quinta-feira, 24 de abril de 2008

Interpretar, uma eterna brincadeira...

Claro que a respeitabilíssima profissão de ator não se resume a glórias. É constituída de muito trabalho árduo, requer muita habilidade. Mas a impressão que nos dá, também, é que interpretar é muito parecido com o que fazíamos quando éramos crianças: um eterno ''faz-de-conta''. Um dia brincávamos de ''mocinho'' e ''bandido''. No outro, de ''médico'' e ''enfermeira'' ( sem maiores detalhes, por favor! Estou apenas dando um exemplo...). No futebol, eu brincava de ser ''Pelé'', ''Zico'', ''Rivelino'', mas no fundo era apenas outro ''becão'' de várzea...A sensação que os grandes atores nos passam é que tudo aquilo não passa de uma brincadeira. Seres privilegiados estes , que podem ''brincar de faz-de-conta'' infinitas vezes vida afora. Podem ser vilões, mocinhos, ricos, pobres, interpretar toda a vasta malta de seres que compôem esta fugaz existência humana. Por tudo isto, por este ''faz-de-conta'' seguido- e captado por este escriba( me contradigam se estiver falando alguma grande besteira...)- temos a impressão de que os atores não envelhecem. Assisti recentemente uma peça de teatro aqui em São Paulo chamada ''O Homem Inesperado'', com Paulo Goulart e Nicette Bruno. Fala de uma viagem de trem, e das impressões interiores de um grande escritor e uma fã, que reluta em aproximar-se do ídolo. Os dois atores veteranos, casados na vida real, mostram ali não só o amor que tem um pelo outro. Mostram toda a paixão pelo que fazem. É grandioso mas também parece, a nós que estamos observando, uma grande brincadeira...Aqueles cenários de faz-de-conta, cada um dos dois relatando seus pensamentos para a platéia, que ri á vontade, e todos nós fingindo que acreditamos que os dois personagens não podem escutar os seus monólogos interiores ditos em voz alta...Brincalhões estes atores... Minha impressão pessoal sempre foi a de que o cinema, a TV, o teatro são formas de expressão ''inferiores'' á ''GRANDE ARTE'' que é a literatura. Peguemos por exemplo qualquer obra-prima literária, e sua versão cinematográfica será certamente bastante reduzida em comparação ao livro que a gerou. Isto porque o visual geralmente apela para o explícito, em detrimento da imaginação. Porém, isto não tira o mérito destes valorosos seres que escolheram ''brincar'' vida afora, ''fazendo de conta'' que são tantas pessoas. Nós, para falar a verdade, os invejamos...Eles não envelhecem, em comparação aos demais...O tempo parece congelado para estas criaturas...Eles mantém vida afora, até morrer, uma eterna expressão de travessura...Concluindo, o que nos pareceria inicialmente ''inferior'' á ''grande'' literatura, é na verdade, uma outra forma de expressão- que acaba alçando-se a uma altura semelhante ou mesmo maior, em determinados momentos, pelo talento dos maiores integrantes desta trupe de ''farsantes'' e ''brincalhões''...

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