quarta-feira, 29 de abril de 2009

O que há de comum entre Curitiba e o Rio de Janeiro?

Certamente não é o clima... Os 850 km de distância entre as duas capitais marcam também uma diferença climática de quase 15 graus de temperatura, entre um Rio onde é comum chegar-se a quase 40 graus e os ''vinte e poucos'' da capital paranaense...Também não é o sotaque: curitibanos dão ênfase aos finais de palavras com a letra ''e''( ''leitê quentê''), enquanto os cariocas falam com aquele chiado todo( ''maish ou menosh'', ''Vaishco da Gama'', etc.). Enquanto o atual Prefeito da Cidade Maravilhosa tenta aplicar um ''Choque de Ordem'' contra a crônica desordem que caracteriza a capital fluminense, difícil pensar em algo semelhante na bela capital paranaense onde, reconheçamos, a ordem ainda é mais comum que a desordem...O que há de comum entre as duas cidades especiais- que já foram tema de inúmeros posts neste blog- é o barulho...Tanto que este tema foi objeto de duas reportagens distintas nos principais jornais das duas cidades no mesmo dia( domingo, 26 de abril). Segundo ''O Globo'', ''Barulho, o mais democrático problema carioca: moradores de quase todas as regiões da cidade reclamam de ruídos causados por bares, restaurantes e festas''. De acordo com o periódico carioca, ''só no primeiro trimestre de 2009 o serviço de Disque Denúncia recebeu 1131 reclamações relacionadas ao problema- um aumento de cerca de 45%( quarenta e cinco por cento)do número de reclamações no mesmo período do ano passado''. E acrescentou que ''em 2007 e 2008 o barulho ocupou a sexta posição da lista de telefonemas. Os bares e casas noturnas foram apontados como a maior origem deste barulho(27,92%). Em segundo lugar ficou o barulho produzido em residências( 16,67%). Bailes ''funk'' ocuparam a terceira posição''. Prédios vizinhos a favelas são os mais afetados, mas já foram registrados incidentes inclusive no Baixo Leblon, eu acrescento. Mesmo durante o dia é possível ouvir os elevados ruídos provenientes de um daqueles bares a mais de um quarteirão de distância, como constatei em minha última visita ao Rio...O jornal paranaense ''Gazeta do Povo'' dedicou uma página inteira ao tema, sob o título ''Psssiuuuu! Não perturbe!''. O periódico informou que ''trens, ônibus, fábricas, baderneiros, casas noturnas, templos, vizinhos e cachorros são os vilões da cidade quando o assunto é barulho. E em muitos casos não adianta reclamar''. É de impressionar o caso de um morador que afirmou que ''já sei que nos fins-de-semana é impossível dormir dentro de casa por causa do som dos carros que ficam atrás do meu prédio. Uma garotada vira a madrugada fazendo arruaça e obrigando todo mundo a ouvir a sua música'', comenta o corretor de imóveis Jorge Eli de Barros Lima, 48 anos, morador da Vila Guaíra, que já chegou a se mudar de travesseiro e cobertor para dentro do carro. ''Lá eu consigo dormir''. ''Segundo Mário Sérgio Rasera, superintendente de Controle Ambiental da prefeitura( OBS: já é alguma coisa ter um cargo como este, inexistente em outras localidades...), 65% das reclamações recebidas pelo 156 são referentes à poluição sonora(...)Os principais alvos da fúria e reclamação dos moradores são as casas noturnas e os carros de propaganda''. Ainda segundo o ''Gazeta do Povo'', esta quarta-feira será celebrado o Dia Internacional de Conscientização Sobre o Ruído. E em Curitiba serão realizadas ações de alerta sobre as consequências da exposição a ruídos, entre elas um minuto de silêncio entre as 14h25 e 14h26, palestras e triagens auditivas( testes sobre a nossa capacidade auditiva)gratuitas. ''Segundo Rita de Cássia Guimarães Mendes, médica otorrinolaringologista do Hospital das Clínicas, os ruídos já são a segunda causa mais importante da perda auditiva, em decorrência de lesão irreversível do ouvido interno por barulho continuado ou abrupto(...)Estes carros com alto-falantes poderosos chegam a 110 decibéis de potência, igual a uma turbina de avião''. Claro que ocorrências do gênero não são comuns apenas em Curitiba e Rio de Janeiro. Citamos estas cidades pois a situação ali já é tão grave que virou tema de reportagens dos dois principais jornais locais. O problema é comum a metrópoles como Rio e São Paulo, bem como a cidades médias como Brasília, Curitiba e Belo Horizonte. Já ouvi reclamações inclusive de parentes que moram em cidades pequenas, com pouco mais de 50 mil habitantes...Assim como se fala em ''epidemias'' e ''pandemias'' na área da saúde, é preciso reconhecer que estamos diante de uma ''epidemia'' nacional de barulho- que deve ser fiscalizada e combatida por nossas autoridades e pela própria população. Moro em um lugar alto, mais alto do que a média dos apartamentos em que já vivi. No entanto, mesmo em um lugar situado no décimo quinto, décimo sexto andar de um edifício, não é possível passarmos incólumes a sirenes, buzinas, caminhôes, aparelhos de som potentes que abundam em automóveis que percorrem a cidade durante toda a noite. Para dormir, mesmo aqui, é preciso ligar um aparelho de ar condicionado para tentar abafar tudo isto...O que dizer, então, dos moradores vizinhos aos bares da Vila Madalena? Dos vizinhos aos milhares de bares e casas noturnas que abundam na cidade de São Paulo? Dos vizinhos às obras do Metrô? O mais grave, eu diria, é que as pessoas que estão perdendo sua capacidade auditiva ao frequentar determinados ambientes onde a música é tocada a todo volume, ou costumam ouvir os seus Ipod's no volume máximo, ou possuem aparelhos de som nos carros que tocam a toda potência( como ''trios elétricos individuais''), precisam cada vez mais falar berrando umas com as outras- e nem sequer percebem que estão incomodando( e muito)os demais...O barulho é apenas mais um sintoma da desordem pública e social que assola este país, que não será resolvida de uma hora para outra e que, principalmente, depende em especial do comportamento de cada um de nós...Alcnol.

Nenhum comentário: