quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Cansei de ver filmes brasileiros com locações em favelas...

Antes de mais nada, quero deixar claro que assisti ''Cidade de Deus'', ''Tropa de Elite'' e vários outros filmes brasileiros da escola que poderíamos chamar de ''realista''. No entanto, me diverti muito mais vendo um filme simples, sem maiores complicações, uma comédia romântica com a Bruna Lombardi chamada ''O Signo da Cidade''. Recente pesquisa, publicada nos jornais, mostra que o gênero preferido dos brasileiros é a comédia...Bem ao contrário dos tiroteios, tráfico de drogas e a violência mostrada rotineiramente nos filmes brasileiros...Será que esta ''onda realista'' do cinema nacional é casual? Ou seria motivada por fatores outros que não o puro amor pelo cinema? Sabe-se que o governo, via BNDES, costuma entrar com farto dinheiro como incentivo aos cineastas pátrios. E o atual governo costuma ver com bons olhos o chamado ''discurso social''. O Brasil, no entanto, é muito mais do que o MST e as favelas, me desculpem os adeptos da dita ''objetividade''. Se é para mostrar TUDO o que está acontecendo, por que não fazem também filmes nas cidades do interior onde o agronegócio está se expandindo? Ou nos belos lugares que todas as metrópoles possuem, e não são mostrados minimamente lá fora? A TV acabou ditando um ritmo e um tratamento maniqueístas para todos os demais ramos artísticos. Não saímos, no plano do imaginário, das velhas e surradas polarizações entre ''ricos''( ''malvados, desonestos e corruptos'', capazes das piores ''armações'' para manter os seus ditos ''privilégios'')e os ''pobres''( ''coitadinhos'', sempre ''vítimas'' do sistema e do dinheiro...). Questiono aqui não a necessária representação que mostre ou tente mostrar ''o que está acontecendo''. O que é questionável é a manipulação, de modo a revelar para os olhos do mundo apenas o nosso pior lado...Parece até que querem que o mundo ''engula'' o ''jeito brasileiro'' de fazer filmes...Na Folha de São Paulo de hoje, quarta 24/9, o imperdível colunista Marcelo Coelho entra nesta polêmica seara com um texto intitulado ''Filmar pobre não é pecado''. Mesmo admitindo a contragosto que ''o público parece dar mostras de cansaço diante de tanta gente pobre no cinema brasileiro'', faz uma apaixonada defesa do último filme de Walter Salles: ''Linha de Passe''. Aqui assumo uma posição arriscada. Digo a vocês que não pretendo assistir esta obra, por todos os motivos elencados acima...Sei que muita gente vai achar que sou ''bitolado'', que não tenho a cabeça ''aberta'' para ver coisas diferentes, quando na verdade estou- e o público também- cansado de ver sempre a mesma coisa na maioria destes filmes nacionais...Não, não quero acabar com o cinema brasileiro. Viva o ''Canal Brasil'', onde podemos ver vários tesouros da cinematografia nacional! Mas não pretendo mais, em nome de um suposto ''espírito crítico'' e ''mente aberta'', assistir filmes ruins. Chatos. Certamente, e por todos os bons motivos elencados por Marcelo Coelho, o filme de Walter Salles é uma exceção. Conhecemos o valor de sua obra. Certamente merece ser visto por um público que pague ao menos o custo do filme, e incentive o cineasta a continuar na ativa. Mas eu, e estou falando exclusivamente de minha pessoa, não vi nada nos comentários de imprensa e ''trailers'' mostrados que me motive a ver mais este ''filme sobre favelados''...Sim, porque nem Marcelo Coelho negou que a miséria é o tema principal deste ''Linha de Passe''... A Argentina está mal, economicamente. Nem por isto o cinema argentino perdeu a sua ''leveza'' e capacidade de tratar profundamente temas universais. Quando vou ao cinema, e sei que há um filme argentino, isto representa quase que um ''rótulo de qualidade''. Vou sem receios...No nosso caso, pelo esgotamento de uma temática explorada ''ad nauseum'' pelos cineastas nacionais, há que se pensar duas vezes. ''Nome Próprio'', vou. ''Signo da Cidade'', vou. ''Cidade de Deus'' e ''Tropa de Elite'' são filmes memoráveis, que não me arrependo de ter visto. Agora, mais um filme situado em favelas para aquietar a consciência de seus criadores, estes eu ando dispensando. Afinal, como já disse sabiamente o grande carnavalesco Joãosinho Trinta, ''o povo gosta de luxo. Quem gosta de miséria são os intelectuais''...Alcnol.

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