sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Não sabemos mais esperar...

Imaginem uma cultura em que as galinhas fossem expostas a luzes artificiais para botarem seus ovos mais cedo. Em que o gado fosse injetado com hormônios de crescimento, para dar mais lucros. Em que crianças tivessem uma agenda mais carregada do que a de muitos executivos. Em que milhares de novos negócios morressem prematuramente por falta de capital para subsistir. Em que casamentos não passariam de meses, por falta de paciência para uma relação mais duradoura. Isto não é ficção. Esta é a nossa cultura...Andy Warhol disse, uma vez, que no futuro ''todos seriam famosos, ao menos, por 15 minutos''. Ele conseguiu antever o You Tube...Olhamos ao redor, e tudo parece andar cada vez mais rápido. ''A pressa- diz o ditado popular- é inimiga da perfeição''. Todas as atividades, ao seu modo, dependem de uma atitude que se assemelha mais à do plantador, no campo: é preciso arar o solo, plantar as sementes, irrigá-las e, enfim, esperar pacientemente por vários meses até o resultado final( torcendo para que o tempo também colabore...). Bebês levam, em média, 9 meses para nascer. Grandes criadores, ou artistas, todos tiveram algo em comum: as inúmeras ''portas na cara'' que levaram. Seu sofrimento foi modulando o seu trabalho, aperfeiçoand0-o. Ante isto, o que dizer destas ''carinhas novas'' que infestam a mídia todos os dias? Apenas que elas mais parecem ''ter nascido hoje''. E talvez seja isto mesmo...Não plantaram nada. Não sofreram. Não esperaram. E nem sabem. Talvez seja ainda mais grave: nós todos não sabemos mais esperar por nada. Apertamos um botão qualquer, seja do caixa eletrônico ou do celular, buscando um resultado imediato. Quando isto não acontece, amaldiçoamos o mundo. Triste época esta em que projetos são iniciados ou cancelados por causa da ''audiência''. O que quer esta ''audiência''? A Apple teria lançado o Ipod se tivesse consultado a ''audiência''? O que é que esta sabia deste estranho aparelhinho uue hoje alcança a marca de mais de 100 milhões de vendas? Em um mundo de apressados, acelerados, melhor fazer as coisas sem pensar no resultado. Se você vai criar algo, inventar algo, que tenha condições de manter isto custe o que custar, e por quanto tempo for, até atingir a sua meta. Não espere que o seu negócio seja descoberto ''em meses'', que a sua loja caia na boca da mídia por alguma descoberta casual, que o seu restaurante se torne repentinamente o ''queridinho da cidade''. Em tempos de ''facilidades''- mais prometidas do que efetivadas- precisamos voltar a uma visão ''básica'' e meio ''antiquada'': a de que a vida é árdua, cheia de dificuldades, e o que é bom demora muito tempo para acontecer- quando acontece. Deixemos o amor florescer, os bichos terem suas crias no prazo apropriado, os negócios crescerem na hora certa, o sucesso vir quando estivermos todos preparados, a boa forma retornar após meses de alimentação saudável( e não de alguma dieta ''da moda'' ou de uma arriscada lipoaspiração...). Ao contrário do ''mantra'' atual, segundo o qual ''tempo é dinheiro'', tempo continua sendo uma mercadoria abundante. Na nossa vida, se buscarmos de fato o que é mais importante, descobriremos uma vez mais que temos ''todo o tempo do mundo''...

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