terça-feira, 14 de outubro de 2008

Teatro: ''Ménage''...

São Paulo tem destas coisas: peças de teatro que são exibidas apenas às terças e quartas-feiras. É o caso desta ''Ménage''- em curta temporada no Sesc Unidade Provisória da Avenida Paulista entre os dias 07 de outubro e 05 de novembro. Uma das maiores qualidades de uma peça de teatro é fazer pensar. Porém, quando a esta qualidade se junta uma outra- a de deixar-nos em estado de ''suspensão'' e de profundo bem-estar e leveza após o seu final- como se tivéssemos participado de alguma espécie de ''terapia grupal'', podemos assegurar que estamos diante de uma obra-prima...Vivemos para sentir estes poucos momentos de êxtase diante de um filme, de um livro, de uma música ou de um prato de comida bem preparado...''Ménage'' tem a participação das filhas do grande cineasta Luís Sérgio Person, diretor de São Paulo S/A- clássico do cinema nacional dos anos 60. Marina Person, VJ da MTV, na direção, e Domingas Person interpretando os personagens femininos. A peça divide-se em 3 quadros: ''Rex'', de Joe Pintauro( poeta, dramaturgo e roteirista norte-americano nunca montado antes no Brasil), ''Fogo'', primeira parceria entre o ator Ivo Müller e Guilherme Solari- jornalista e autor do blog ''Depressão após cafeína'', e ''Tudo bem''( Sure Thing), de David Ives, dramaturgo norte-americano. Nos 3 atos, uma interessante mostra do universo pequeno-burguês: em ''Rex'' uma ''dondoca'' atropela um pombo com sua Mercedes Benz, e decide preparar o bichinho para o jantar( para escândalo de seu marido vegetariano...); já ''Fogo'' é o retrato de um casal burguês, em que o marido se diverte com os seus inúmeros ''gadgets'' eletrônicos recém-adquiridos, e a mulher compra incontáveis pares de sapato. Enquanto ela pensa em ''apimentar o casamento'', o marido parece muito mais interessado em um laptop que acabou de comprar...O consumo, aqui, é mostrado como possível ''saída'' para a depressão e as crises pequeno-burguesas do casal, mas a vida reserva algumas surpresas...Agora, nenhum quadro é tão bom quanto o terceiro- ''Tudo bem''- em que um homem tenta estabelecer um diálogo com uma garota que está sentada sózinha em um café de livraria. A cada frase mal-elaborada ou mal-proferida por seu pretendente, ela toca uma campainha e o diálogo recomeça do zero...Tem até piadinhas sobre política( ''votei no PSOL''- trimmmm- ''votei no Maluf''- triiiiiiiiiiiiiiimmm- ''moro em Diadema''- triiiiimmmmm- ''não gosto dos filmes do Woody Allen- trrrrrrrrimmmmmm, e até ela leva umas ''gongadas'' quando pergunta se ele é do signo de escorpião...). Belo retrato da incomunicabilidade contemporãnea, e da dificuldade em se estabelecer qualquer tipo de relação entre pessoas igualmente ''exigentes'' ao extremo...Não precisamos ver todas as peças em cartaz nesta cidade. Às vezes, sequer assistimos mais de uma a cada quinzena. Porém, ir ao teatro para assistir uma ''preciosidade'' como esta é mais do que um prazer- é um privilégio...A estrutura do Sesc garante que o espetáculo seja mostrado a um custo acessível- RS$ 12, oo a inteira. Comparando a relação ''custo-benefício'', saímos ganhando disparadamente...Longa vida para esta interessante peça...Alcnol.

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