segunda-feira, 19 de maio de 2008

Fugindo do ''fake''???!

A questão que faço é simples: haveria como fugir do ''fake''? A esta altura do campeonato, com a onipresença da imagem, haveria alguém ainda neste mundo que não posasse ante a presença de outros olhos, ou de uma máquina fotográfica ou de uma câmera? Estamos tratando da cada vez mais hipótetica possibilidade de encontrar um ser humano ''puro'', livre do ar ''blasé'' e fingido de todos os que somos tocados pelo universo midiático...Primeiramente, é preciso indagar se já houve alguma sociedade humana não influenciada pela aparência. Ao menos nos últimos 500 anos, temos relatos que mostram toda a força da moda, da roupagem, da imagem. Isto não surgiu hoje, Porém, o advento dos meios de comunicação contemporâneos potencializou estas características do ser humano. Elevou-as ao máximo. Hoje, inconscientemente, todos se comportam não mais como meros assistentes, espectadores. Ostentamos o ar de ''estrelas'' em busca do olhar do próximo. Tudo isto é um universo meio feminino: as mulheres não nos olham de frente, salvo raríssimos casos. Elas passam, e com o canto dos olhos reparam se você está olhando para elas... Hoje há um fato cada vez mais comum, e que transcende a fronteira entre os sexos: nos transformamos, com toda esta mídia, em espectadores ''frouxos'' e desatentos, péssimos ouvintes. Mas, paradoxalmente, estamos cada vez mais carentes de atenção, dependentes dos olhares alheios, carentes de um ''palco''. E estas necessidades sufocadas, não satisfeitas, explodem cada vez mais na forma de comportamentos violentos. Uma pessoa que bebe e sai dirigindo à toda, atropelando diversos pedestres não é bem um exemplo de um ser humano feliz, não é? As ''ilhas'' em que nos transformamos todos- cada um em seu universo particular, na sua casa, no seu carro, no seu condomínio- estas ''ilhas'' estão, no fundo, carentes da mercadoria mais rara da atualidade: a atenção. Os serviços massificados se deterioram, enquanto as coisas personalizadas e individualizadas tem um alto preço. Compare o atendimento de uma empresa de telefonia celular ao de um restaurante de luxo: na primeira vez que precisei de um serviço, após adquirir o meu telefone móvel, fiquei esperando cerca de 30 minutos em uma destas lojas para, ao final, desistir. Enquanto isto, no restaurante, maitre e garçons te cercam de todos os mimos. Detalhe: a atenção dos outros custa caro. A atenção não é a mesma no restaurante 5 estrelas e no McDonald's...Pessoas carentes de atenção lotam os consultórios dos psicanalistas. Entram em lojas, para comprar, seduzidos pela falsa cortesia das vendedoras. Compram, compram e compram. Mas este consumo todo não as satisfaz, talvez apenas por breves instantes. Incrível esta capacidade das mercadorias de nos seduzirem e desencantarem logo a seguir... E continuam, muitos, comprando mais...Mas fujo do tema principal: a pose. Tenho/temos muitos a tentação irresistível de buscar, de observar o ser humano ''como ele é''. Sem a pose. Sem saber que está sendo visto. E é este nosso ''voyerismo''' que sustenta toda a indústria da televisão e da sétima arte. Tal é esta nossa carência, que pagamos cotidianamente para assistir pessoas representando situações da chamada ''vida real''. Mas, ao contrário da maioria, não tenho a menor atração por programas do estilo ''Big Brother'': ali os seres humanos comuns SABEM que estão sendo vistos, e se comportam de forma tão falsa como a dos atores. Interessa-me, neste mundo de representações, a visão de alguém ANTES que esta pessoa se dê conta do nosso olhar, e comece a posar...Isto é dificílimo, principalmente em relação ás mulheres: elas parecem contar com anteninhas, com um estranho ''sexto sentido'' que lhes dá uma visão 360 graus do que está ao redor...Mesmo que não manifestem o menor apreço por quem as observa, e finjam ignorar-nos, elas estão cientes de que estão sendo vistas- e vão computando em suas mentes estes ''pontos'' todos que vão fazendo nos diversos ambientes. O mundo do olhar é o mundo feminino por excelência. As mulheres sempre foram educadas para serem as ''deusas'', as ''belas''. Diga a uma que ela é ''inteligente'', e ela sorrirá amarelo. Agora, diga mesmo a uma vovó que ela é ''linda'', e ela dará um sorriso coquete, sedutor. Por isto, como transitam com naturalidade por todo este universo de cirurgiões plásticos, moda, produtos de beleza/maquiagem, creio que as mulheres sequer sentiram a transição para este mundo ''fake'' em que vivemos. O universo feminino- e o destas réplicas ''fake'' do feminino que são os travestis- há muito transita com familiaridade entre o real e a réplica, a cópia reestilizada. Mulheres compram bolsas no Bom Retiro e depois as exibem ou vendem para suas amigas sem o menor pudor, misturando-as aos produtos ''oficiais''. A moda, em geral, é o universo do feminino, há muito tempo. Se buscarmos uma pessoa não posada, ''real'', teremos de nos mudar para uma distante ilhota do Pacífico, ou embarcamos em uma viagem pelo tempo em direção à Pré-História. A imagem venceu, percebamos este fato ou não, e comanda tudo, onipresente e auto-satisfeita...Como uma Giselle Bündchen...

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