segunda-feira, 19 de maio de 2008

Viagem ao Universo das Réplicas

Na última quinta-feira, fui convidado por duas conhecidas para acompanhá-las durante suas compras no eixo 25 de março/Bom Retiro. As duas não moram na cidade: vieram especificamente para isto. O interessante é que o mundo da ''moda paralela'' profissionaliza-se cada vez mais: hotéis luxuosos, que não ficam a dever em relação aos similares dos Jardins, shoppings que reúnem diversos lojistas- e que são mostrados até em novelas de TV( inclusive há uma TV que não esconde utilizar as roupas vendidas nesta região do Bom Retiro para vestir seus funcionários e atores, em uma espécie de ''convênio''). Estamos no mundo do ''fake'', do que APARENTA ser algo. Os próximos posts, já planejados, tratarão deste assunto exaustivamente. Mas, voltando ao Bom Retiro, vendedoras em lojas cheias anunciam as últimas novidades estilo ''Chanel'' - que fique bem entendido: réplicas da famosa marca francesa...As duas entram e saem das lojas, freneticamente. Na véspera já haviam ''demarcado'' o território, localizando as melhores pechinchas. As lojas ostentam dois preços: ''varejo'' e ''atacado''( este segundo menor, para lojistas e pessoas que comprem em grande quantidade ). Ao contrário da impressão que tive na 25 de março, onde andamos nos espreitando no meio de uma enorme multidão, e as mercadorias parecem coisa de quinta categoria importada da China, no Bom Retiro as lojas são bonitas, pintadas. As ruas não estão tão cheias. Ao sairmos, após realizarem diversas compras, o motorista de táxi informou que ali era ''criada a moda do Brasil''. Errou no uso do ''criada'': ali, a céu aberto, é ''replicada'', COPIADA a moda do Brasil e do mundo. Com uma aparência que não envergonha minhas amigas e suas conhecidas de classe média. O mundinho ''fake'' vai além do conceito de ''pirataria''. Enquanto cidadãos respeitáveis adquirem roupas na 25 de março, e programas de computador na Rua Santa Ifigênia( centro de São Paulo), ou mesmo em gigantescos conjuntos comerciais em plena Avenida Paulista, até mesmo as marcas cohhecidas embarcam na busca por mais lucros a todo custo: aqui temos a ''terceirização'' da produção( e o seu produto ''IBM'' pode ter sido feito por uma empresa pequena de Taiwan...), e a fabricação em países pequenos da América Latina e do Extremo Oriente( tênis Nike ''made in Vietnã'', casacos Lacoste ''made in Peru'', etc.). Quando pensamos em ''pirataria'', isto nos remete à ação de bandidos ''externos''. Porém, os cada vez mais perfeitos produtos ''fake'' não dispensam a intervenção de gente de dentro das empresas famosas. Alguém acha que os últimos lançamentos de cinema foram copiados por um espectador dentro do cinema, com uma micro-câmera? Então como eles chegam aos camelôs SIMULTANEAMENTE ao lançamento do filme, ou mesmo antes? Reportagens extensas informam-nos que as réplicas cada vez mais perfeitas são feitas pelos mesmas confecções terceirizadas (chinesas?) que fabricam os produtos ''oficiais'', muitas vezes com o mesmo material e o mesmo molde...Não é o caso dos produtos do Bom Retiro: se o original é de couro, estes são de couro sintético...Mas enganam as suas usuárias, e isto é o que importa...O jogo das réplicas é feito também por lojas de departamento- de que já tratamos neste blog- que mantém espiões pelo mundo inteiro, para copiar os produtos das grandes grifes e lançar réplicas mais baratas para as multidões que as freqüentam...Inclusive este que vos fala...O mundo da imagem é o mundo do ''fake'', do que aparenta ser, do que ''parece que é''. A moda ''oficial'' sempre brincou com isto. A única diferença, hoje, é que a brincadeira é cada vez mais jogada por um número crescente de pessoas. Queiramos ou não- e esta crescente pirataria está ligada( como não?)à criminalidade, ao tráfico de drogas- isto tudo faz cada vez mais parte de nossas vidas. ''Brinca-se'' de replicar em plena luz do dia, à vista de todos (da Polícia, das autoridades, etc.). Não há quem não saiba disto. Não há quem, mesmo no nosso meio, não tenha tomado partido de uma destas múltiplas modalidades de ''fake'', à escolha do cliente. O ''fake'', e a tomada das economias ocidentais por quinquilharias vindas da China ''comunista'', isto tudo é a cara do ''real'', do nosso dia-a-dia. Uma ''realidade'' que é cada vez mais não distingüível das múltiplas ''realidades'' paralelas- todas aparentando a mesma coisa. O mundo atual assiste indiferente ao ''real'' sendo devorado de dentro de suas entranhas pelo ''fake'' - este sim um possível futuro do ''real'', um ''real'' em potencial do qual não sabemos ainda as conseqüências...PS: Elas voltaram com sacolas cheias do Bom Retiro. Os negócios, ali, vão muito bem, obrigado...

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