segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ainda não voltei...

Embora pareça, pelos 3 textos anteriores, ainda não ''voltei'' em definitivo. Escrevo estas linhas em um ''cybercafé'', da maneira que menos gosto. O ideal é escrever na hora em que pinta a inspiração, sem termos de nos deslocar até um local distante. Mas a volta à escrita mostra que, em alguns dias, meus dias de ''férias forçadas'' do blog chegarão ao fim...E, neste fim-de-ano, novas viagens e surpresas surgirão por aqui, é uma promessa...Alcnol.

This is not another love story( esta não é mais uma estória de amor)...

A Mostra Internacional de Cinema deste ano acabou servindo como uma espécie de pré-estreia para o filme ''500 dias com ela'', agora finalmente em cartaz no circuito comercial. Não espere mais uma destas comédias de amor, de início interessante e final convencional. Este é um filme inteligente. Seus personagens transcendem estereótipos, visões tradicionalistas sobre o que um homem e uma mulher ''devem'' dizer/fazer...Desde o início é ela quem dá as cartas. Ela- se comportando neste momento como um ''cara'' costuma fazer- diz logo que não está interessada em se envolver romanticamente com ninguém. Que acha este papo de ''amor''/''almas gêmeas'', uma bobagem. Que gostaria de manter uma ''amizade'' com seu colega de serviço. Nesta hora ela se parece bastante com a personagem de Gwyneth Paltrow em ''Amantes'', outro filme norte-americano de estilo ''europeu''( o qual apreciamos bastante também, aliás...). Embora sob a roupagem de uma estória de amor, ''500 Dias com Ela'' é mais um debate sobre visões diferentes de mundo: a atitude ''blasé'', despreocupada, imediatista, alegre, ''carpe diem'' dela e a visão trágica, fatalista, séria dele...Jovens podem se comportar perfeitamente como ''velhos'' ,e vice-versa. Assim como nem todos os homens são ''fortes'' e ''dominantes'' no melhor estilo ''macho alfa'', e nem todas as mulheres são patetas e submissas, limitando-se estreitamente ao que a sociedade espera delas...Em um determinado momento ele pergunta, perplexo: ''Meu Deus! Você só faz mesmo o que quer, não é?''. A despreocupação dela, sua atitude distanciada de rótulos e compromissos, o choca. Para ele, ela é o ''ápice'', o ''ponto mais alto que ele pode atingir''. Ele, diante disto, só quer parar, degustar este raro instante de felicidade em uma vida que lhe parece cruel...Mas a vida é movimento. A vida é dinâmica como a cara de um filme que alterna os melhores e os piores momentos desta instável relação. Os papéis sexuais tradicionais estão invertidos e, ainda melhor, no decorrer do filme as atitudes dos dois também mudam. Ela assume a visão dele de mundo, e diz que ele ''estava certo'', enquanto ele tenta- sem êxito- assumir uma posição mais cínica...O filme mostra ainda um interessante, mas normalmente pouco visível, lado de Los Angeles. Tal como os cineastas brasileiros, que adoram mostrar o pior da nossa realidade, L.A. é tradicionalmente palco de tiroteios em filmes e programas de TV gravados em seus subúrbios. Uma L.A. bela, sofisticada, com ''cara de New York'', é mais uma das surpresas que temos neste filme...Referências musicais excelentes, literatura( o livro ''Arquitetura da Felicidade'', de Alain Botton), arquitetura, arte moderna, é difícil acreditar que estamos diante de um filme ''norte-americano'' típico, sabem? Daquele país em que as pessoas mal disfarçam a sua antipatia com ''intelectuais'', um país que acaba de sair dos longos 8 anos de trevas da ''Dinastia Bush''. Talvez esta nova safra de bons filmes norte-americanos, da qual os dois que citamos neste post são bons exemplos, seja um bom augúrio de uma verdadeira ''Renascença'' no plano das artes, consequência dos novos tempos sob a Presidência de Barack Obama...Ao menos no plano artístico as mudanças parecem ser mais claras...Alcnol.

Falando de futebol, agora já dá para ver qual será o Campeão Brasileiro...

Ainda tem muito ''comentarista'' dizendo que o Atlético- MG ainda tem chances de disputar o título brasileiro. A nosso ver, esta rodada marcou um afunilamento ainda mais estreito. ''Formalmente'', estão no páreo os quatro primeiros, incluindo o ''Galo''. Na prática, ontem o Atlético jogou as suas últimas esperanças. Como muitos outros clubes, o ''Galo'' transformou-se em um gigantesco corpo( ''iceberg'')no meio do caminho, podendo ainda atrapalhar a vida de seus próximos adversários. Mas, em função de sua tabela, não tem mais chances( enfrentará Internacional, Palmeiras- no Parque Antártica- e Corínthians). Complicadíssimo...O Palmeiras, apesar da pouca bola, ainda está em segundo. Aposta tudo contra Grèmio( fora)e Galo( em casa). Não pode nem sequer pensar em perder algum ponto, se quiser ser campeão. Tinha 5 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, e agora está um ponto atrás...Disputam o título, de verdade, São Paulo( líder momentâneo)e Flamengo. Este último aposta tudo contra o ainda não rebaixado Náutico( nos Aflitos)e o Corínthians( no Pacaembu). O alvi-negro paulista tem tirado pontos importantes dos candidatos ao título( São Paulo, Palmeiras)...Sobra o São Paulo. Tem pela frente dois adversários mais ''fáceis''( Vitória e Sport, já rebaixado), o Goiás no Serra Dourada- já longe do G-4, sem maiores aspirações- e, este o jogo mais complicado, o Botafogo no Engenhão, lutando contra o rebaixamento. A meu ver, o jogo Botafogo x São Paulo será a verdadeira decisão para este último. Mesmo empatando, se vencer os outros jogos chegará a 69 pontos( o máximo do Fla, se vencer tudo), podendo ser superado apenas pelo Palmeiras que, como vimos, terá duas ''decisões'' pela frente, além de estar profundamente abalado pela seqüência de maus resultados...A ascensão do Flu dita os rumos da parte de baixo. Com 4 vitórias( difícil, mas não impossível), chegaria a 48 pontos. Antes dizia-se que, com 44 pontos, um time escaparia do rebaixamento...O rival Botafogo enfrenta o imprevisível Barueri fora e o candidato ao título São Paulo em casa. Esta semana o Flu, que com 3 vitórias deixou a última colocação para tornar-se o primeiro do chamado ''Z-4'', pode até mesmo abandonar temporiamente a Zona do Rebaixamento...Concluindo: o São Paulo, a meu ver, será o Campeão, e o Flu não cai...Cobrem-me daqui a 4 rodadas...Alcnol.

Aluna expulsa da Faculdade: uma ''anti-aula'' de Direito...

Praticamente todos ouviram falar do caso da aluna de uma Faculdade paulista que foi hostilizada por seus colegas por usar um vestido mais curto. Pois agora, vejam só qual foi o desfecho desta estória: a Faculdade decidiu expulsar a aluna, sob o argumento de que ''já havia sido advertida antes'' pelos fiscais( ''bedéis'') da instituição...Em jogo está não apenas um debate ''comportamental'', mas, em especial, uma questão jurídica( motivo pelo qual demos o título ''uma anti-aula de Direito''). Um dos debates mais interessantes de Direito Constitucional nos últimos anos refere-se ao âmbito de aplicação dos chamados ''Direitos Fundamentais''. A visão ''clássica'' defendia que tais direitos aplicavam-se apenas na relação Estado-Indivíduo( uma típica relação ''vertical'', hierárquica, ''de cima para baixo''). Porém, nos últimos anos, ganhou corpo uma corrente segundo a qual, além de invocáveis contra o Estado, tais direitos também poderiam ser defendidos na relação entre particulares. Assim, por se tratar de um plano supostamente mais igualitário, tal corrente ganhou o nome de ''horizontal''( âmbit0 horizontal dos Direitos Fundamentais). Falando em outros termos, seria possível invocar o direito ao contraditório, à ampla defesa, à liberdade de expressão na relação entre, por exemplo, um clube e seus associados? Teria um clube, ou um condomínio, o ''livre direito'' de expulsar um de seus membros alegando o que bem entendesse( ''mal comportamento'', etc.)? Não, segundo a nossa Constituição. A nossa Carta Magna estabelece o direito ao contraditório seja nos processos que correm na Justiça seja no âmbito administrativo. Até mesmo o Direito à Vida ou à Propriedade não são absolutos. A propriedade pode ser confiscada em caso de cultivo de entorpecentes, e, em caso de conflito externo, a pena de morte pode ser aplicada...Voltemos à questão inicial, motivo deste post. Uma aluna, trajando roupas consideradas ''provocantes'' por seus colegas, foi hostilizada pelos mesmos a ponto de ter de ser retirada do recinto. Para não ter problemas com a maioria de seus alunos( ''pagantes''), a Faculdade decide expulsar sem maiores discussões a aluna. Como não se trata de uma instituição pública, alguém haverá de alegar que seus proprietários podem fazer o que ''bem entenderem'' em seus domínios, sem que o Estado possa intervir. Entendemos o contrário. Acreditamos que, mesmo no plano meramente interno/administrativo, a aluna teve violado o seu direito à defesa. Sua expulsão foi sumária, arbitrária. Se admitirmos, por qualquer argumento que seja, a adoção de práticas semelhantes, estaremos abrindo caminho para que- como em países obscurantistas- as ''turbas'' tomem as principais decisões. E pior: ''turbas''/multidões arregimentadas, orquestradas pela Internet. A Internet, por incrível que pareça, tanto pode ser( como no Irã)a arma das minorias contra as Ditaduras, quanto o instrumento das ''maiorias'' ocasionais contra tudo o que lhes pareça contrário à ''moral'' e aos ''bons costumes''...Exatamente aí entra o papel do Judiciário. À Justiça, desde que provocada, cabe a função de reequilibrar uma relação entre Faculdade e Aluna, marcada nestes episódios pela intolerância e pela mais absoluta falta de diálogo. Além de acobertar atos de agressão e perseguição, a Faculdade- que, por incrível que pareça, é dotada de um curso de Direito- parece incapaz de aplicar em seus domínios as mais básicas noções que norteiam o nosso sistema democrático: o direito á ampla defesa diante de quaisquer acusações, o direito à livre expressão, etc. Ficamos sem saber, no caso em questão, quais foram os ''limites'' ao ''bom comportamento'' que foram violados pela aluna expulsa. Qual foi o ''erro'' dela? Que regulamento foi violado? Teria ela sido punida por alguma violação ás regras daquela Faculdade ou por ''aquilo que ela é''? Também ao Direito Penal repugnam as punições que, mais do que por transgressão às normas jurídicas, apoiam-se exclusivamente na personalidade ou no comportamento do suposto ''criminoso''...O arbítrio, o absurdo, não podem ser acobertados em hipótese alguma, em especial no caso de uma instituição que possui um curso de Direito( ao menos neste alguém deveria ter uma visão mais aprofundada do que é ''certo'' ou ''errado'' nesta estória...). Alcnol. PS: Não é preciso ser um profundo conhecedor do Direito para suspeitar que há algo muito estranho nesta estória toda...Às vezes os ''leigos'' tem uma visão mais correta do que os próprios aplicadores do Direito...