdade, não há mérito algum em escrever. Nós simplesmente botamos para fora tudo o que ingerimos até hoje. E é algo tão físico, tão irresistível, tão compulsivo quanto vomitar ou excretar algo( muitos escritos até se assemelham ainda mais a estas atividades, a ponto de se tornar quase impossível distingüir uma atividade da outra ). O que você ingere, você expele. Se você ''devora'' o New York Times ou o ''Estadão'' de domingo, dentro de alguns anos sentirá uma leve tentação de fazer algo do gênero. Mas não se sente culpado de ''plágio'' ou algo semelhante, porque, a esta altura, as informações já estarão tão consolidadas em seu cérebro que, a seu modo de ver, o seu estilo parecerá ''original''. Esta é a versão otimista da coisa. A pessimista parte de uma pergunta: como botar para fora algo que se assemelhe a um texto escrito se você não lê? Sabemos que os jornais tem circulações cada vez menores, bem como a tiragem da maior parte dos livros. E estes são os principais ''combustíveis'', as principais fontes dos futuros jornalistas/escritores/blogueiros. Você bota gasolina, o seu carro anda. Você devora palavras, as palavras ficam remoendo dentro de você- à espera de serem expelidas de múltiplas formas, em um reconhecimento implícito de que você admira as figuras que as escreveram, e pretende espelhar-se nelas. Porém, o imediatismo do mundo moderno se opõe à idéia de trabalhar longamente uma idéia, um tema. Todos querem escrever, manifestar-se, e isto não deixa de ser bom. O ruim é a falta de credibilidade de algumas das fontes novas de informação. Ainda prefiro os ''jornalões'', na falta de coisa melhor.A minha visão particular é a de que eu já tive tempo de descobrir que não ''sirvo'' para coisa alguma, eu não sou bom em coisa alguma ( ao contrário do tempo em que achava que era, potencialmente, um ''talento'' a ser descoberto- ''está lento''; do tempo em que achava que eu dominava tudo sobre relacionamentos- e os ''outros'' é que não sabiam viver; do tempo em que eu achava que os ''outros'' é que não sabiam educar os seus filhos, e eu seria, futuramente, o melhor pai do mundo ). O tempo passou, as nossas pretensões também, os fracassos e desilusões se avolumaram, e, ''súbito'', percebo que, na verdade, a ÚNICA coisa que eu sei fazer, e ainda assim mais ou menos, é colocar algumas palavras em seqüência em uma folha de papel ( êpa! até nisto estou defasado: em uma página de computador...). Vencendo ou tentando vencer a minha eterna tendência a ''pregar'' idéias, para fazer desta página pessoal um espaço para expor- aos outros, se existirem, e a mim mesmo- uma parte oculta muito especial, uma forma própria de enxergar o mundo e a ''realidade'' que só eu posso fazer. Em suma, NADA. O que eu faço é nada, e estas são as minhas notas sobre o nada...

Intuições?

Esta coluna não pretende se juntar ao espírito cético dominante na atualidade, em especial nos meios considerados mais ''inteligentes''. Mesmo porque consideramos que os denominados mundos ''material'' e ''espiritual'' estão mais misturados do que imagina a nossa vã consciência. Este episódio que vou narrar ocorreu no dia da minha última viagem a Curitiba, em janeiro, já descrita em outros textos do Blog: no dia da viagem, de ônibus, às 9 da manhã, eu estava sonhando. E, neste sonho, eu estava PERDENDO UMA VIAGEM, POR ATRASO. Este sonho me assustou, eu acordei, e vi que estava atrasado para a minha viagem, a REAL...Já passava das 7 da manhã, e era preciso correr para estar na Rodoviária ás 9. O interessante foi que justamente o atraso que eu tive foi que me possibilitou estar em casa ainda às 8 da manhã, quando soube, pelo noticiário local, que o metrô- meu meio de transporte escolhido- tinha sofrido uma pane. Eu raciocinei que as panes do metrô tem efeitos prolongados, não se limitando a um determinado trecho. A coisa funciona meio como uma ''bola de neve'': um atraso aqui vai afetando toda a linha. Resultado: mudei os planos( graças ao atraso, que só não foi maior por causa de um ''sonho'' me alertando que eu poderia perder a viagem...!)e decidi ir de táxi, chegando na Rodoviária em cerca de 15 minutos. O mais interessante nisto tudo é que a vida inteira da gente é repleta de tais ''coincidências'', que consideramos como tais na ingenuidade de querermos achar que estamos ''sós'' e ''desamparados'' neste planeta tão ''inóspito'' e ''cruel''...Por que algumas pessoas deixam de embarcar em vôos que sofrem acidentes fatais? Será mera ''coincidência''? Respondam os arautos da ciência oficial...