quarta-feira, 30 de julho de 2008

Os Quatro Compromissos...

Dentre as inúmeras leituras dos últimos meses, gostaria de ressaltar uma em especial. O autor é Don Miguel Ruiz, e os dois pequenos( em tamanho)livros são ''Os quatro compromissos: o livro da filosofia tolteca'' e ''A Voz do Conhecimento''( ambos foram editados pela Best Seller). Embora sejam classificados usualmente como ''auto-ajuda'', tais obras transcendem o significado habitual dado ao termo. Por que não tratados filosóficos condensados? Por que não ''Manuais sobre o bem-viver''? Na introdução destas obras explicam que ''milhares de anos atrás, no Sul do México, os toltecas eram conhecidos como 'homens e mulheres de sabedoria'. Antropólogos se referem a eles como uma nação ou raça, mas na verdade eram cientistas e artistas que se associavam para explorar e conservar a sabedoria espiritual e as práticas dos antigos. Encontraram-se como mestres( nagual)e estudantes em Teotihuacan, a cidade antiga das pirâmides, próxima à Cidade do México, conhecida como o lugar onde o homem ''se torna Deus''. Don Miguel Ruiz é nagual, parte desta tradição. Vejamos, sinteticamente, quais são os quatro compromissos defendidos pelos toltecas: O primeiro, Seja impecável com a palavra. O segundo, Não leve nada para o lado pessoal. O terceiro, Não tire conclusões. E o quarto, Dê sempre o melhor de si. Antes que se pense nestas obras como mais alguns daqueles manuais de conduta tão populares e tão pouco seguidos, o DIFERENCIAL de Don Miguel Ruiz em relação a todos os demais autores é o alerta que ele faz em relação ao extremo valor que damos aos nossos próprios pensamentos...Preocupamo-nos tanto em não sermos invadidos pelas ações, palavras e idéias alheias, que não nos damos conta do grande perigo que representam os ''nossos'' próprios pensamentos( que não são propriamente nossos, mas de nossos pais, professores, patrões, amigos, e muitos mais...). Don Miguel Ruiz, que eu saiba, é o primeiro autor a propor uma total modificação no plano da nossa própria ''história pessoal''. Vejamos alguns trechos interessantes e auto-explicativos, extraídos da obra ''A voz do conhecimento'': ''(...)Posso até dizer , eu 'conheço você', quando a verdade é que não lhe conheço de jeito nenhum. Só conheço a história que criei sobre você. E demorei um tempo até entender que só conheço a história que criei sobre mim mesmo. Durante anos achei que me conhecia, até descobrir que essa não era a verdade. Eu sabia o que acreditava a meu próprio respeito. E então descobri que não sou aquilo que acreditava ser! E foi muito interessante, além de assustador, descobrir que de fato não conheço ninguém, e ninguém tampouco me conhece" ( p.71). Bota ''assustador'' nisto...É incômodo, muito incômodo questionar as próprias certezas. Acreditamos que elas são como os alicerces da construção do nosso ''eu''. Abalados os alicerces, é o nosso maior temor, toda a construção pode vier abaixo. De fato, o grande mérito de Don Ruiz é propor justamente isto...Tanto que ele propõe, como ''Regra número um: NÃO ACREDITE EM SI. Porém, mantenha a mente e o coração abertos. Dê ouvidos a si, ouça sua própria história, mas NÃO ACREDITE NELA, porque agora já sabe que a história que você está escrevendo é ficção. Não é real. Quando ouvir a voz em sua mente, não leve para o lado pessoal. Você sabe que, em geral,o conhecimento lhe está mentindo. Escute, e pergunte se ele estará ou não falando a verdade. Se não acreditar nas próprias mentiras, elas não sobreviverão, e você poderá fazer escolhas melhores, apoiando-se na verdade''( p.97). Isto é profundamente subversivo. Vai contra a idéia mais arraigada em todos os seres humanos: a de que seus pensamentos estão fincados na realidade...Parece ''louco'' negar os próprios pensamentos, não é? Mas não seria uma loucura muito maior crer, sem maiores questionamentos, no que cremos? Neste mundo, mesmo os maiores ''cientistas'' costumam apegar-se às próprias idéias de modo quase religioso...Que dirá o ser humano comum...Prosseguindo com as idéias revolucionárias de Don Miguel Ruiz, vejamos um interessante diálogo que ele teve com seu avô: (...)O resultado de acreditar em mentiras e defender essas mentiras cria o que chamamos de ''mal'', cria o fanatismo. Acreditar em mentiras cria toda a injustiça, toda a violência e a agressão, todo o sofrimento, não só na sociedade, mas também no indivíduo. O universo é tão simples quanto ELE É, OU ELE NÃO É, mas os humanos complicam tudo(...)Miguel, todo o drama que você sofre em sua vida pessoal é o resultado da crença em mentiras, principalmente a respeito de si mesmo. E a primeira mentira em que acredita é que você NÃO É: NÃO É como deveria ser, NÃO É competente, NÃO É perfeito. NÓS NASCEMOS PERFEITOS, CRESCEMOS PERFEITOS E MORREMOS PERFEITOS, PORQUE SÓ EXISTE A PERFEIÇÃO( nosso grifo). Mas a grande mentira é que você não é perfeito, que ninguém é perfeito. Daí você começa a buscar uma IMAGEM de perfeição na qual nunca poderá se converter. Jamais alcançará perfeição naquele grau, pois a imagem é falsa. É mentira, mas você investe sua fé naquela mentira, e depois constrói toda uma infra-estrutura de mentiras para sustentá-la. ''Apesar da vontade de acreditar no que meu avô dizia, minha crença nele foi só fingida. E era tão lógico que eu disse: - ''Ah, sim, vovô, tem razão. Concordo com o senhor''. Mas eu estava mentindo; tinha na cabeça tantas mentiras que não podia aceitar algo tão simples quanto a verdade. Então meu avô me olhou carinhosamente e disse: - ''Miguel, vejo que está tentando muito me impressionar para provar que está à altura. E precisa fazer isto, porque no seu próprio conceito você não está á altura''. Isso doeu! Ele me acertou direitinho. Não sei porque, mas me senti como se ele me tivesse apanhado na mentira. Eu nunca havia percebido que meu avô conhecia minhas inseguranças, sabia da autocrítica e da auto-rejeição, da culpa e da vergonha que eu sentia. Como pôde saber que eu estava fingindo ser o que não era? Vovô estava sorrindo novamente quando me disse: ''- Miguel, tudo o que você aprendeu na escola, tudo o que sabe sobre a vida, isto é só conhecimento. Como você pode saber se o que aprendeu é a verdade ou não? Como pode saber se é verdade o que acredita a respeito de si mesmo? (páginas 32/33/34, trechos selecionados). Voltamos ao que Sócrates afirmou na Grécia Antiga: ''- Eu sei que NADA SEI''...O ponto de partida da jornada em busca da sabedoria é saber que começamos do zero. Aprender é, na verdade, desaprender...Alguns de nós notam isto com o tempo. Ou optamos por ficar presos ao solo, com todo o peso do nosso ''conhecimento'', ou largamos todo o lastro para decolar como balões soltos ao vento...Ouçamos o ''convite'' de Don Miguel Ruiz para todas as pessoas: ''Todos os seres humanos são contadores de histórias, cada um com seu ponto de vista exclusivo. Quando entendemos esse fato já não precisamos impor aos demais nossa própria história, nem defender aquilo em que acreditamos. Em vez disso viramos artistas e, como tal, temos o direito de criar nossa própria arte''(página 40). Os blogs, entre outras coisas, partem dest premissa: a vida não mais como crença, fé, e sim como arte. Fusão de arte e vida, não mais privilégio de uns poucos considerados ''artistas''...Para Don Miguel : ''agora mesmo você está sonhando sua vida. Você percebe não só seu próprio sonho, mas também o sonho do artista supremo refletido em tudo o que você percebe. Você reage e tenta encontrar sentido naquilo que percebe. Tenta explicá-lo de sua própria forma, dependendo do conhecimento armazenado na memória de sua mente. A meu ver, isso é maravilhoso. Você vive na história que está criando, e vive na história que crio. Sua história é sua realidade- uma REALIDADE VIRTUAL QUE SÓ É VERDADEIRA PARA VOCÊ, AQUELE QUE A CRIA( nosso grifo: página 62). Na visão de Don Miguel Ruiz, ''o personagem principal de sua história é você, mas o papel que está interpretando não é você. Por ter passado tanto tempo interpretando o papel você já dominou a interpretação. Tornou-se o melhor ator do mundo, mas posso lhe garantir que você não é aquilo que acredita ser. Graças a Deus, pois posso lhe garantir que você é muito MELHOR( nosso grifo)do que aquilo que acredita ser. Lembro-me quando meu avô me disse: ''- MIGUEL, VOCÊ SÓ SABERÁ O QUE É LIBERDADE QUANDO NÃO PRECISAR SER VOCÊ''( nosso grifo; página 119). À guisa de ''conclusão'', se é que uma bela obra como esta - um verdadeiro livro ''de cabeceira'' pode ter alguma espécie de conclusão, fiquemos com estas duas frases de Don Ruiz: ''Depois que você encontra a si mesmo, encontra o que você realmente é, já não consegue explicar o que é, por falta de palavras para explicá-lo''( uau!)- e ''Se você não percebe o amor, não consegue reconhecê-lo, é porque só reconhece o veneno dentro de si. Sou responsável por aquilo que digo, mas não sou responsável pelo que você entende. Posso lhe dar meu amor, mas você pode interpretar o fato como sinal de que está sendo alvo de julgamento, ou sabe-se mais o quê. SÓ QUEM SABE É O SEU CONTADOR DE HISTÓRIAS. QUEM DEIXA DE ACREDITAR EM SUAS PRÓPRIAS HISTÓRIAS, ACHA BEM MAIS FÁCIL GOSTAR DOS OUTROS''( página 172 ). Ficamos por aqui. Neste momento , nesta hora de reflexão sobre tais idéias, não há mais nada a ser dito. Continuemos lendo Don Miguel Ruiz, e seus belos livros ''Os quatro compromissos'' e ''A Voz do Conhecimento''. Apenas o segundo foi citado neste texto.

Nenhum comentário: