domingo, 19 de outubro de 2008

Almoço corrido para poder ver filme chileno...

Na teoria tudo parecia perfeito: almoço no restaurante ''Cheiro Verde'' da Peixoto Gomide, e ida ás pressas até o Shopping Frei Caneca para assistir mais um filme da Mostra. Comprei o ingresso de cinema pela Internet, e bastava apenas passar na bilheteria e entrar. A execução do plano foi um pouco mais ''complicada'': cheguei ao restaurante por volta de meio-dia e vinte de um domingo chuvoso e, pior, agora com ''horário de verão'' ( uma hora a mais que o normal, nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste). Escolhi um prato de panqueca de ricota com espinafre chamado ''Olívia''. Estava excelente. No entanto, restaurantes naturais não são lanchonetes ''fast food''. Preparar uma refeição como esta leva tempo. Quando saí do restaurante, faltavam apenas 8 minutos para 13 horas( horário do filme). Neste instante, fiz uma das caminhadas mais aceleradas de toda a minha vida. Cerca de 15 minutos, até o shopping. Elevador. E, para minha surpresa, já havia uma fila considerável de pessoas na minha frente( destaque: UMA DA TARDE de domingo...). A essa altura já havia passado de uma hora. Peguei enfim o ingresso, sem maiores problemas, e corri para a sala de cinema. Eram 13h15 minutos. Para minha felicidade, o filme havia começado naquele instante. Feliz atraso! O filme que eu queria assistir chamava-se ''La Buena Vida'', do Chile. Um belo painel paralelo com personagens como um músico recém-retornado ao país para concorrer a uma vaga no Conservatório; uma mãe separada e seus conflitos com a filha adolescente; um cabeleireiro que vive com a mãe e a pressiona para ser avalista de um empréstimo para adquirir um carro novo e uma mulher aflita e não-idenficada que inicialmente se prostitui para ganhar a vida. Nada melhor do que a imagem de uma Orquestra para descrever esta obra-prima do cinema latino-americano. O Diretor, como um competente Maestro, parece saber o que faz, e trabalha harmonicamente com as distintas estórias...Ao fundo as imagens de uma bela Santiago, fria e chuvosa( e daí? isto é tempo bom para mim...). O cabeleireiro acaba descobrindo que deve prorrogar a permanência do pai falecido em um cemitério, o que dá lugar a uma das melhores cenas de todo o filme: uma agente funerária passa os dedos freneticamente por uma tela de computador, mostrando todos os planos possíveis- ''se quiser tal coisa, são tantos mil pesos'', ''se optar por aquilo, são mais tantos mil pesos'', ''se não puder pagar mais pela permanência de seu pai no jazigo tudo bem, resta o sistema público- porém, se quiser uma última lembrança dele, são mais x pesos''...Eis o fio condutor velado da estória: salvo a médica que tem problemas com a filha, todos os demais personagens tem dificuldades financeiras- bem ao contrário das notícias alvissareiras que lemos sobre o Chile...O músico é obrigado a raspar a cabeça e entrar para uma orquestra militar para sobreviver a duras penas, o cabeleireiro hesita entre o carro novo e o túmulo do pai, mulheres se prostituem para ganhar a vida: a realidade mostrada é dura, mas dentro do contexto da estória. O resultado é ''redondo'' como um concerto bem executado. Valeu a ansiedade, a correria após o almoço, a espera. Este La ''buena'' vida merece ser visto. Não foi selecionado à toa. Além disto, a visão das belas galerias de rua de Santiago transportam-nos mentalmente a este lugar que todo turista digno do nome deveria conhecer um dia...Alcnol.

Manifestantes?

''Vamos pintar o mundo de pink'', diz a faixa. E as belas meninas estavam todas de rosa, nas imediações do Shopping West Plaza- na Barra Funda. Seria uma manifestação feminista? Não, elas estavam ali promovendo uma festa...

Outra mensagem anarquista- esta mais criativa...

Às vezes passamos tão apressados que mal temos tempo de notar as coisas. E olha que somos, quase que todo o tempo, pedestres...Que dirá um motorista...Aqui e ali, espalhadas pela cidade estão mensagens que foram colocadas ali por alguém que queria transmitir algo. Como nestes milhões de blogs pela Internet...Se não tem maior importância política, e não falo apenas do plano eleitoral, ao menos os anarquistas são criativos em suas manifestações... Vejam só esta, que parece gritar toda uma desobediência pré e pós-eleitoral...PS: Que fique bem claro que votarei no atual prefeito, Gilberto Kassab, neste segundo turno...Mas não dá para ignorar estas irônicas mensagens...Elas tem a sua graça. Alcnol.

''Fim de mundo urbano'': a Barra Funda...

Seja por abrigar o final da Linha Vermelha do metrô, seja por marcar o início de um estranho território ''sem prédios'' e com vastos espaços vazios- que dão a impressão de que a metrópole ''termina'' por ali- ir à região da Barra Funda sempre nos causa uma estranheza. Ah, não contei o fato de que o estádio ''inimigo'' Palestra Itália- campo do Palmeiras- também está localizado ali...Na mesma rua Turiassú foi inaugurado recentemente o shopping Bourbon Pompéia, o que já causa constantes congestionamentos pela estreita via...O fato é que, atualmente, para chegarmos ali de metrô precisamos pegar a ''Linha Verde'' até a estação Paraíso, mudar para a ''Linha Azul'' até a Sé, e depois(ufa!)mudar para a ''Vermelha'' até a Barra Funda. Dá a impressão de ser muito mais longe do que é de fato...Além da Barra Funda está localizada a Lapa( paulista), mais uma prova de que, realmente, a cidade não acaba por ali...O mais marcante que vi na Lapa, aliás, são as ruas com nomes de famosos romanos da Antigüidade: rua Catão, rua Crasso, rua Coriolano, além de uma ''Rua Roma''...Talvez por isto haja até uma região paulistana chamada ''Pompéia''( nome derivado de Pompeu, imperador romano...)e outra denominada ''Vila Romana''...Neste post, as fotos da região da Barra Funda...Alcnol. PS: Nas proximidades da Estação Barra Funda vale visitar também o Memorial da América Latina( local de exposições e mostras de cinema), assim como o Sesc Pompéia...Foto 1: Parque Antártica, campo do Palmeiras( ''campeão do século XX, segundo o que estava escrito...). Fotos 2 a 4: arredores do Bourbon Shopping. Foto 5: a cada vez mais congestionada Rua Turiassú...

Tesouros da Mostra- ''Hunabkú''( Argentina)

Há muito tempo sou admirador declarado do cinema argentino. Sem medo de ''patrulhas'' nacionalistas...O cinema do país vizinho possui uma grande capacidade de, sem omitir o ''local'', abordar as grandes questões que afligem a Humanidade como um todo. As películas argentinas, ao contrário das nossas em sua maior parte, podem ser vistas e apreciadas por platéias do mundo inteiro. E nem por isto deixam de ser, ao mesmo tempo, divertidas...Dentro do ''todo''- cinema argentino- existem inúmeras sub-divisões: ''road movies'', filmes urbanos, filmes no campo, filmes na Patagônia, filmes que começam na cidade grande e terminam na Patagônia e, até mesmo, filmes com toques de espiritualidade. Há tempos vi um que mostra uma comunidade zen-budista no interior da Argentina. Entretanto, embora existam diversas categorias de filmes, os melhores são aqueles que não são facilmente ''classificáveis''...Que assistimos como uma ''obra em aberto'', sem saber como tudo aquilo vai acabar...É isto que mais apreciamos nos filmes orientais, em seriados como ''Lost'' e, agora, neste estranho ''Hunabkú'', do diretor argentino Pablo César. A estória mostra uma família feliz( pai, mãe e um adolescente de 13 anos)que, por conta de uma proposta profissional recebida pelo pai, deixa Buenos Aires e vai morar na fria Patagônia. As cenas das geleiras, diga-se de passagem, são imperdíveis...Após a chegada, os componentes da família- com destaque para o garotinho e a mãe- começam a experimentar diversas transformações: a mãe ora dorme inexplicavelmente, ora tem uma forte insônia; o garoto diz ouvir ruídos; o pai pergunta a um colega sobre as estranhas pegadas que viu no chão perto do local de trabalho( ''seriam de um urso? ou de um cão''?). Embora ouçamos um forte som de vento, as nuvens todas parecem congeladas no céu( bem ao contrário de São Paulo, aliás, onde há uma ''dança'' frenética e contínua das mesmas, anunciando súbitas mudanças de temperatura no mesmo dia...). O garoto ainda tem visões, como uma em que vê o vigia do local morto. Após alguns dias, a previsão torna-se realidade...Ele ainda faz amizade com uma japonesa, com a qual faz inúmeras excursões pelas geleiras...E confessa ''não saber se quero ir embora ou ficar dentro deste buraco de gelo'', uma vez que ''tenho medo de ser tragado pela geleira''...E se pergunta o que está embaixo da geleira...Sua saúde também apresenta súbitos câmbios: ora tem febre, frio, pesadelos, alucinações, ora se recupera de súbito e assiste estranhas aulas ao ar livre com um professor que mais parece um mago...Seus questionamentos junto ao assistente do professor dão margem a uma interessante discussão que mostra basicamente duas posições: uma defende o papel dos instintos, da emoção e da intuição, e a outra é a clássica abordagem ''científica'' que exclui tudo isto...O professor afirma na aula perto da geleira que ''os seres humanos são como parasitas sobre uma baleia(a natureza), correndo o risco de assassiná-la para tirar proveitos para si''...O que é ''Hunabkú''? Segundo a visão maia, é um ''símbolo que representa o centro de energia do Universo''. Fica subentendido que ''Unabkú'' é ali, naquela área repleta de geleiras próximas de extinguir-se pela ação do homem. Tal como em ''Lost'', o filme é repleto de encontros no plano, digamos, ''espiritual''- em outra dimensão que não a puramente física- já que, conscientemente as pessoas não tem nenhuma evidência de terem encontrado umas às outras. O professor ''viaja'' para outra localidade, mas é visto pelo pai do garoto- que trava com o mestre supostamente ''ausente'' um diálogo que dura a noite inteira...A mãe vê Unicórnios...Sei que você deve estar pensando que este filme é muito ''viajandão'', e se indagando se ele não foi feito sob o efeito de substâncias viciantes...Mas todo Diretor de cinema que se preze quer ser um Bergman. Deseja criar uma obra inesquecível e marcante, que seja apreciada pelo público ''certo''. No entanto, com o decorrer dos anos, alguns criadores tornam-se meros burocratas, apresentando periodicamente obras medianas e mais comerciais. E outros, como parece ser o caso deste jovem Diretor argentino, se mantém na busca pelo ''especial'', pelo ''raro'', pelo ''único''. Estes criadores oscilam entre o ''8 ou o 80'': ou elaboram algo medíocre, sem meio-termo, ou fazem coisas geniais e inclassificáveis. ''Hunabkú'' poderia ater-se às imagens das geleiras da Patagônia, e já seria um filme memorável. Ousou fazer bem mais. É um verdadeiro manifesto em defesa da natureza. Nas palavras de seu Diretor antes da exibição, mostra o ''confronto entre a razão humana e o código da natureza''. Quem vencerá este confronto, se é que pode haver um vencedor, o tempo dirá. Mas nós, que tivemos a oportunidade de assistir esta obra-prima do cinema do pais vizinho, podemos nos proclamar com antecedência ''vencedores'': não é todo dia que podemos ver películas como esta...Alcnol.