domingo, 14 de setembro de 2008

Operações de guerra...

Calma, não estou falando de Sarah Palin e seu grupo de ''falcões''( linha dura) republicanos...Ontem, em Moema, vi uma estranha agitação em frente a uma conhecida loja de móveis. Os carros estavam ''estacionados'' em 3 fileiras- melhor dizendo, colocados uns atrás dos outros- enquanto um grupo de manobristas os recebiam dos clientes, parados em uma considerável fila. Eis uma coditiana ''operação de guerra'' na cidade de São Paulo...O espaço era pouco. Não sei como eles faziam para tirar aquele carro posto lá na frente, tirando os dois ou três logo atrás. Mas a complexidade destas manobras dá uma idéia do que é fazer compras, comer, passear por aqui. Hoje em uma ''padoca''( padaria) da moda, no caminho para o Parque da Aclimação, deparei com outra operação grandiosa do gênero. Os carros por toda a calçada, impedindo a passagem de pedestres, enquanto o grupo de manobristas fazia movimentos frenéticos para estacioná-los ou entregá-los para os clientes. Na hora do almoço, na reformada rua Avanhandava, reparei que a cantina Mancini tinha cerca de 10 manobristas, todos vestidos de verde e posicionados um ao lado do outro- prontos para entrar ''em ação''. Tudo muito eficiente, e geralmente ''invisível'' para os beneficiários. Milhares de pessoas trabalham só neste setor, que garante a viabilidade de outros milhares de estabelecimentos. ''Operações de guerra'' do dia-a-dia de uma grande metrópole. Para quem paga resta também um verdadeiro ''rombo'' no orçamento: são dez( reais)aqui, dez ali...

Vendedores de ilusões( e sabonetes)...

O que foi o lançamento da candidata a vice de George Bush III, digo John McCain, senão uma genial jogada de marketing? Já questionamos aqui a ''inatacável'' candidatura de Obama que, ao que tudo indicava e quase todos esperavam, em meio a discursos triunfais para estádios lotados e ao apoio generalizado das mega-estrelas de Hollywood, caminhava a largos passos para uma esmagadora vitória. Só esqueceram de combinar com os adversários...Lembram-se dos massivos desfiles nas ruas de militantes com camisas e bandeiras vermelhas nas sucessivas derrotas de Lula e do PT? Derrotados por hordas de ''invisíveis'' cansados de tanta ''agitação''? Obama foi incensado pela mídia, e depois ''feito em pedacinhos''. Diante de sua figura, inúmeros cidadãos- inclusive jornalistas- desmanchavam-se em lágrimas diante daquele que parecia a materialização de um ''sonho''. O sonho de uma América multi-racial, da ''mudança'', e de um mundo sem guerras. Obama é ''o cara'', as pessoas ''sentiam''. E não havia argumento político, da parte de seus oponentes, que pudesse se contrapor a isto. Então os republicanos, que aliás quase sempre mantiveram-se próximos nas pesquisas mesmo nos piores momentos, decidiram retrucar o ''marketing'' com outro ''marketing''. Lançaram, para surpresa geral, uma mulher ( na tentativa não sutil de captar os votos de eleitoras de Hillary descontentes)''caipira'' do Alaska. Pasmo geral: uma ex-miss, bonitinha, e ''desbocada''. Assim como parecia quase impossível atacar um negro muito popular, qualquer ataque a uma mulher interiorana será tomado como uma ''ofensa pessoal'' por seus adeptos. As idéias de Palin, porta-voz da ala mais radical do partido republicano, não estão em questão. Desde sua indicação na convenção republicana, ela comete ''gafe'' após ''gafe''. Diz que o aquecimento global ''não importa''. Defende o uso de armas contra a Rússia de Pútin. Quem se importa? Palin sacudiu o que parecia um pleito modorrento e tedioso. Deu voz a todos aqueles que estavam calados até então: os evangélicos, os grupos contra o Aborto, contra o ''casamento gay'', contra o sexo antes do casamento. Os comícios republicanos mais parecem shows agora, com todos aqueles novos ''fãs'' de Sarah Palin...Contra Obama, o ''rei sol'', levanta-se toda uma América escondida nas ''sombras''. Uma América rancorosa e isolada do resto do mundo e, talvez por isto mesmo, incrivelmente forte e auto-confiante. Quem quer saber de idéias e programas políticos, afinal? Os democratas ascenderam pelo uso de competentes técnicas de marketing, do predomínio da ''emoção'' em detrimento de argumentos políticos ''racionais'', e podem perecer vítimas do próprio remédio...Nada, a não ser a sutil manipulação, é capaz de explicar as súbitas ''guinadas eleitorais'' que estamos presenciando em toda parte. Um candidato ''cai 10 pontos'' em uma semana, enquanto seu adversário ''sobe 12''. Políticos são vendidos como sabonetes, com o uso das mesmas técnicas. Sabem o ''ÃO'', da propaganda do ''Estadão''? Um marqueteiro fez uma versão parecida, rimando Alckmin com ''SIM''...A campanha da Marta Suplicy é quase a mesma- à exceção do competente bordão ''deixa o homem trabalhar''- da de Lula. E Kassab, o atual prefeito, dobrou suas intenções de voto com um programa, e principalmente, com um marqueteiro competente. Vá lá tentar conversar com alguém que ''sente'' que tal político é ''legal'', ''competente'', ''honesto'', ''realizador''. A emoção, exacerbada e manipulada, representa o fim de qualquer possibilidade de diálogo. ''Liberais'' tendem a ouvir/ler seus parceiros ideológicos, e ''conservadores'' idem. Nos fechamos em guetos, grupelhos, do qual só somos retirados e agitados um pouco pelas técnicas de mídia...PS: Agora Palin está no centro do palco, e terá sua vida vasculhada pelos ''tubarões'' da imprensa. Obama ainda não está morto. Provavelmente prepara um fulminante contra-ataque ''midiático'', nos mesmos moldes impactantes utilizados na Convenção Republicana...

''Cavalo Paraguaio'' gaúcho?

Quando todos já pareciam apontar o Grêmio como provável campeão brasileiro deste ano, eis que a equipe gaúcha apronta uma destas: perde para o Goiás, por 2 a 1, em pleno estádio Olímpico...Note-se que o tricolor gaúcho vem em declínio, e não é de hoje. Nos últimos 7 jogos, segundo um comentarista do Sportv, fez cerca de 10 pontos em 21( menos de 50%, sem contar nestas estatísticas a derrota de ontem...). Após a impressionante ascensão do Botafogo, sob o comando do competente Ney Franco, não está longe o momento em que gaúchos e cariocas( sem descartar também os mineiros do Cruzeiro e os paulistas do Palmeiras)provavelmente se equivalerão em número de pontos na tabela...Entre altos e baixos destas equipes todas do chamado ''G-4'', o Brasileirão está mais indefinido do que nunca. E o São Paulo, será que não engrena mais?

Fragmentos...

Antes da projeção de um dos filmes da Mostra Alain Resnais, no CCBB de São Paulo, um espectador vira-se para o vizinho e fala: ''99% do que é visto neste país, a título de cinema, é LIXO. Não fossemos nós, não fosse isto aqui, e estaríamos entregues à barbárie...''. Gostaria de tê-lo contraditado publicamente, na hora, mas está difícil...A peça ''Dois Irmãos'', baseada no romance do escritor amazonense Milton Hatoum, é boa. Mas, quando consultei o relógio ao final da apresentação, constatei que sua duração é de incríveis DUAS HORAS...Talvez por isto ouvíssemos sonoros, vindos evidentemente da platéia, bocejos...Será que não dava para ter condensado a interessante peça em menos tempo??? Enquanto isto, finalmente temos um inverno ''com cara de inverno''. Com garoa, tempo em declínio e sem perspectiva de sol para os próximos dias. Eufórico eu encerro por aqui estas pequenas reflexões, e corro para baixo das mantas...

''Perigo! Batata frita''

Nas bancas, a Revista ''Época'' circula esta semana com reportagem de capa sugestiva ligando 3 recentes iniciativas- a chamada ''Lei Seca'', uma Lei Estadual paulista que proíbe o fumo em qualquer lugar fechado, público ou privado, e a intenção do Ministério da Saúde de estabelecer um prazo entre 3 e 5 anos para que 100% dos alimentos fabricados no país deixem de utilizar gordura trans. O tom da matéria é ''choroso'' e tendencial: o objetivo( aliás qual seria o propósito por trás de tal ''reportagem''? Um propósito público, o de defender liberdades ''ameaçadas'', ou simplesmente veicular o pensamento de anunciantes privados atingidos por tais medidas?)aparentemente é o de alertar para as crescentes intervenções ''do Estado'' na vida dos indivíduos. Uma foto mostra um bar semi-vazio na outrora ''badalada'' Vila Madalena, aqui em São Paulo, seguida da informação de que o movimento em lugares semelhantes ''caiu 40%'' . Os bares estão se esvaziando cerca de 1, 1 e meia da manhã, vejam só que ''absurdo''! Detalhe: na vizinha Diadema, com o propósito de combater a crescente criminalidade, implementou-se uma Lei Municipal forçando os bares a fechar MEIA-NOITE. Os resultados foram marcantes...O fato é que, enquanto nos gabinetes de Brasília defende-se a exdrúxula tese de que estamos vivendo- graças à proliferação dos chamados ''grampos'', escutas telefônicas clandestinas- em um ''Estado Policial''(???!), na realidade o Estado nunca foi tão enxuto neste país. Atividades típicas de Estado foram transferidas- aliás com grande êxito- para as mãos da iniciativa privada nos últimos anos: saúde, educação, manutenção de rodovias, mesmo segurança( com a proliferação de um verdadeiro ''exército de seguranças profissionais'' , paralelo ao das forças de segurança oficiais, nos grandes centros do Brasil). Estas seriam as chamadas ''funções típicas de Estado'', uma verdadeira justificação moral e ética para a existência do mesmo. Se não cumpre bem sequer estas funções...deixa pra lá...O fato concreto é que, ao lado destas funções, o Estado também exerce uma Função Reguladora. Amparado no que em Direito chamamos de ''Poder de Polícia''. O Estado, órgão impessoal que é, não tem interesses ''próprios''( pode ser manipulado para defender o interesse de grupos particulares ou de seus dirigentes, mas aí já é outra conversa...). No ''Poder de Polícia'' o Estado- que em um Estado de Direito democrático é a representação eleita do povo- pode restringir/limitar direitos ou prerrogativas de indivíduos ou grupos de interesse em prol dos interesses maiores da coletividade. É o chamado conflito entre interesse público X interesse particular. Enfatizamos que o poder é de limitar, não de extingüir...As iniciativas apontadas pela revista Época na matéria das ''batatinhas fritas'' não passam, afinal, de legítimas iniciativas- seja do Parlamento livremente eleito pela população ou do Poder Público- no campo de sua atuação regulatória. A Lei Seca pode até ter sido proposta pelo Governo, mas foi encampada por uma maioria parlamentar e votada. Hoje, em decorrência disto, não é mais uma simples interferência ''do Governo'' na vida do cidadão, como quer fazer parecer a revista Época, e sim uma política pública no interesse da maioria da população. Os resultados estão aí, e foram muito maiores que o esperado. Os brasileiros entenderam o sentido da Lei, e a apóiam em grande número. A proibição do uso de cigarros em lugares públicos ainda é um projeto de lei, de iniciativa do Governador José Serra, mas já obteve, segundo uma pesquisa, o apoio de 90% das pessoas. Note-se que iniciativas como a da proibição da gordura trans, altamente lesiva à saúde aliás, nos alimentos são corriqueiras em outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma nação altamente ciosa das liberdades individuais, discute-se a proibição de alimentos gordurosos nos lanches das escolas. Não sem razão: nos últimos anos, diversas redes de ''fast food'' infiltraram-se no ambiente escolar através de ''convênios'' com as direções das escolas. O resultado é que atualmente CRIANÇAS estão apresentando elevados níveis de colesterol...Problema particular? Não, de saúde PÚBLICA...Ingleses já restringiram o horário de funcionamento dos bares há muito tempo. Diversos países do mundo aplicam sanções ainda maiores e mais severas que as nossas em relação ao uso de álcool na condução de veículos motorizados. O que a revista Época faz nesta tendenciosa e simplista ''reportagem'' é na verdade, sabe-se lá movida por que espécie de interesses, talvez simplesmente o de ''fisgar'' leitores desavisados com uma capa ''chamativa'', um desserviço à população e, em particular, aos seus leitores. Esperamos que este discurso liberal ''clássico'' - ''até que ponto o governo deveria controlar a nossa vida?""- não encontre eco nos Gabinetes lá de Brasília, em particular nos Tribunais...