quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Peça ''esquisita'' no Centro Cultural São Paulo...

Em plena terça-feira à noite, às 21 horas de um dia gelado( com os relógios de rua marcando cerca de 12 graus quando saí de casa rumo ao Centro Cultural São Paulo, na rua Vergueiro), fomos escoltados por um ''guia'' por uma das escadarias do lugar para assistir à peça de teatro ''O que refletem esses pedaços''. O local da peça lembra até uma espécie de ''batcaverna'', uma vez que tivemos de descer longos dois lances de escadas...O cenário é muito simples, em uma espécie de garagem abandonada. Primeira ''esquisitice'': os espectadores, cerca de 7 ontem à noite, são convidados a se dividir em dois grupos distintos, cada um ocupando um lance das arquibancadas...No meio um pano divide os dois ambientes da peça. As duas atrizes, vestidas de branco e parecidas fisicamente uma com a outra( da mesma altura...), são ágeis fisicamente, e dançam e executam frenéticos movimentos ora em um ambiente ora no outro( há uma nudez, mas infelizmente foi ''do outro lado'' da peça...!). O tema? A obra do cineasta Ingmar Bergman...O folheto entregue aos espectadores informa que ''neste processo toda a filmografia do Bergman nos foi essencial, mas alguns filmes serviram diretamente a criar esse espetáculo. Aconselhamos( aos cinéfilos e curiosos)a vê-los ou revê-los...Morangos Silvestres, O Sétimo Selo, A Hora do Lobo, Noites de Circo, Luz de Inverno, Sonata de Outono, Gritos e Sussurros, Fanny e Alexander, Persona...''. A peça, como se pode ver, é incômoda, sombria, ''esquisita''. As duas talentosas atrizes, em uma verdadeira ''prova'' que é mostrar toda aquela garra e amor pela arte para uma reduzida platéia de apenas 7 pessoas em uma gélida noite, chegam a recitar com incrível velocidade aquele complexo texto, mal nos dando tempo de refletir e respirar fundo...''Haverá uma pessoa desconhecida do outro lado da parede, no outro quarto. Uma pessoa que está ali e contudo não está''( ''Imagens'', Ingmar Bergman). A peça, ainda segundo o folheto, mostra ''duas mulheres( ou duas personas de uma mesma mulher) separadas por uma parede( uma tela)transitando entre o sonho e a realidade, reagindo a estímulos provocados pelo outro lado, sem saber o que realmente se passa lá(...)O espetáculo, assim como os filmes de Bergman, convida o espectador para uma viagem de contrastes, estabelecendo oposições como: rosto-máscara, consciente-inconsciente, realidade-aparência, eu-outro, real-imaginário, silêncio-palavra, vida-morte, criança-adulto, interior-exterior. A peça trabalha com estas antíteses que regem a existência humana...''. Uma cena marcante de que me lembro bem foi o de um discurso amoroso em que uma fala todas aquelas coisas que os amantes prometem para o objeto de seu desejo. Ao final do discurso, a outra replica que ''este inferno nos é conhecido. O perigo está nos outros infernos que ainda não conhecemos...''. Colares e contas são atirados ao chão, simbolizando as ''100 mil partes perdidas'' do nosso ser...A marcante e ''estranha'' peça acaba meio que de surpresa, uma vez que não há soluções ''fáceis'' para todos estes problemas colocados, deixando-nos perplexos, sem saber se tudo ainda vai continuar ou se devemos tomar o rumo da saída, subindo os longos dois lances de escada até a entrada do CCSP...OBS: Não consegui voltar para a letra normal após destacar um trecho, por isto TUDO acabou sendo destacado do meio para o final deste texto...Alcnol.

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