segunda-feira, 19 de maio de 2008

Primeira vez em Campos do Jordão

Um rápido ''city tour'' em uma van- que está substituindo o tradicional trenzinho motorizado que percorre os principais pontos turísticos da cidade- e o guia vai informando que aqui é a mansão do ''ex-ministro Fulano'' e ali é a mansão de Edir Macedo, e ali é a mansão de não-sei-quem. A cidade, ao melhor estilo paulista, está toda fatiada. Campos do Jordão é o interior ''reestilizado'', ''fake''. Longe de mim criticar isto, urbanóide que sou. Mas, se você quer desfrutar alguns momentos de tranqüilidade longe do ''stress'' da cidade grande, fuja de Campos. Esta é um grande prolongamento de São Paulo, um ''shopping a céu aberto''. Mesmo não fazendo muito frio durante o dia, cerca de 20 graus no sábado meio-dia e 22 no domingo, ali os paulistanos e demais turistas aproveitam para usar seus sobretudos, cachecóis, luvas e outras roupas típicas de inverno que são alardeadas e vendidas em todas as esquinas da cidade. O ''marco zero'' da cidade- a Cervejaria Baden Baden- está lotado desde cedo, com filas de espera. Carrões passam lentamente, e seus passageiros botam a cabeça para fora para serem vistos. Carros são desnecessários ali- onde tudo é perto- mas, tal como na cidade grande, são uma marca distintiva de seus proprietários, um símbolo de ''status''. Por isto, na hora de ''rush'', Campos do Jordão tem mini-engarrafamentos. Neste gigantesco ''shopping a céu aberto'', esta extensão de São Paulo nas montanhas montada pelo capital, não nos sentimos longe da cidade grande: mini conjuntos comerciais ostentam as marcas de grifes famosas, na hora de tomar um café podemos optar entre um ''Fran's Café'', uma ''Casa do Pão de Queijo'', uma ''Copenhagen''. Fora destes lugares padrão, similares aos de cidades maiores, só nos resta escolher alguma das inúmeras lojas que vendem chocolates locais. O ''fondue''- que não é de nossa preferência alimentar- ali é onipresente, vendido nas suas diferentes formas. Campos do Jordão é uma réplica de cidades sulinas como Gramado e Canela. E estas, por sua vez, são réplicas de cidades européias... A diferença, significativa por sinal, é que a cervejaria ''alemã'' de Campos do Jordão não é alemã, nem foi criada por imigrantes alemãos...Por isto Campos do Jordão é ''fake'', ''réplica das réplicas''. Não quer dizer que seja pior que as cidades gaúchas mencionadas. Passamos bons momentos lá, e pretendemos voltar algum dia. Mas Campos do Jordão não surgiu, embora tenha muitas construções ao ''estilo europeu'', da iniciativa de imigrantes. Todas estas cidades, criadas por imigrantes ou pelo iniciativa do capital, sabem ''vender-se'' muito bem. Descobri em Campos, neste fim-de-semana, que as meias de qualidade que eu comprava em uma loja de um shopping paulistano que já fechou são produzidas ali. E eu pensava que eram importadas...Mas, pelo centro da cidade, podemos encontrar de tudo: pequenas lojas e barracas vendem todo tipo de ''lembrancinhas''- como é tradicional nestes centros turísticos. Somos assediados por todas as espécies de vendedores. A sensação, após dois dias, é a mesma que temos após algumas horas em um shopping center qualquer: de cansaço. Cansaço do barulho, cansaço das ofertas, cansaço da comida mediana comparada à da cidade grande, frustração por um frio prometido que não veio. Voltamos cansados dali, como de qualquer programa feito na cidade grande. Campos do Jordão, este interior reestilizado, ''fake'', esta suposta réplica de cidades sulinas ou vilas européias, deve ''bombar'' ainda mais no próximo feriado de ''Corpus Christi''- invadida mais uma vez por hordas de turistas que apreciam estes ambientes recriados que, francamente, não passam de outras versões de shoppings...Haverá ainda algum lugar, a esta altura, ''espontâneo'', ''legítimo'', não tomado pelo ''fake'', pelo mundo das aparências? Quem quiser procurá-los, que os procure. Conformado, eu visto a roupagem do mundo ''fake''- tão concreto e onipresente como o ar que respiramos...Ainda voltaremos a este assunto...

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